Cultura entrega Prêmio São Paulo de Literatura

Premiação acontece na próxima segunda-feira, 1, no Museu da Língua Portuguesa

sáb, 29/11/2008 - 18h20 | Do Portal do Governo

Nesta segunda-feira, 1, serão anunciados os dois vencedores agraciados com prêmios no valor de 200 mil reais cada. As categorias são: Melhor Livro do Ano e Melhor Livro do Ano – Autor Estreante. O objetivo do Prêmio São Paulo de Literatura é estimular a prática da leitura e a produção literária no Brasil.

Criado em 2008 pela Secretaria de Estado da Cultura, através da Unidade de Fomento e Difusão de Produção Cultural, o Prêmio São Paulo de Literatura chega ao final de sua primeira edição. Foram inscritos 146 romances de 55 editoras e 19 autores independentes. Dos quais 10 títulos foram selecionados para a fase final:

Finalistas do Prêmio São Paulo de Melhor Livro do Ano:

Antonio – Beatriz Bracher – Editora 34

O sol se põe em São Paulo – Bernardo Carvalho – Editora Companhia das Letras

O filho eterno – Cristovão Tezza – Editora Record

A muralha de Adriano – Menalton Braff – Editora Bertrand Brasil

A copista de Kafka – Wilson Bueno – Editora Planeta

Finalistas do Prêmio São Paulo de Melhor Livro – Autor Estreante:

Lugares que não conheço pessoas que nunca vi – Cecilia Giannetti – Editora Agir 

Desamores – Eduardo Baszczyn – Editora 7 Letras

A chave da casa – Tatiana Salem Levy – Editora Record

Estado vegetativo – Tiago Novaes – Editora Callis

Casa entre vértebras – Wesley Peres – Editora Record

O Prêmio São Paulo de Literatura é composto por um Conselho Curador, Júri Inicial e Júri Final. A Curadoria indica o Júri, composto por professores, críticos literários, escritores e livreiros que elegem os 10 livros finalistas, 5 em cada categoria. Ao Júri Final compete eleger os dois vencedores. O resultado do Prêmio será divulgado dia 1º de dezembro em cerimônia no Museu da Língua Portuguesa.

PRÊMIO SÃO PAULO DE LITERATURA 2008

Finalistas do Prêmio São Paulo de Melhor Livro do Ano:Beatriz Bracher

Antonio

Editora: Editora 34

Antonio é um livro instigante em que a autora constrói personagens ao mesmo tempo únicos e claramente identificáveis em seu contexto social. Romance polifônico. Cada capítulo dá voz a um dos três narradores-personagens. Estrutura engenhosa com narrativas curtas que reconstituem uma pequena epopéia familiar. Desconstrução pungente da classe média alta paulista. “As expectativas contraditórias de Xavier devem ter sido um antinorte, uma desorientação perpétua para seus filhos”. O escritor Rodrigo Lacerda observa que Antonio é uma obra que coloca protagonista e leitores curiosamente, na mesma condição – a de ouvintes emocionados. Personagem principal, na iminência de ser pai, descobre segredo familiar e decide saber dos envolvidos como foi que tudo aconteceu.

Beatriz Bracher, escritora, nasceu em São Paulo – SP. É co-fundadora da Editora 34, onde trabalhou entre 1992 e 2000. Escreveu os livros “Azul e dura” (7 Letras, 2002), “Não falei” (Editora 34, 2004). “Antonio” (Editora 34, 2007) é o seu terceiro romance.

Bernardo Carvalho

O sol se põe em São Paulo

Editora: Companhia das Letras

Romance instigante. Tempos e espaços se entrelaçam numa verdadeira dança de morte. “Para dificultar ainda mais as coisas, depois de mais de dois séculos dedicados às tradições do teatro nô e kyogem, a família do ator tinha sido caluniada numa disputa obscura com gente ligada ao poder”. Obra substanciosa sem fronteiras unindo Osaca de antigamente a São Paulo de hoje, e esta à Tóquio do século XXI. Triângulo amoroso cuja trama se complica e se desdobra em outras mais. Publicitário com veleidades de escritor aceita desafios de octogenária japonesa viajando até o Japão para esclarecer pormenores obscuros de uma história. Tudo numa escrita urbana depurada cerebral. “Resolvi fazer um livro em que seria impossível me reconhecer. Todos são japoneses” – diz o autor.

Bernardo Carvalho, 48 anos, escritor e jornalista, nasceu no Rio de Janeiro – RJ. É autor de nove livros, entre eles “Teatro” (Cia das Letras, 1998), “Nove noites” (Cia das Letras, 2002) – vencedor do Prêmio Portugal Telecom – e “Mongólia” (Cia das Letras, 2003). Já foi traduzido em mais de 15 países.

