Por trás das lentes

Memorial da Inclusão apresenta trabalhos de fotógrafos cegos

qua, 05/09/2012 - 10h13 | Do Portal do Governo

Como é possível cego fotografar? A pergunta, expressa ou implícita, é recorrente, relatam três fotógrafos com deficiência visual durante Oficina de Fotografia ministrada no Memorial da Inclusão. Por trás das lentes, percepções e sentimentos registram o que o olhar é incapaz de captar, respondem. “Vejo com o coração”, descreve Marco Oton. “Fotografia é questão de sensibilidade. É memória, recorte, arte”, define João Maia. “Cego é capaz de muita coisa, inclusive de fotografar”, conclui Be Moraes.

Os três receberam o desafio de ensinar pessoas que enxergam a fotografar sob supervisão de João Kulcsár, o curador da exposição fotográfica Esportes Paralímpicos na visão da pessoa com deficiência visual, em exibição no local até o dia 18.

Parceria da Secretaria Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência e do Senac São Paulo, a mostra traz imagens cicladas pelos três professores da oficina e por Josias Neto e Maria José, em homenagem às Paralimpíadas de Londres. Todos são ex-alunos do Senac e fizeram a seleção a partir da descrição das imagens feita pelo curador.

As fotografias estão acessíveis às pessoas com deficiência: as imagens são contornadas em alto-relevo, com legenda e texto em braile. Kulcsár destaca que, oito das 12 fotografias, dispõem de recurso tecnológico, o QR Code. Esse sistema permite ao visitante posicionar o celular (com leitor do aplicativo) sobre o código e obter informações da obra e do artista. Para fazer isso, foi gravado um vídeo no Youtube e usado software gratuito do QR Code, disponível na internet.

Além da visão

Com os olhos tapados, os participantes da oficina experimentam registrar imagens externas do Memorial da América Latina. A pessoa com a venda nos olhos recebe orientação do fotógrafo cego e de colega encarregado de ajudar na locomoção, descrever o ambiente para compor a fotografia e depois descrever a imagem retratada. Os professores orientaram os amadores a prestar atenção no enquadramento, sombras, perspectivas, foco e treinar a percepção.

Maia explica o seu modo de trabalho: “Costumo fazer a concepção da imagem na cabeça e fechar com o clique”. Mesmo com tropeços e muita insegurança, o trio encara a tarefa. Com orientação de Bê e apoio de Thiago Lion, Crismere Gadelha consegue captar algumas imagens. “A gente que enxerga não costuma pensar nos outros sentidos que dão orientação”, comenta Crismere.

Thiago se aventura a testar a bengala. “Você ficou descoordenado”, comenta Bê. “Privado de ver, tive de ouvir com clareza, perceber a luz e direcionar meus esforços para os outros sentidos”, diz Thiago. Bê comenta que “aprendeu a enxergar pela fotografia”. Gosta especialmente de fotografar jardins, plantas e rosas “porque duram pouco, mas nas fotos ficarão para sempre”.

Pintar com luz – Outro trio formado por Simone Nieves, Maia e Maria Isabel da Silva registra bandeiras, palmeiras, passos, pessoas e helicóptero sobrevoando. “Como a fotógrafa não estava enxergando, fiquei à vontade para fazer pose”, diz Simone. “A experiência ajuda a reafirmar que nenhuma pessoa pode ser reduzida à sua deficiência”, avalia Maria Isabel.

Depois, aprenderam a técnica Lightpainting (pintura com luz). Numa sala escura, Oton orienta os aprendizes a colocar a câmara fotográfica num tripé, programar exposição mínima de 30 segundos e posicionar o modelo. Assim que começa a contagem do disparo automático, o fotógrafo lança luz no corpo da modelo com uma lanterna de facho intenso. Com outra de calibre menor faz movimentos simulando desenhos (asas de anjo, coração, contorno da imagem). O resultado depende de perícia, imaginação e tentativa e erro, avisa Kulcsár.

SERVIÇO
Memorial da Inclusão
Avenida Auro Soares de Moura Andrade, 564 – Portão 10 do Memorial da América Latina – Barra Funda, São Paulo.
De segunda a sexta-feira, das 10 às 17 horas. Entrada gratuita
Mais informações, no site www.alfabetizacaovisual.com.br

Da Agência Imprensa Oficial