Docente da USP organiza mostra em homenagem a matemática premiada

Professora do campus de São Carlos é curadora da exposição ‘Maryam Mirzakhani Memorial’, em cartaz até o dia 9 de agosto

qui, 02/08/2018 - 20h36 | Do Portal do Governo

Entre esta quarta-feira (1º) e o próximo dia 9, o Riocentro, na capital fluminense, recebe as atividades do Congresso Internacional de Matemáticos (ICM 2018). Para motivar as mulheres a seguirem carreira na área, a professora Thaís Jordão, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (USP), no campus de São Carlos, promoveu a exposição Maryam Mirzakhani Memorial.

Trata-se de uma homenagem à única mulher a ganhar a “Medalha Fields”, maior honraria da Matemática. A mostra, que conta com a curadoria da docente, foi uma das atrações do Encontro Mundial para Mulheres em Matemática, que ocorre nesta terça-feira (31) no centro de convenções e eventos Riocentro.

“O fator principal é dar maior visibilidade para a primeira mulher na história a receber uma Medalha Fields. Muitos matemáticos, ao prestigiarem a exposição, se identificam com os estágios da vida de Maryam, que aparecem nas peças. O público entende também que, além de uma genialidade, tudo é fruto de muito trabalho e esforço”, explica a professora Thaís Jordão.

Iniciativa

Vale destacar que a exposição é uma iniciativa do Comitê para Mulheres em Matemática, da União Matemática Internacional. A docente da USP foi convidada a participar do projeto porque, em 2017, organizou a exposição “Elas, expressões de matemáticas brasileiras”, uma homenagem a nove profissionais brasileiras da área.

Nos grandes painéis expostos na entrada de um dos auditórios do Riocentro, as imagens e textos sobre a trajetória de Maryam Mirzakhani são um convite à reflexão. Em uma mesa, repousa um livro de condolências, em que os participantes do evento podem deixar uma mensagem para a família da matemática, que morreu no ano passado, depois de lutar contra o câncer.

Para produzir o memorial, a professora trabalhou ao longo de cerca de dois meses, durante os finais de semana, junto com o designer gráfico Rafael Meireles. Nas pesquisas, Thaís Jordão descobriu que foi o irmão que contribui para despertar o encanto da garota pela Matemática.

A docente da USP explica que esse é um aspecto comum na trajetória de vários pesquisadores. “Na verdade, todo e qualquer matemático que eu conheço hoje sempre teve uma pessoa que o motivou, seja através de uma aula ou da apresentação de um resultado”, ressalta.

Talento

Natural de Teerã, no Irã, Maryam Mirzakhani nasceu em maio de 1977 e foi graduada em Matemática pela Universidade de Tecnologia de Sharif, onde o professor Ali Tahzibi também cursou Matemática. Ele estava no terceiro ano da universidade e era monitor da disciplina Análise Complexa, ministrada para os estudantes do primeiro ano. Foi assim que ele conheceu Maryam. “Eu não me esqueço, até hoje, de como ela resolvia os exercícios em sala de aula: sempre encontrava a forma mais breve e mais bela. Um talento extraordinário”, revela o docente.

Ele destaca que a Olimpíada de Matemática é muito popular no Irã e que Maryam Mirzakhani foi a única garota do país a ganhar duas medalhas de ouro. “Maryam dominava inúmeras áreas diferentes da Matemática, o que é muito raro, e conseguiu produzir resultados com impactos em todas elas”, analisa o professor.

Incentivo

Para Ali Tahzibi, ao ganhar a Medalha Fields em 2014, a matemática se tornou um incentivo para meninas de todo o mundo e para as iranianas, em particular, que ainda enfrentam muitas barreiras no mundo acadêmico.

É importante frisar que Maryam Mirzakhani gostava de trabalhar escrevendo sobre grandes folhas papel branco que espalhava pelo chão. A filha da matemática, Anahita Vondrak, quando a via assim, falava: “Mamãe está pintando de novo”. Ao olhar a cena retratada em um dos painéis, Thaís Jordão completa: “Talvez ela realmente estivesse pintando a ciência”.

A exposição ficará em cartaz no Pavilhão 5 do Riocentro até dia 9 de agosto. Em seguida, a ideia é levá-la para outros espaços, estimulando as garotas a seguir carreira na Matemática, fazendo o que Maryam Mirzakhani desejou no momento em que recebeu a “Medalha Fields”. “É uma grande honra. Eu ficarei feliz se isso encorajar mais jovens cientistas mulheres e matemáticas. Tenho certeza de que haverá muito mais mulheres ganhando esse tipo de prêmio nos próximos anos”, afirmou.