Dersa e Instituto de Botânica cuidam da fauna e da flora do Rodoanel

Cinco parques e áreas de reflorestamento compensarão a derrubada de 300 hectares no Trecho Sul

qua, 26/03/2008 - 8h54 | Do Portal do Governo

Apesar de não serem novos Noéis recolhendo exemplares vivos de cada espécie existente no mundo e guardando na arca, os pesquisadores do Instituto de Botânica e do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo executam tarefas semelhantes à narrativa bíblica. No livro de Gênesis, tentava-se evitar a dizimação provocada pelo dilúvio. Aqui, busca-se minimizar o abate da flora e da fauna nativas com a construção do Trecho Sul do Rodoanel. Além do impacto ambiental, a nova via (começa em Embu e chega até Mauá) trará impacto também no arrastado tráfego paulistano. Como dá continuidade ao Trecho Oeste, a expectativa é que diminua significativamente a circulação de caminhões na cidade.

A compensação ambiental, também denominada Programa de Reflorestamento, está sob a responsabilidade da Dersa em parceria com o Instituto de Botânica e o museu, desde o ano passado. De acordo com o programa, 1.016 hectares de vegetação serão plantados para compensar o desmate. A orientação é reflorestar com espécies nativas e com diversidade genética, explica o coordenador da iniciativa, Luiz Mauro Barbosa. “Haverá qualidade e diversidade de pelo menos 80 espécies por hectare, para garantir o equilíbrio dinâmico e fazer a floresta vingar. Na natureza, há entre 100 e 200 indivíduos”.

Para se ter dimensão do impacto da devastação, basta dizer que uma área do tamanho de 300 campos de futebol será desmatada. Dos 300 hectares de vegetação que deixarão de existir, 212 são de grandes árvores (jeribá, peroba-rosa e ipê); o restante é de arbustos e espécies menores. Até agora 93,8 hectares de mata foram cortados. A madeira que sobrou, 17 mil metros cúbicos, foi leiloada e arrematada pelas empresas F. S. Komatsu & Cia. Ltda. e Madeireira Barrinha Ltda. por R$ 209 mil. 

Afugentar animais – Antes de as máquinas chegarem e pôr abaixo a vegetação, cientistas e técnicos se colocam na linha de frente dos canteiros de obras e observam a natureza à procura do maior número possível de exemplares nativos da região. O objetivo é assegurar que a diversidade genética existente na mata a ser devastada seja reproduzida em locais de conservação. As equipes do Jardim Botânico, com quase 40 profissionais das mais diversas especialidades, são responsáveis por identificar, registrar e resgatar as árvores mais significativas.

Eles orientam na coleta de sementes, no plantio de mudas e determinam o que pode ser retirado e o que precisa ser preservado. Até o momento há 6,2 mil exemplares identificados. “Parte do solo, rico em matéria orgânica e que pode ter sementes, está sendo resgatada para o reflorestamento”, informa Barbosa. O pessoal de Zoologia cuida do mapeamento, monitoramento e identificação da fauna. Há ainda um veterinário contratado pela Dersa que afugenta os animais para locais próximos, e captura os bichos doentes ou feridos e os encaminha para centros de tratamento.

Os animais que habitam a faixa do Rodoanel (61,4 quilômetros de extensão por 130 metros de largura em média) terão de buscar novo local para viver. Não é possível resgatá-los e enviá-los a outros pontos da mata, porque haveria competição pelo alimento e muitos morreriam, explica Mario de Vivo, pesquisador do Museu. Vivo diz que todos os animais sofrerão impacto com a diminuição da área de vegetação, em especial, os primatas. Explica que para cada espécie é feito um trabalho diferenciado. No caso das borboletas, por exemplo, são capturadas, marcadas e soltas. 

Espécies raras – “Se não houver aparecimento de núcleos urbanos no entorno do Rodoanel, o impacto será menor, já que parte da fauna migrará para as áreas próximas”, avalia Vivo. Barbosa disse que graças ao serviço de “pente-fino” dos pesquisadores, 70 famílias botânicas foram identificadas. Desse total, 34 são de briófitas (tipos de musgos) e oito de Pteridófitas (samambaia). Sem a coleta, três espécies raras se perderiam (uma orquídea, uma palmeira e uma bromélia), relata Barbosa. Com diferentes graus de ameaça de extinção, foram encontradas em outubro do ano passado pelos botânicos.

Localizada em Embu (Grande São Paulo) e considerada extinta há 40 anos, a bromélia Tillandsia linearis só foi descoberta porque estava em floração. A Catteya loddigesii, uma orquídea rara, está em risco de extinção por causa do extrativismo e perda de hábitat. Também foi salva a palmeira Lytocaryum, cujo diferencial é a cor prateada da folhagem. Essas três plantas raras ficarão no Jardim Botânico.

Para que as plantas salvas sejam devolvidas à natureza, as árvores resgatadas e as sementes coletadas são encaminhadas aos chamados viveiros de espera ou para áreas de preservação em municípios por onde passa o Rodoanel. Cada construtora mantém um viveiro apropriado de plantas. Boa parte será destinada a um dos cinco novos parques; outras serão plantadas em parques existentes ao longo do trecho do Rodoanel, e algumas irão para terras indígenas. 

Milhões de mudas – A falta de mão-de-obra qualificada para o plantio dos três milhões de mudas é um dos grandes problemas do programa, informa Barbosa. “A região tem capacidade média de plantio de 700 a 800 mudas. De agosto a outubro é a época mais intensa de produção de sementes da maioria das espécies”. Por isso, o instituto tem capacitado técnicos, monitores e estagiários dos municípios abrangidos pelo Rodoanel. Até agora, 40 alunos receberam o certificado do curso de Colheita de Sementes e Árvores Nativas, ministrado por técnicos do Botânico. No segundo semestre haverá continuidade até o final da obra, previsto para março de 2010. 

Parques 

A maior parte da área verde (1.016 hectares de florestamento) se concentrará em cinco parques que serão construídos no entorno do Rodoanel. Embu, Itapecerica, Linear (trecho do município de São Paulo), Riacho Grande e Três Divisas são os novos parques que receberão boa parte das mudas. Outros três parques (Pedroso, em Santo André, Fontes do Ipiranga, no Jardim Botânico, e Serra do Mar, no Instituto Florestal) serão enriquecidos com a chegada da vegetação.

Unidades de conservação localizadas em Jaceguava, Itaim, Varginha e Bororó terão compensação ambiental. Duas reservas indígenas (Krukutu e Barragem) próximas à Represa Billings receberão mudas. A tribo indígena de Jaraguá também será recuperada como forma de compensar a destruição ocorrida durante a construção do Trecho Oeste. Cada uma delas terá 100 hectares a mais de área verde. 

 Claudeci Martins

Da Agência Imprensa Oficial