Cristovão Tezza

O filho eterno

Editora: Record

Texto desconcertante de um pai-narrador cujo filho nasceu com a Síndrome de Dawn. Romance todo ele provido de momentos verdadeiramente sóbrios, sinceros, sem comportar ilusões. Autor esbarra jamais no exagero sentimental. Ao criar o narrador do livro e fazendo do pai personagem, o autor, ele mesmo progenitor de filho excepcional, conquista uma independência ímpar. “Talvez ele, como algumas mulheres no choque do parto, não queira o filho que tem, mas a idéia é apenas uma sombra”. O filho eterno é uma reflexão sobre a paternidade. Literatura arrebatadora. “Comecei a projetar mentalmente esse livro como ensaio, mas bastou escrever a primeira página para sentir que seria impossível. Tinha de ser uma ficção” – diz Cristovão Tezza, o autor.

Cristovão Tezza, 56 anos, escritor e professor, nasceu em Lages-PR. É autor de 13 livros, entre romances e contos. Recebeu, pelo livro “O fotógrafo” (Rocco, 2004), o Prêmio da Academia Brasileira de Letras, em 2005. “O filho eterno” (Record, 2007) venceu este ano os prêmios Jabuti (Melhor Romance), APCA, Portugal Telecom e Bravo!.

Menalton Braff

A muralha de Adriano

Editora: Bertrand Brasil

Este instigante romance é uma alegoria de todas as muralhas que o homem constrói para isolar e isolar-se. Narrada com maestria e apuro literário, temos aqui uma história familiar feita de ciúme, ambição e coragem. “O romance é a expressão do mundo globalizado, quando se constróem muralhas mais do que em qualquer outra época” – diz Menalton Braff. Sim: o casal de protagonistas, por exemplo, precisa ultrapassar imensas muralhas de preconceito se quiser juntar-se. Este romance irrepreensível sinaliza que o homem moderno não somente se protege do outro, mas também passou a se defender de si e de seus familiares. “O mundo me voltava de longe e lento. Ainda não era o estado de vigília, mas já tinha deixado de ter o vôo leve de um sonho”.

Menalton Braff, 70 anos, escritor e professor, nasceu em Taquara-RS. Vencedor do Prêmio Jabuti 2000, com o livro “À sombra do cipreste” (Palavra Mágica, 1999). É autor de 13 livros, entre eles “A coleira no pescoço” (Bertrand Brasil, 2006) e “Castelos de papel” (Nova Fronteira, 2002). Atualmente, leciona em Serrana, interior de São Paulo.

 

Wilson Bueno

A copista de Kafka

Editora: Planeta

Livro em que autor introduz novidade no mundo do romance. Misturando fato e ficção, Wilson Bueno cria com viveza de imaginação uma história composta de pequenos textos trazendo à tona personagens dentro de uma atmosfera ficcional intrinsecamente kafkiana. “É um mergulho nos fantasmas do século XX e nos proporciona um texto envolvente cuja leitura se tem pena de interromper” – diz Boris Schnaider. Felice Bauer narra sua relação com Franz Kafka e seu trabalho profissional como copista do autor tcheco. Esta obra é – segundo o próprio autor – um romance diário-epistolar, onde toda a história é construída a partir de depoimentos existentes nos diários dela Felice. Trecho a trecho, o livro vai sendo arquitetado, de modo a transmitir uma trajetória existencial, com requintes de detalhes, factuais, da vida do escritor tcheco.

Wilson Bueno, 37 anos, escritor e jornalista, nasceu em Jaguapitã-PR. Foi criador e editor do suplemento de idéias Nicolau, em Curitiba-PR. É autor de 13 livros, entre eles os romances “Amar-te a ti mesmo nem sei se com carícias” (Planeta, 2004), “Jardim zoológico” (Iluminuras, 1999) e “Mar Paraguayo” (Iluminuras, 1992).

Finalistas do Prêmio São Paulo de Melhor Livro – Autor Estreante:

Cecília Giannetti

Lugares que não conheço, pessoas que nunca vi

Editora: Agir

Este livro é um exercício de vanguarda, incomum, ácido e entrecortado. “A autora – diz Alessandro Buzo – encaminha o leitor a um emaranhado de ficção e realidade.” Pessoas, fatos, lugares são revelados numa escrita fragmentada. A cada página lida, se tem a sensação de desconstrução das coisas que estão ao redor. Aqui temos um Rio de Janeiro pintado com tintas expressionistas. “Costumava viver atracada a um excesso de cuidados que, se fossem deixados de lado, sua ausência faria dela uma criatura suspensa. Ela deixaria de estar aqui ou ali, perderia arquivo e história.” Repórter de TV presencia cena de violência extrema, entra em vertigem alucinatória vendo o mundo ao seu redor como se o desconhecesse. Romance vibrante.

