Cultura: Exposição retrata a história do Theatro São Pedro

Inaugurado em 1917 o Theatro São Pedro foi construído em estilo eclético, predominantemente neoclássico

qua, 31/01/2007 - 12h54 | Do Portal do Governo

Fotos, documentos, textos, figurinos de montagens de óperas e consulta através de terminais de computador de textos e áudios contam a história do Theatro São Pedro. A mostra Theatro São Pedro – 90 Anos poderá ser visitada gratuitamente de quarta a domingo, entre 14 e 17 horas, até 8 de julho.

Inaugurado em 1917 na esquina das ruas Albuquerque Lins e Barra Funda, o Theatro São Pedro foi construído em estilo eclético, predominantemente neoclássico com detalhes em art nouveau, a pedido do empreendedor português Manoel Fernandes Lopes. O engenheiro responsável pela obra foi o construtor Antônio Villares da Silva, que seguiu as linhas do projeto elaborado pelo arquiteto italiano Augusto Bernadelli Marchesini que residia na cidade e que fora o responsável também pelo projeto do Teatro Oberdan no Brás. O teatro de palco italiano com planta em forma de ferradura (além de platéia, frisas, balcões e camarotes) era recorrente nos teatros planejados para funcionar com programação mista, dado que seu desenho permitia a instalação de telas de projeção.

Concebido para ser um espaço dedicado a operetas, teatro e show de variedades, além de projeções de cinema, o São Pedro alternava, em seus primeiros decênios de atividade, a apresentação de companhias nacionais e estrangeiras, com concertos eruditos e mostras de crianças prodígios. Levou à cena figuras hoje célebres como o ator Leopoldo Fróes.

Cine-teatro do bairro da Barra Funda, a trajetória do São Pedro até os anos 40 é similar a de vários teatros de bairro. Incorporado nos anos 40 ao circuito exibidor das Empresas Reunidas, da Cia Cinematográfica Brasileira e da Metro Goldwin Mayer, o teatro sofre uma reforma e, em poucos anos, passa a ser um elo menor da cadeia de exibição cinematográfica montada no centro de São Paulo.

Com a transformação da cidade e do bairro e a crise da Cinelândia a partir da década de 1960, o cinema São Pedro começa a perder seu público e prestígio, e em 1967 é definitivamente fechado. Se os cine-teatros construídos na mesma época sumiram fisicamente, o São Pedro saiu de cena no final dos anos 60 por abandono.

A partir de 1967 o velho Cine-Teatro São Pedro é ocupado por pessoas e grupos de teatro que questionavam os rumos dados não só à cultura nacional, mas ao próprio país. O pontapé inicial para esta nova fase foi dado pelo grupo Papyrus – liderado pela atriz Lélia Abramo e pela diretora Maria José de Carvalho e integrado pelo ator Marcos de Salles Oliveira, pelo artista plástico Abram Fayvel Hochman e pelo produtor Vicente Amato Filho. Ao anunciar os projetos do novo teatro, com estréia de Macbeth, Salles Oliveira e Amato frisavam o interesse do grupo não apenas em “fazer teatro sério”, mas em combiná-las com filmes, música, conferências e concursos de dramaturgia.

Como o teatro necessitava de reformas, ao locá-lo o Papyrus não pode suportar os elevados custos necessários a sua reestruturação e reaparelhamento.

É em meio a esse processo que o São Pedro é arrendado a novos e notáveis inquilinos, responsáveis pela memória do teatro, ainda hoje, como centro de experimentação artística e resistência política: o casal Beatriz e Maurício Segall e o ator e diretor Fernando Torres.

Após adequações de espaços e reformas dos principais itens técnicos do teatro, o São Pedro reabre no final de outubro de 1968 com uma série de apresentações de música erudita. A programação teatral é iniciada no mês seguinte, com a montagem de “Os Fuzis da Sra.Carrar” (Bertolt Brecht) dirigida por Flávio Império. Durante os ensaios de “Marta Saré” (Gianfrancesco Guarnieri), em dezembro do mesmo ano, o elenco ouve no palco em um rádio de pilha a leitura oficial do Ato Institucional no. 5, que marca o acirramento da repressão e da censura política do regime golpista.

Em 11 de setembro de 1970 uma nova sala de apresentações, cujo foco estava centrado na experimentação e dedicada a pequenos espetáculos, é aberta recebendo o nome de Studio São Pedro. A peça de inauguração, “A Longa Noite de Cristal”, de Oduvaldo Viana Filho, foi contemplada com o Prêmio Molière daquele ano. Nesse mesmo ano é apresentado na sala grande um dos maiores sucessos do decênio, o espetáculo musical “Hair”, dirigido por Ademar Guerra.

Ao Studio, por sua vez, se liga outra característica marcante da ação do São Pedro na década de 70: a recepção e incorporação de artistas e grupos de trabalho provenientes de grupos perseguidos e censurados como os teatros Oficina e Arena (dentre os quais Renato Borghi, Celso Frateschi e Fernando Peixoto). Uma série de peças importantes são encenadas no Studio, para mencionarmos alguns exemplos: “Os Tambores na Noite” (Brecht), “A semana” (Carlos Queiroz Telles), “Frei Caneca” (Carlos Queiroz Telles), “Frank V” (Dürrenmat) e “Calabar” (Chico Buarque e Ruy Guerra) dentre outras.

