Dante Pazzanese desenvolve aparelho que transmite eletrocardiograma pelo celular

A nova tecnologia, denominada teleeletrocardiograma, beneficia localidades e hospitais que não dispõem de cardiologistas em tempo integral

sex, 11/01/2008 - 15h31 | Do Portal do Governo

Áreas carentes de recursos médicos, em metrópoles como São Paulo e mesmo em pequenas localidades pelo País afora, terão mais chances, em breve, de diagnosticar precocemente e salvar a vida de pacientes cardíacos. É que o Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, da Secretaria da Saúde, em parceria com a Fundação Adib Jatene, desenvolveu um aparelho que possibilita que eletrocardiogramas realizados nessas áreas sejam interpretados imediatamente por médicos de centros especializados.

Denominado tele-ECG (teleeletrocardiograma), o dispositivo requer basicamente sinais de celular para funcionar. Essa é a novidade do aparelho: o emprego de telefonia celular para a transmissão de eletrocardiogramas, que são coletados em pequenos hospitais ou Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e enviados para interpretação em centros especializados. O aparelho também não necessita de energia elétrica, podendo funcionar a bateria.

Hoje, só na cidade de São Paulo, por exemplo, são cerca de 400 UBSs, que normalmente não dispõem de um cardiologista 24 horas para interpretar eletrocardiogramas. Quando o médico dessas unidades constata a necessidade de um exame desse tipo, o procedimento habitual é encaminhar o paciente a um centro especializado – e o laudo pode levar dias ou até semanas para ficar pronto.

Com o novo aparelho, o eletrocardiograma é realizado numa UBS, serviço de emergência ou pequeno hospital e enviado, por telefonia celular, até o servidor (computador central que administra e fornece informações a outros computadores) do Dante Pazzanese. Na instituição, médicos autorizados acessam, via Internet, o exame enviado, interpretam os traçados e encaminham os resultados ao local de origem. Do envio ao recebimento do resultado, o processo não dura mais do que cinco minutos. O laudo, por fim, pode ser impresso pelo próprio tele-ECG e entregue ao paciente.Tecnologia barata – Segundo o médico Leopoldo Piegas, diretor geral do Dante Pazzanese, a transmissão de eletrocardiogramas por computador não é novidade. O que não se conhece é a transmissão via ondas de telefonia celular, no caso GSM – Global System for Móbile Communications ou Sistema Global para Comunicações Móveis. Na transmissão via computador, um dos obstáculos é a necessidade de Internet com banda larga, o que impede que o sistema opere em muitas regiões ou cidades do País.

A vantagem do novo aparelho é que seu sinal pode ser captado e enviado para qualquer lugar do mundo, desde que a região seja servida por telefonia celular. Isso significa que um eletrocardiograma feito em locais remotos da Amazônia, cobertos pela telefonia celular, pode ser enviado pela internet para qualquer lugar do mundo.

O novo aparelho também é importante na realização de exames de rotina, como eletrocardiogramas em pessoas que pretendem iniciar uma atividade física ou em mulheres grávidas. Além de permitir um resultado mais rápido, serve para um diagnóstico precoce de determinados problemas, permitindo um tratamento mais adequado e até salvar a vida do paciente.

O projeto surgiu na instituição há cerca de dois anos. Atualmente, há cinco protótipos em testes: três no Dante Pazzanese, um no Ambulatório Várzea do Carmo (no Glicério, capital) e outro no Hospital Regional Sul (em Interlagos). Na segunda fase do projeto, o objetivo é aumentar, gradativamente, o número de protótipos: mais dez em fevereiro, outros 10 em março, chegando a 40 daqui a três meses. Trata-se de uma tecnologia barata, segundo o diretor do instituto, sem revelar valores.

Celular embutido em teclado

O tele-ECG é composto de um eletrocardiógrafo (aparelho que realiza o eletrocardiograma) acoplado a um teclado especial, ao qual está embutido um sistema GSM, explica o engenheiro Reinaldo Akikubo.

A novidade do dispositivo consiste justamente no sistema de telefonia móvel embutido no teclado. Os sinais captados do paciente pelo eletrocardiógrafo são transferidos para esse teclado, onde também podem ser inseridas informações como nome, idade e medicação em uso. Esse dispositivo transforma todas essas informações de dados em gráficos, de forma a serem transmitidas pelo sistema de celular.

Ao chegar ao servidor, a informação é decodificada, ao mesmo tempo em que se cria um banco de dados do paciente. Esse sistema permitirá que Secretarias de Saúde disponham de dados epidemiológicos que não se têm no País, na área de Cardiologia, informa o médico Faustino França, responsável pelo setor de Eletrocardiografia do Dante Pazzanese e pelos laudos do sistema Tele-ECG.

Pazzanese, qualidade em pesquisa

Além de se dedicar à assistência médica e ao ensino, uma das particularidades do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia é a pesquisa em diversas áreas, inclusive em Bioengenharia, a responsável pelo desenvolvimento do novo aparelho.

Criada no final dos anos 1950, essa unidade já desenvolveu dispositivos e instrumentos para uso em cirurgias cardíacas, como válvulas, desfibriladores (aparelhos que, por meio de dois eletrodos, emite descargas elétricas ao tórax, para reverter quadros de arritmias graves), marca-passos, bombas para circulação extracorpórea, bombas de infusão (aparelho utilizado para infundir líquidos tais como nutrientes ou medicamentos, com controle de fluxo e volume nas vias venosa, arterial ou esofágica), entre outros produtos.

Da Agência Imprensa Oficial