Doenças alérgicas são subdiagnosticadas

Segundo pesquisa da USP, a incidência de doenças alérgicas é maior do que o que é diagnosticado pelos médicos

qui, 15/02/2007 - 22h00 | Do Portal do Governo

A incidência de doenças alérgicas, como asma, rinite e eczema (dermatite alérgica) na infância é maior do que o que é diagnosticado pelos médicos. Essa é maior conclusão de estudo coordenado por Renata Gontijo Lima de Souza, pediatra do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). A pesquisa, que fez parte da dissertação de mestrado de Renata, foi realizada com 3.312 crianças entre 6 e 7 anos de idade, de 35 escolas públicas da região oeste da cidade de São Paulo.

Pelos resultados obtidos, as prevalências de asma, rinite e eczema mostraram valores elevados – 24,4%, 25,7% e 9,2%, respectivamente – em comparação aos seus diagnósticos médicos: 5,7% de asma, 20% de rinite e 5,7% de eczema. De acordo com a pesquisadora, esses dados sugerem um subdiagnóstico dessas doenças nas crianças.

Renata explica que as doenças alérgicas estão aumentando no mundo inteiro, acometendo cerca de 30% da população. As causas para as oscilações na prevalência têm sido atribuídas, de acordo com os diversos estudos, à poluição, mudanças dietéticas, maior exposição alergênica e às condições de higiene em locais insalubres.

Porém, até um tempo atrás, era difícil estudar o tema de maneira mais detalhada, já que cada país utilizava um método diferente. Em razão disso, foi criado na Austrália, em 1992, um questionário padronizado – o International Study of Asthma and Allergies in Childhood (ISAAC) – e validado em vários países como método de investigação epidemiológica de doenças alérgicas na infância. Em 2002, entre os meses de junho e outubro, esse questionário foi aplicado por Renata em seu projeto.

A região oeste da cidade foi escolhida, segundo Renata, justamente para tentar desmistificar uma teoria existente na área de imunologia, que diz que crianças de baixa renda teriam uma tendência maior a desenvolver doenças infecciosas do que doenças alérgicas. “Um dos pontos mais interessantes da pesquisa é que nosso trabalho discordou dessa hipótese, pois se encontrou uma prevalência muito alta dessas doenças alérgicas nas crianças que entrevistamos”, explica Renata. A pesquisa fez com que a médica sugerisse até o oposto: “acreditamos que essas crianças que pertencem a famílias de baixa renda e moram muitas vezes em condições insalubres estejam mais sujeitas a esse tipo de doença alérgica”, completa.

Desinformação. Segundo Renata, esse é o principal motivo dessa grande diferença encontrada na pesquisa entre a incidência real da doença e os seus diagnósticos médicos. A professora revela que quando perguntado aos pais das crianças se elas haviam tido asma alguma vez, a maioria respondia negativamente: “muitos pais não sabiam o que era asma. Estavam acostumados a levar o filho no pronto-socorro, fazer a inalação e voltar para casa. Segundo eles, os filhos haviam tido uma crise de bronquite, e não asma”.

A asma, assim como a rinite, são doenças crônicas, que não têm cura e, de acordo com a professora, devem receber um acompanhamento regular do ambulatório médico, “o que a maioria dessas crianças não tem o hábito de fazer”. “Na região da periferia, as pessoas, além de não fazerem o acompanhamento adequado, não sabem o diagnóstico e por isso não fazem o tratamento nem o trabalho de prevenção”, afirma.

Ela diz ainda que existe o próprio medo da palavra asma. “Existe um mito de que a asma é uma doença mais grave do que a bronquite e, na maioria dos casos, é um sinônimo”, explica Renata.

A partir desse estudo, a professora acredita que a providência mais urgente a ser adotada é a educação de pais, crianças, professores e médicos. Segundo Renata, essas doenças comuns na infância e que possuem controle devem ser diagnosticadas o quanto antes para que um tratamento seja iniciado, sobretudo com relação às crianças da região oeste: “constatamos que a doença se manifesta de forma mais grave na área que estudamos. Ocorre o que chamamos de promiscuidade das condições de vida, pois são casas simples, que possuem muitas pessoas por ambiente, levando a uma maior exposição aos alérgenos”.

“Tanto em casa quando na escola, os responsáveis devem ficar de atentos. Essa falta de informação tem um preço muito alto, tanto para a qualidade de vida das crianças quanto para o estado, que gasta muito com as sucessivas internações. É preciso diagnosticar e acompanhar sempre essas doenças”, conclui.

Da USP Online

(R.A.)