O livro que vai e volta

Pesquisa do IPT com amostras da capa e miolo dos impressos demonstrou a possibilidade de reaproveitar o papel

qui, 29/11/2012 - 10h21 | Do Portal do Governo

Quatro milhões de toneladas de papel são reciclados anualmente no Brasil, volume equivalente a 43,5% do total consumido. Este número pode aumentar com o melhor aproveitamento de nichos de materiais, como os livros didáticos usados por alunos de escolas particulares e públicas, principalmente as últimas, nas quais os exemplares são repassados no final de cada série a novos alunos e descartados somente após três anos de uso.

Segundo dados do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), quase 138 milhões de exemplares foram distribuídos em 2011. Considerando as características médias do livro, ou seja, papel-miolo com 75 gramas por metro quadrado, formato de 20,5 x 27,5 centímetros e 200 páginas, um total de 123 mil toneladas de papel, tem potencial para reciclagem. Com base nisso, o Laboratório de Papel e Celulose do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) realizou projeto de pesquisa em amostras do miolo e da capa dos exemplares que mostrou a viabilidade do reaproveitamento do papel em produtos de maior ou menor valor agregado.

A iniciativa propõe preencher lacuna em estudos específicos sobre a reciclagem dos livros didáticos. Grande parte deles é impressa em quatro cores e tem lombada quadrada e miolo fixado com cola de poliuretano. Para um reaproveitamento eficiente, a reciclagem deve promover a remoção dos pigmentos coloridos e da cola a fim de evitar a criação no papel reciclado dos chamados stickies, materiais pegajosos que se depositam sobre o papel e prejudicam o uso e a aparência.

Desafios

Embora reduza o uso de recursos naturais, a reciclagem é um processo mais complexo em comparação à obtenção de fibras virgens. O motivo é que o composto a ser recuperado geralmente é uma mistura de diferentes fontes e tem contaminantes em sua composição. A lista deles inclui corantes, revestimentos, tintas de impressão, laminações e adesivos, além de materiais que acabam sendo misturados durante o ciclo de vida ou coleta, como clipes, arames, elásticos e impurezas.

Para realizar o estudo, o IPT selecionou de modo aleatório livros didáticos de seis editoras. Foram retiradas as lombadas para a obtenção das aparas e evitar o contato com a seção do impresso na qual se encontrava a cola.

Os pesquisadores trabalharam no projeto com dois tipos de amostras. A primeira, formada apenas por aparas do miolo, e a outra, com aparas do miolo e das capas. Os ensaios foram feitos considerando-se dois processos de reciclagem para o estudo, um deles somente da desagregação das amostras e o outro, englobando as operações de cozimento em solução alcalina e retirada da tinta.

A equipe do laboratório utilizou no projeto uma série de equipamentos adquiridos no projeto de modernização do IPT, com destaque para a célula de destintamento por flotação. O equipamento é o principal meio para a reciclagem de materiais impressos, devido à capacidade de retirar partículas que repelem a água.

As características semelhantes das amostras de livros didáticos usadas nos ensaios permitiram a geração de aparas mais homogêneas, o que facilitou os trabalhos de reciclagem. Os processos envolvendo cozimento com solução alcalina e destintamento resultaram em papéis com pouca ou quase nenhuma sujeira. E com alvura equivalente à dos papéis empregados na confecção dos livros didáticos.

Já a reciclagem pelo método de desagregação não trouxe resultados tão positivos. Os papéis obtidos apresentaram alto teor de sujeira, a ponto de impedir a determinação de sua alvura, mas isso não descarta a reutilização: sua aplicação pode ser destinada a produtos como chapas de papelão ondulado e cartões multicamada, que não exigem requisitos de aparência.

Da Agência Imprensa Oficial