Cultura: O Prelúdio das Rosas é o próximo episódio do programa Sinfonia Fina

O programa é realizado pela Secretaria de Estado da Cultura

sáb, 27/01/2007 - 16h59 | Do Portal do Governo

Prelúdio das Rosas. Este é o título do próximo episódio do programa Sinfonia Fina que a TV Cultura exibe neste domingo, 28, a partir das 20h30, focando na obra dos compositores Cartola e Chopin. O programa é realizado pela Secretaria de Estado da Cultura e foi integralmente gravado no Conservatório de Tatuí, com patrocínio da Comgas. A direção é de Guga de Oliveira, a coordenação de Barrinhos Freire e a supervisão musical do maestro Antonio Carlos Neves Campos.

O Sinfonia Fina, em seus dez episódios, une as músicas erudita e popular com um único objetivo: formar novas platéias. Em linguagem jovem e com apresentação de Anelis Assumpção, o programa enfoca, a cada episódio, dois grandes mestres da música sendo um, obrigatoriamente, brasileiro.

Neste domingo, O Prelúdio das Rosas compara a sensibilidade de Cartola e Chopin ao falarem e sentirem o amor de maneira intensa. O polonês Frederic Franciszek Chopin nasceu em uma família abastada e começou a estudar piano muito cedo, ao contrário do carioca Angenor de Oliveira, o Cartola, que nasceu em família pobre e ficou órfão de mãe muito jovem.

O programa traz obras de Chopin apresentadas pela Orquestra Sinfônica Paulista e Big Band SamJazz (Noturno Opus 9 nº 2), Orquestra Sinfônica Paulista (Prelúdio nº 4 para Orquestra) e pela mesma orquestra com solos de Paulo Henrique Almeida em Prelúdio nº 4 para Piano e Valsa Opus 70 nº 1 para Piano. A Orquestra Sinfônica Paulista, com regência de Adriano Machado, também apresenta a famosa As Rosas não Falam, de Cartola, com solo de Rosa Garbim ao trombone. O programa trará, ainda, depoimentos de dona Zica e do próprio Cartola.

Biografias Tanto Cartola quanto Chopin tiveram em suas vidas mudanças na carreira que ocasionaram muito sofrimento durante o processo criativo da música. Nenhum dos dois deixou herdeiros. Compositores frágeis fisicamente, Cartola e Chopin eram detalhistas e passaram por desilusões amorosas.

Chopin era obcecado em vestir-se impecavelmente: roupas de linho branco importado, lenços de seda no pescoço, capas pretas e sobrecasacas encomendadas aos melhores alfaiates da França. Ao lado de seu inegável talento, a saúde frágil, os modos aristocráticos e o comportamento reservado ajudaram-lhe a consolidar a imagem de “gênio esquivo”. Um caso de amor platônico e um romance proibido contribuíram para que Chopin mergulhasse em um estado permanente de melancolia profunda, traço de personalidade que para sempre seria sua marca registrada. Chopin nunca declarou seu amor por Constância Gladkowska. Depois, pediu a mão de Maria Wodzinska, mas a mãe da jovem proibiu-a de casar-se com um “pianistazinho tuberculoso”.

Depois do caso de amor fracassado com Wodzinska, Chopin acabou unindo-se, em 1838, com a controvertida escritora Aurore Dupin, que assinava seus escritos com o pseudônimo masculino de George Sand. Os dois formaram um casal singular. Ele, esquivo e doente. Ela, oito anos mais velha, expansiva, divorciada, dona de uma legião de amantes, escandalizava a sociedade da época por seus livros ousados.

A união tumultuada entre o músico e a escritora foi rompida em 1846, após uma longa sucessão de crises mútuas de ciúmes. Chopin morreu em 17 de outubro de 1849, solitário e endividado, com apenas 39 anos, em seu apartamento em Paris.

O carioca Cartola, considerado um dos maiores compositores da música brasileira de todos os tempos, nasceu Angenor de Oliveira e era chamado de “O Divino”. Aos 11 anos, mudou-se com os pais e os seis irmãos para o morro da Mangueira, onde moraria por mais de quarenta anos. Aprendeu com o pai a tocar cavaquinho, que depois trocaria pelo violão. Como não queria nada com os bancos escolares, foi posto a gerar renda para a família. Então “Agenor”, como era chamado (ele só iria descobrir que era Angenor, e não Agenor, ao oficializar seu casamento com dona Zica, décadas mais tarde) trabalhou primeiro como tipógrafo, depois como pedreiro – o pó de cimento das obras que caía sobre sua cabeça o fez adotar um chapéu-coco que ele chamava de cartola e que lhe valeu o famoso apelido. Mas gostava mesmo era de farra e malandragem, motivo por que acabou por ser expulso de casa pelo pai.

Desamparado, Cartola foi peixeiro, sorveteiro, cavalariço, vendedor de queijos, cambone (auxiliar do pai de santo) de macumba. Mas sempre namorador, beberrão e, acima de tudo, sambista e poeta. Foi o criador da escola de samba na Mangueira e também escolheu as famosas cores verde e rosa. E foi ainda ele o primeiro diretor de harmonia da escola, pondo em prática os conhecimentos musicais que adquirira com Villa-Lobos (usava até diapasão), e revelando-se extremamente exigente com as pastoras. Em matéria de qualidade, Cartola era muito zeloso inclusive consigo próprio: treinou bastante para aprimorar a técnica de violonista e, para melhorar as letras de suas canções, dedicou-se a ler poemas.

A morte de sua primeira mulher, a desilusão com a segunda, e mais a bebida e o desinteresse do mercado pela sua obra quase destruíram Cartola. O que o salvou foram os conselhos de Carlos Cachaça e o amor da terceira e definitiva mulher, Zica. Ela batalhou para reatar o contato do marido com o meio musical ou, pelo menos, arranjar-lhe algum emprego, como aquele da garagem em Ipanema.

Cartola morreu em 1980, enlutando a Mangueira e o país. Na ocasião, a mais bela síntese do sentimento geral foi feita pelo também mangueirense compositor Nélson Sargento: “Cartola não existiu. Foi um sonho que a gente teve…”.

C.A.