Cecília Giannetti, 32 anos, jornalista e escritora, nasceu no Rio de Janeiro – RJ. Antes do seu primeiro romance, “Lugares que não conheço, pessoas que nunca vi”, participou de diversas antologias, publicadas pelas editoras Record, Ediouro e Casa da Palavra. É editora do Portal Literal.

Eduardo Baszczyn

Desamores

Editora: 7 Letras

Autor constrói com simplicidade calculada, inteligente, três dimensões de um amor. “Daqui de cima, posso ver quase toda a cidade. São Paulo se acende aos poucos. Primeiro, os faróis dos carros, as luzes de mercúrio das ruas, os letreiros coloridos. Depois, apartamento por apartamento, casa por casa, bem devagar.” Eis o começo de um romance que segundo Fabricio Carpinejar é uma história de amor assombrada por letras da banda “The Smiths”, por uma São Paulo garoenta e pela sensação abrupta de que o relacionamento deveria ser mais terno do que eterno. Texto autêntico. Sem rebuscamentos linguísticos, o autor exprime-se com objetividade e precisão. “Seu rosto bem perto do meu e o barulho da chuva, batendo no telhado e caindo no chão da varanda daquela casa de praia”.

Eduardo Baszczyn, 28 anos, jornalista e escritor, nasceu em São Paulo – SP. É um dos autores da revista literária “Puçanga”. “Desamores” (7 Letras, 2007) foi finalista do Prêmio Sesc de Literatura, em 2004, antes de ser editado.

Tatiana Salem Levy

A chave de casa

Editora: Record

Competência narrativa, apelo sensorial, alto sentido de humanidade. Autora entretece todas essas qualidades para criar histórias que se complementam num tom de densa estranheza. “Escrevo com as mãos atadas. Na concretude imóvel do meu quarto, de onde não saio há longo tempo. Escrevo sem poder escrever e: por isso escrevo”. Assim começa este romance fortíssimo belo brutal cujas dores são exploradas nos extremos do lirismo e da crueldade. Nada aqui é incoerente ou indispensável. “Salem Levy concebeu um painel que sintetiza na voz da narradora e nas vozes que ela cria e torna suas, confundindo-se com ela: um recurso hábil, que lhe permite lidar de modo desenvolto com as diferentes personagens e camadas de espaço e tempo” – diz o poeta Moacir Amâncio.

Tatiana Salem Levy, 29 anos, escritora, nasceu em Lisboa, Portugal. “A chave de casa” (Record, 2007), inaugurou a Coleção Sabiá dos Livros Cotovia, editora Portuguesa, para divulgação de autores brasileiros da contemporaneidade.

Tiago Novaes

Estado vegetativo

Editora: Callis

Obra de enorme vitalidade. Detetive particular em coma recapitula fatos que o confinaram nessa paisagem interior na qual narra o romance. “A pior condenação não é estar destinado a sempre olhar no espelho, todas as manhãs, a mesma fisionomia. A azeda sina de todo homem é que ele está sempre, por mais que evite ou minta, falando de si mesmo”. Com soberbo domínio da palavra, Tiago Novaes faz o leitor perceber claramente que o narrador tem uma densidade que o iguala aos escritores cujas mortes investiga. “Falo sobre a nossa incapacidade em elaborar a morte. Sobre a banalização da violência e sua estilização. O detetive se assemelha ao próprio escritor que, desencantado, anti-quixotesco, embarca num mundo estilizado” – afirma Novaes.

Tiago Novaes, 28 anos, psicanalista, escritor e tradutor. Autor do livro de contos “Subitamente: agora” (7 Letras, 2004), Idealizou e organizou o evento “Tertúlia 2005: o curso da literatura”.

Wesley Peres

Casa entre vértebras

Editora: Record

Estamos diante de um romancista que corre parelha com ela Clarice Lispector, pois, aqui também, a consciência individual ocupa o primeiro plano. Casa entre vértebras é um romance-mosaico cujo narrador anda à procura de alguma forma de salvação. “Estou entre pessoas e desconheço o que isso seja. Ontem, sonhei um provérbio húngaro: morrer é a residência mais segura. Vivo também desses sonhos.” Texto inquietante construído à base de uma prosa poética vigorosa. “Penso que o livro é uma história de amor narrada por um homem que tenta se enviar para Ana em palavras, a fim de suspender a atmosfera ao mesmo tempo claustrofóbica e agorafóbica, e narcísica, e paranóica – enfim, atmosfera adjetivada por tudo que há de mais perturbador nessa coisa chamada homem” – diz Wesley Peres.      

Wesley Peres, 31 anos, escritor e psicanalista, nasceu em Goiânia-GO. É autor dos livros “Palimpsestos” (Editora da UFG, 2007), “Rio revoando” (USP/COM-ARTE, 2003) e “Água Anônima”. Seu romance “Casa entre vértebras” (Record) venceu, em 2007, o Prêmio Sesc de Literatura.

Da Secretaria da Cultura

(M.G)