Até o final deste mês, o Museu de Arte Contemporânea (MAC) USP Ibirapuera realiza exposição com 140 obras de Aldo Bonadei, um dos principais artistas plásticos brasileiros. A mostra é uma retrospectiva inédita em comemoração ao centenário de seu nascimento e a entrada é franca. Aldo Bonadei integrou o Grupo Santa Helena, nas décadas de 30 e 40, e realizou pintura de ambientes paulistas, urbanos e suburbanos. Ainda nos anos 40, foi pioneiro na pesquisa da abstração e discutiu, com seu trabalho plástico, os principais problemas formais decorrentes dessa vertente artística, embora não a aderisse frontalmente.
A busca da inovação foi uma constante na vida de Bonadei. Realizou pesquisas de materiais, de meios de expressão artística e das principais tendências que marcaram o projeto estético da época em que viveu. O artista fez reflexões sobre seu próprio trabalho. A vida de Aldo Bonadei foi totalmente dedicada às artes plásticas e seu primeiro contato com a pintura ocorreu aos nove anos de idade, prolongando-se até sua morte, em 1974.
Obsessão pela pintura, até nas caixas de charuto do pai
A professora da Escola de Comunicações e Artes (Eca) da USP, Lisbeth Rebollo Gonçalves, escreveu algumas considerações sobre a vida e obra de Aldo Bonadei. Ela é diretora do MAC e vice-presidente internacional da Associação Internacional de Críticos de Arte (Aica). Disse que nos anos 20 Aldo Bonadei não se contentou com as aulas de Pedro Alexandrino: “Enquanto o mestre da pintura recomendava que ele se concentrasse na prática do desenho, o jovem aluno realizava, às escondidas, pinturas em suportes improvisados, utilizando, inclusive, tampas das caixas de charuto do pai”.
Depois de viajar para a Itália e estudar pintura na Academia de Belas Artes de Florença (1929-1930), passou a integrar o Grupo Santa Helena, aderindo ao ideal de liberdade de pesquisa do grupo. Começou a produzir formas a partir da cor e utilizou a distribuição das cores e linhas para criar volumes e profundidade. Ainda de acordo com a professora, sua pintura – como a dos outros artistas do grupo – apresenta tons baixos e se faz ora ao ar livre, nas zonas suburbanas, ora em trabalho de ateliê. “Mas, como inquieto pesquisador, sente-se atraído pelo efeito de texturas que costuras a máquina podem criar sobre o tecido da tela”, ressalta Lisbeth.
Música e pintura
Bonadei acompanhou o trabalho desenvolvido pela mãe e pelas irmãs, que mantinham uma oficina de costura onde faziam trabalhos de armarinho usando a máquina de costura e fios diferenciados para realizar suas experiências. Produziu paisagens suburbanas e urbanas, revelou uma São Paulo em transformação, pintou naturezas-mortas e fez dessas temáticas campo de reflexão sobre a prática da pintura. Sempre trabalhou os problemas de construção do espaço plástico, além de pesquisar a cor e o valor da pincelada. Noutra vertente, revelou-se um artista singular. Utilizou a expressão simbólica da cor, a pesquisa dos materiais, inclusive sobre a qualidade dos tecidos, e a aplicação de bordados sobre a tela para gerar resultados de textura na composição marcam suas preocupações plásticas.
A diretora do MAC divulgou depoimento do artista publicado em 8 de maio de 1968 no Jornal do Bairro: “Em 1940, fiz uma série de quadros abstratos, baseados em impressões musicais, o que era novidade, na época. A descoberta do espaço musical marcou profundamente minha pintura. A música me mostrou coisas que a realidade não revelava, como um espaço que eu não conhecia oticamente, e me ajudou muito na pintura… Isso me marcou para sempre”.
SERVIÇO
MAC USP Ibirapuera: Pavilhão Ciccillo Matarazzo – 3º piso – prédio da Bienal
Acesso pela rampa lateral do Parque Ibirapuera – Tel. (11) 5573-9932
Site www.macvirtual.usp.br
Até o dia 28 de janeiro
De terça-feira a domingo, das 10 às 18 horas – grátis
Agendamento de visitas monitoradas pelo telefone (11) 3091-3328
Da Agência Imprensa Oficial
(AM)
