Até junho, quem entrava na Escola Estadual Poetisa Cora Coralina, em Rio Grande da Serra, na região do ABC, se espantava com as pichações que cobriam os muros, paredes e salas de aula. Nem mesmo o quadro-negro escapava da fúria dos vândalos. Hoje, os rabiscos começam a dar lugar a desenhos alegres e coloridos. Aos poucos, o grafite recupera a auto-estima de alunos, professores e membros da comunidade. Quase 40 pessoas participam das pinturas, produzidas sempre nos finais de semana. Ao ver a deterioração das instalações, a diretoria convidou o jovem professor de História, Pedro Usai, para coordenar os trabalhos de revitalização. Afinal de contas, a escola tinha sido pintada nas últimas férias, havia pouco mais de quatro meses. Como a Cora Coralina ainda não tem muro nos fundos, o branco de suas paredes foi um convite para os pichadores.
O professor Pedro, então, começou a procurar entre os jovens aqueles que mostravam talento no desenho. Reuniu um grupo de mais ou menos 10 estudantes e também de outros garotos da comunidade, que já conheciam a arte. A diretoria da instituição de ensino liberou verba de R$ 280 para a compra do material.
Mais colorida
“Acredito que já cobrimos cerca de 20% das pichações”, calcula Pedro. Ela imagina que com mais R$ 1 mil será possível tapar toda a sujeira e deixar a Cora Coralina maiscolorida. “Além da beleza, o grafite é a iniciativa mais eficaz contra as pichações e sujeira”, avalia Pedro. Os alunos bons de traço sugerem os desenhos, que são submetidos à apreciação do professor. Aprovado o rascunho, o local é escolhido, pintado de branco com cal (tinta branca), em cima dos rabiscos, e os desenhistas riscam o contorno das imagens com giz de cera. Logo após, outra turma se encarrega de preparar a tinta acrílica branca em várias cores e pega no pincel para preencher os contornos das figuras. O trabalho todo leva semanas, pois só é possível executá-lo aos sábados e domingos. “Falo aos estudantes da importância de zelar pela escola e de todo o patrimônio público”, assegura Pedro.
Educação
A turma pintou dois grandes painéis nas paredes antes sujas. O maior deles, denominado Os Mexicanos, foi o último a ser feito. Levou três finais semanas para ficar pronto. O outro, menor, é uma homenagem à própria escola e foi batizado de Cora, simplesmente. Há ainda um desenho bastante criativo, que retrata os Simpsons, personagens de famoso desenho animado. Outro grafite que chama a atenção foi colorido nas paredes internas de uma sala de aula. O trabalho foi feito a pedido da professora de Português, Tatiana Brito, que arcou com as despesas da compra de material. “Assim que conseguirmos mais recursos, faremos o mesmo nas outras 11 salas”, prevê o professor Pedro. “Depois que desenhamos, cessaram os rabiscos na parede”, alegra-se o mestre, que acha que a pichação deve ser combatida com base na educação: “Nosso trabalho é transformar o vandalismo em arte.”
Otávio Nunes
Da Agência Imprensa Oficial