Educadora conta como começou a ensinar folclore

Bonecão do carnaval originou-se na Europa

sex, 25/01/2008 - 10h26 | Do Portal do Governo

Neide é apaixonada pela cultura brasileira desde a adolescência. Aos 16 anos começou a aprofundar seus conhecimentos sobre artesanato, música e rituais típicos do País, como viola caipira, bumbos e folias.

Tornou-se educadora em 1962, quando abriu o Conservatório Musical e Faculdade de Música na Mooca, zona leste da cidade. Como não encontrava professores para as aulas de folclore, ela própria procurou treinamento: “Fui aluna do professor Rossini Tavares de Lima (discípulo de Mário de Andrade), no Museu do Folclore daquela época”, informa orgulhosa.

De lá para cá, seus estudos lhe renderam livros e discos sobre o folclore. Para vivenciar a cultura brasileira, percorreu o Brasil de norte a sul. Viu de perto o boi-bumbá do Amazonas, cangaceiros e jangadeiros do Nordeste, cantigas de louvação chamadas barraventos, de Minas Gerais, congados mineiros e paulistas e chulas (dança disputa) do sul.  

Ela explica que a inspiração de nossos bonecos gigantes, de até três metros de altura, veio do carnaval renascentista da Europa e chegou aqui pelos colonizadores. As máscaras renascentistas eram as primeiras aparições do adereço estrangeiro no país tropical. “Na ocasião, os cristãos eram proibidos de brincar carnaval, mas camuflavam usando as máscaras”, ensina a folclorista. 

Magia – Segundo Neide, por volta de 1740 surgiram os primeiros bonecos nas festas do Divino Espírito Santo, originários das máscaras. Esse brinquedo, também chamado boneco de saia, se aculturou em festas do Divino e no carnaval de 40 cidades de São Paulo, entre elas Leme, Santana do Parnaíba, Atibaia, Mairiporã e Caçapava.

Em sua opinião, a cultura tradicional é explorada nos meios de comunicação, não só para incentivar o turismo, mas também para a valorização do homem. “O boneco é um elemento mágico e transformador. Quando vestimos sua roupa, ele cria vida”, conceitua a especialista, ao ressaltar que quem pula com o brinquedo extravasa suas emoções e prazer. “Muitos têm vergonha de se soltar no carnaval, mas com o bonecão se desinibe”, aposta.

Diversos alunos dessa turma são “reincidentes”. Tiveram o primeiro contato com a professora Neide no ano passado, no próprio Museu, quando ela promoveu o curso sobre folclore e lendas do Brasil.

A mineira Marly Rodrigues Matano é auxiliar de escritório e veio do Tatuapé, zona leste, aprender a confeccionar os bonecos de saia. Quis participar do curso porque em Minas Gerais era bailarina de uma companhia de dança folclórica. O que mais achou diferente no treinamento é a maneira de armar a base do brinquedo. “Nunca imaginei que um dia desfilaria aqui na cidade. Estou bastante ansiosa”, admitia, enquanto recortava o olho do Toureiro.