Doação de medula óssea ainda é desconhecida da maioria

A leucemia atingiu mais de 470 mil pessoas no Brasil no ano passado,

seg, 02/07/2007 - 20h15 | Do Portal do Governo

A leucemia atingiu mais de 470 mil pessoas no Brasil no ano passado, segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA). Muitas vezes, a única saída para a cura do mal é o transplante de medula óssea – tecido líquido do corpo humano que ocupa a cavidade dos ossos e que é responsável pela produção dos componentes do sangue. Entretanto, as possibilidades de se encontrarem tipos de medulas compatíveis são baixas – no Brasil, as chances são de uma em um milhão. Por isso a necessidade de se estimular a doação de medula óssea, ação que aumenta a quantidade de tipos de medula disponíveis para tratamento e pode ajudar a salvar vidas. Com essa finalidade, alguns hospitais mantêm bancos em que pessoas podem se tornar doadores voluntários de medula óssea.

“A chance de encontrarmos um doador compatível dentro de um banco de doadores voluntários está diretamente relacionada ao número de cadastros. Ou seja: quanto mais doadores cadastrados maior a chance de encontrarmos a medula certa”, afirma a médica Belinda Simões, vice-coordenadora da unidade de Transplante de Medula Óssea do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) da USP.

Para que se realize um transplante de medula é necessário que haja uma total compatibilidade tecidual entre doador e receptor. Caso contrário, a medula será rejeitada. Esta compatibilidade é determinada por um conjunto de genes localizados no cromossomo 6. Com base nas leis de genética, as chances de um indivíduo encontrar um doador ideal entre irmãos (mesmo pai e mesma mãe) é de 35%. Quando não há ninguém na família, a solução é procurar um doador compatível entre os grupos étnicos semelhantes. “E no país, a tarefa de encontrar uma medula ideal é ainda mais difícil, devido à miscigenação do povo brasileiro”, diz Belinda.

Informação

No Brasil, a doação de medula óssea ainda não é muito difundida e a professora acredita que uma das principais causas seja a falta de informação: “existe muita confusão em termos de medula óssea e medula espinhal. E muitas pessoas acabam temendo doar por não saber como se dá o processo”, explica Belinda Simões. A medula espinhal, diferentemente da óssea, é formada de tecido nervoso que ocupa o espaço dentro da coluna vertebral e tem como função transmitir os impulsos nervosos, a partir do cérebro, para todo o corpo.

A professora também cita como uma das dificuldades da doação a falta de recursos financeiros por parte do governo para a realização de exames de compatibilidade: “seria necessário um esforço conjunto em termos de melhores informações e, ao mesmo tempo, remuneração dos exames a serem realizados”, destaca.

A doação da medula óssea é um processo relativamente simples e os riscos para o doador são muito baixos, estando relacionados à um procedimento cirúrgico de pequeno porte. A complicação mais comum, segundo Belinda, é a anemia após a doação: “normalmente repõe-se já o sulfato ferroso antes mesmo da cirurgia, além de ser colhida uma bolsa de sangue do próprio doador para caso ele necessite após o procedimento. Porém a anemia é facilmente tratada após a doação. Esta alteração não impede inclusive doações futuras”, explica.

Ela ainda revela que já é cadastrada no banco de medula óssea há anos: “infelizmente ainda não fui chamada. Acho que não existe nada melhor do que saber que algo que a gente tem e do qual podemos dispor pode salvar uma vida”, conclui.

Da USP Online