Andréia Fernandes de Souza, 31 anos
“Eu aprendi a ler aos três anos de idade porque meus pais me alfabetizaram em casa. Depois disso, comecei dar aulas para minhas bonecas e foi crescendo a vontade de ser professora. Minha mãe era professora e meu pai trabalhava na área de engenharia e os dois não me incentivaram. Queriam que eu fosse para o setor mais bem sucedido, vamos dizer assim.
Escolhi a sala de aula. Entrei no magistério e lá uma professora disse: Tudo que vale a pena fazer, vale a pena fazer bem feito. E assim tem sido. É um aprendizado constante.
No meu primeiro dia como professora, fiz uma atividade em que os alunos precisavam correr pelo pátio. Quando terminou o dia sentei junto com eles numa roda para fazer uma avaliação sobre a atividade e uma criança me disse: isso que você fez de pedir pra gente correr no pátio foi muito perigoso. Desde então os observo e escuto o que eles têm a dizer. Desde que comecei a trabalhar com crianças me tornei mais tolerante.
Eu vim para a Cidade Tiradentes quando tinha só 5 anos de idade. Sou da região. Nessa escola estou há 10 anos. Talvez se a escola fosse em um outro bairro, pudesse contar com a família da criança. Aqui não, preciso entender que o trabalho depende mais do meu esforço porque, quase sempre, esses pais não tiveram acesso ao conhecimento no passado. Daí, é preciso ensinar autonomia e mostrar a esses alunos que eles podem ser o que eles quiserem.
Sempre estudei em escola pública, excluindo o período da faculdade. Então, a educação é uma forma de devolver o investimento que a sociedade me deu. Nesses 10 anos, aprendi que cada criança é única e por isso não posso cobrar todas da mesma forma. Para quem escolher isso para a vida, gostaria de dar uma dica que aprendi depois que me tornei educadora: não é porque você gosta de criança que você precisa ser professor. Creio que não dá para sustentar essa escolha se não tiver compromisso com a mudança.”
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Andréia Fernandes de Souza, 31 anos, professora, dá aulas na Escola Estadual Fúlvio Abramo, na Cidade Tiradentes, localizada no extremo leste de São Paulo – uma das áreas com maiores índices de vulnerabilidade social. Ingressou no antigo magistério e hoje faz mestrado na Unifesp. Escreveu três livros e ano passado ganhou o Prêmio Professor Nota Dez, da Fundação Victor Civita.
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Do Portal do Governo do Estado