Apesar das montagens bem sucedidas problemas financeiros e internos ao grupo levam Segall a alugar a grande sala do teatro ao governo do Estado e a desistir de fazer produções próprias no Studio. A partir de 1974, o teatro passa assim a servir também de sede da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, então sob a direção do maestro Eleazar de Carvalho. A São Pedro Produções Artísticas, encerra suas atividades em 1975, ainda que Maurício Segall permaneça na direção do teatro até 1981.

No final dos anos 70, o teatro é sublocado para grupos variados, apresenta ainda algumas peças com Beatriz Segall à frente do elenco, e três montagens marcantes: “Macunaíma” (Mário de Andrade), sob a direção de Antunes Filho, em 1978; “Ópera do Malandro” (Chico Buarque), dirigida por Luis Antônio Martinez Corrêa, em 1979, e a já mencionada “Calabar”, dirigida por Fernando Peixoto, em 1980.

Em 81, tem início nova fase de abandono. Mas, no mesmo ano, o governo estadual inicia o processo de tombamento, concluído em agosto de 1984, quando o edifício do Theatro São Pedro foi tombado pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico) e declarado de utilidade pública para fins de desapropriação.

As obras para sua recuperação, foram encomendadas pela Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, e o projeto foi estruturado em dois eixos básicos: 1) a recuperação do maior número possível de elementos arquitetônicos originais da construção edificada entre 1916 e 1917, e 2) a reforma completa de sua infra-estrutura, com implementação de novos equipamentos cênicos, de conforto acústico, térmico, funcional e de segurança, devidamente integrados ao restauro.

Depois de uma década e meia de gestação, em 24 de março 1998, o novo Theatro São Pedro foi reaberto ao público em uma grande cerimônia, com a presença em peso da classe artística paulistana e de autoridades dos governos municipal, estadual e federal. Em junho de 1999, o projeto de restauração do Teatro São Pedro foi um dos contemplados com a Medalha de Ouro de Arquitetura Teatral da 9ª. Quadrienal de Cenografia, Indumentária e Arquitetura Teatral de Praga.

A inauguração do novo São Pedro no final da década de 90 significou o início de uma nova orientação. O projeto de recuperação do teatro, iniciado nos anos 80, fez parte de um conjunto de intervenções visando a requalificação na área central da cidade. Na cerimônia de abertura do São Pedro a Secretaria do Estado da Cultura, nova proprietária do teatro, anuncia que o mesmo funcionaria como sede provisória da OSESP até a conclusão das obras na Júlio Prestes. A Orquestra inicia a nova programação do teatro no dia seguinte à abertura, apresentando a ópera “La Cenerentola” (A Cinderela), de Rossini.

A saída da Orquestra, em julho de 1999, não altera a direção conferida ao teatro. Nesse mesmo ano apresentam-se no São Pedro, entre outros, a Camerata Fukuda, dirigida por Celso Antunes, e uma versão para marionetes da última ópera de Mozart, nomeada “Flauta Mágica para Crianças”. Em 2000, a orientação operística do teatro é reforçada, confirmando-se tanto com montagens do repertório europeu tradicional, como “O Barbeiro de Sevilha” (Rossini), “As Bodas de Fígaro”,”Don Giovanni” e “A Flauta Mágica” (Mozart), como com inovações brasileiras como “Domitila”, um pequeno monodrama baseado nas cartas trocadas entre Dom Pedro I e a Marquesa de Santos (Domitila de Castro Canto e Melo); “Pedro Malazartes”, uma comédia musical de Camargo Guarnieri com libreto de Mário de Andrade, “Ventriloquist” e uma “pocket opera” dirigida por Gerald Thomas. Ainda no mesmo ano, o São Pedro inicia a série “Sempre aos Domingos”, apresentada de junho a novembro pela Orquestra de Câmara Villa-Lobos.

Estimulada pela experiência anterior, a direção do teatro prepara no ano seguinte uma temporada de óperas pré-definida, com cerca de sete espetáculos em curta temporada, dentre os quais se destaca uma inédita “L’Oca del Cairo”, de Mozart. Também nesse ano, o teatro passa a apresentar espetáculos de dança, com destaque para o espetáculo “Dos a Deux”, de André Curti e Artur Ribeiro, inspirado em “Esperando Godot” (Beckett). No início de 2002 são inaugurados dois novos espaços no São Pedro: em janeiro, a sala Dinorá de Carvalho, de 90 lugares, voltada para recitais e grupos de câmara, e, em maio, o Centro de Memória da Ópera do Theatro São Pedro, constituído a partir do acervo de mais de 6300 peças de figurino doado por Fausto Favale, antigo dono da Casa Temaghi – uma das maiores e mais tradicionais lojas de aluguel de adereços e figurinos para teatro e ópera da cidade, aberta na Avenida Senador Queirós no início dos anos 20.

A predileção pelo repertório operístico de extração e épocas variadas vem sendo reafirmada desde 2004 com a apresentação de montagens de Donizetti, Monteverdi, Bellini, Kurt Weil, Bernstein, Gilbert & Sullivan, M. Nyman, Benjamin Britten e muitos outros.

Da Secretaria da Cultura

C.M.