CPTM descobre sítios arqueológicos e resgata valor histórico da zona leste

Equipe de arqueólogos percorreu e perfurou 38 km da linha F

sex, 15/06/2007 - 8h00 | Do Portal do Governo

Escavações em São Miguel Paulista, na zona leste da capital, revelam sítio arqueológico de elevado valor histórico. O trabalho, obrigatório sempre que há intervenção no solo, foi encomendado pela Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), para licenciar suas futuras obras de melhoria na linha F (Brás-Calmon Viana). Equipe de profissionais de um escritório de arqueologia, contratados pela companhia, encontraram pedaços de peças e utensílios usados há mais cem anos.

“A análise inclui estudos arqueológicos para avaliar e propor soluções que reduzam eventuais impactos ao meio ambiente natural e cultural resultantes da reforma da linha F”, explica o arqueólogo Paulo Zanettini, da USP, coordenador das intervenções no local. A fiscalização dos trabalhos é responsabilidade do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), do Ministério da Cultura.

A equipe de Zanettini, de oito pessoas, atuou no programa de prospecção e documentação do patrimônio arqueológico, histórico e cultural da linha F, de junho de 2006 até os primeiros meses deste ano. O grupo percorreu e perfurou o eixo de 38 quilômetrosde extensão do trecho de vias da CPTM, orientado por farta documentação histórica e fontes cartográficas.

Pedaços do passado – Recolheu restos de alicerces de casas e de áreas de serviço, e de vestígios do cotidiano – resíduos de lixo, para dedução dos hábitos de alimentação e saúde dos antigos moradores. Esses itens, encontrados a cerca de 200 m da futura estação USP-Leste da CPTM, pertenciam à Casa do Ferroviário, construída entre 1920 e 1930.

“Julgamos essa área importante ponto de preservação arqueológica. As amostras que recolhemos do trabalhador ferroviário são úteis para conhecermos aspectos dessa comunidade que não estão registrados na história”, explica Zanettini.

Em outro lugar, a 100 m da Igreja de São Miguel Paulista, detectaram utensílios dos séculos 18 e 19: potes de barro, panelas, materiais de construção, garrafas, louças nacionais e estrangeiras. As imediações desse local são interceptadas pela faixa da linha F.

Trilhos do progresso – “A ferrovia é um marco importante e registra quase 150 anos de história. Os trilhos ajudaram a construir a zona leste paulistana e o eixo de ligação para grandes capitais (SP–RJ)”, destaca o arqueólogo. Diz que os trens, que começaram a funcionar no século 19, mudaram a estrutura da metrópole.

De acordo com publicação do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat), a igreja de São Miguel localiza-se em terras da antiga aldeia indígena de El-Rei de São Miguel de Ururaí, administrada pelos jesuítas nos séculos 16 e 17.

A primeira capela, construída por volta de 1580, foi substituída pela atual, em 1622. O edifício alpendrado com madeiramento aparente apresenta técnica construtiva em taipa de pilão. No seu interior, há peças de jacarandá torneadas. “Não esgotamos os estudos. Indicamos à CPTM que os locais merecem outras pesquisas arqueológicas futuramente”, informa Zanettini.

Embora próximos da faixa de domínio da ferrovia, os perímetros dos dois sítios arqueológicos estão a salvo de qualquer impacto decorrente das obras de modernização da linha.  A CPTM mantém os terrenos (São Miguel – 4 mil metros quadrados e USP-Leste – 5 mil metros quadrados) demarcados com postes de concreto, arame liso e placas de sinalização, conforme a legislação determina. Os dois locais estão registrados no Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos do Iphan.

O responsável pelo setor de Meio Ambiente da Diretoria de Engenharia e Obras da companhia, José Heitor Amaral Gurgel, diz que orienta o pessoal da manutenção a cortar o capim dos dois terrenos manualmente, sem uso de máquinas, para preservá-los. Os funcionários são informados da importância histórica dos sítios arqueológicos.

A legislação de preservação e licenciamento ambiental exige que a CPTM divulgue os resultados da pesquisa. Ao custo de R$ 150 mil, em meados de setembro, a empresa promoverá mostra itinerante que percorrerá as 10 estações da linha F. Gurgel informa que será contratado (por licitação) um historiador para organizar as informações e elaborar o trabalho.

O intuito da exposição é apresentar ao público a importância da ferrovia para a zona leste da cidade, com destaque para sua ocupação e história. Gurgel adianta que a organização não-governamental Fórum de Cultura de São Miguel será parceira da iniciativa. “Os usuários da CPTM não sabem da cultura que existe na região”, sustenta o arquiteto.

Mais obras – Na linha F, a CPTM prevê várias obras em quatro anos, com investimento de R$ 221 milhões este ano e R$ 1,2 bilhão até 2010. As reformas propiciarão melhores condições de acesso, conforto e segurança aos passageiros e reduzirão os intervalos entre os trens de 10 para 6 minutos nos horários de picos.

A companhia planeja outras intervenções em todas as suas linhas. Ainda nesse ano, pretende iniciar reformas nas linhas A, B, D, E que totalizam 270 quilômetrosde via. “Seguiremos a exigência de contratar profissionais para a prospecção arqueológica em todas essas linhas antes de iniciar as obras”, informa o arquiteto Gurgel.

Viviane Gomes

Da Agência Imprensa Oficial