Conservação da fauna silvestre encerra série de eventos sobre saúde e biodiversidade

Encontros promovidos pelo Governo do Estado reuniram debatedores para abordar relação da saúde humana com a animal

sáb, 27/06/2020 - 8h31 | Do Portal do Governo
DownloadDivulgação/Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente

A Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado (SIMA), por meio da Coordenadoria de Fiscalização e Biodiversidade (CFB), encerrou nesta semana a série de videoconferências que debateu o tema Saúde Única (one health) no contexto da pandemia causada pela novo coronavírus.

O terceiro encontro do evento, denominado “Saúde e Biodiversidade”, abordou assuntos como integração de risco de doenças no planejamento de conservação da fauna silvestre; monitoramento de doenças em aves migratórias; caça e consumo de animais e o risco de novas pandemias; e consumo de javalis e zoonoses.

“Com a eclosão da pandemia de COVID-19, o planeta está mais atento à necessidade de garantia da biodiversidade como condição essencial para a preservação da saúde humana”, afirmou o subsecretário de Meio Ambiente da SIMA, Eduardo Trani. “Do ponto de vista do estado de São Paulo, temos 102 Unidades de Conservação, geridas pela Fundação Florestal, Instituto Florestal e Instituto de Botânica, que preservam 22% do território paulista, de modo que nestas regiões é importante termos cautela na relação humano-fauna”, explicou.

Ecossistemas

Na abertura do evento, o diretor-presidente da Fundação Parque Zoológico de SP, Paulo Magalhães Bressan, destacou que o desequilíbrio de ecossistemas influi na saúde humana. “Estamos atravessando uma pandemia de coronavírus, assim como enfrentamos no passado outros desafios como a dengue, leptospirose, chicungunha e febre amarela. Tudo em decorrência das questões de desequilíbrio de ecossistemas. Mas é preciso deixar claro que não são os animais ou vetores que estão invadindo as franjas urbanas. Ou tomamos providências ou novas epidemias virão”, disse.

O diretor-executivo da Fundação Florestal, Rodrigo Levkovicz, alertou para o aumento da caça nas Unidades de Conservação paulistas e as parcerias com a CFB e Polícia Militar Ambiental no combate a este crime. “Além disso, temos aprovação de projetos, como o da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo [Fapesp], para estudos sobre a febre amarela, a parceria com a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado para controle de javaporcos e a resolução aprovada pela SIMA para criação de corredores ecológico”, pontuou.

A médica-veterinária e professora da Universidade Federal da Paraíba e IUCN SSC Centro de Sobrevivência de Espécies Brasil, Fabiana Lopes Rocha, abordou o tema “Integrando o risco de doenças no planejamento de conservação da fauna silvestre”. Ela enfatizou que a conservação da biodiversidade depende da saúde das populações selvagens.

“Mas as doenças da vida selvagem costumam ser difíceis de prevenir, de detectar e de controlar, principalmente porque elas são pouco investigadas, comparadas às doenças humanas ou de animais de produção”, destacou.

No entanto, conforme explicou, algumas doenças são amplamente reconhecidas quando ameaçam a biodiversidade, principalmente quando causam declínios populacionais. Por exemplo, a quitridiomicose, causada por fungo e descoberta nos anos 1980, atualmente é responsável pelo declínio de 501 espécies de anfíbios no mundo, com 90 delas extintas ou presumidamente extintas na natureza. A enfermidade é considerada uma panzoonose, estando presente em 60 países.

Manejo

No Brasil, entre os principais gargalos está a ausência de vigilância ativa para monitorar a fauna silvestre. O desafio é investigar a saúde dos animais em áreas alteradas, incorporar o conceito de saúde única, formar profissionais de manejo de fauna e de doenças, lutar pela conservação do meio ambiente e adotar o consumo responsável.

Durante o encontro, a médica-veterinária Camila Lugarini, pesquisadora do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres/ICMBio, falou sobre a importância do monitoramento de doenças em aves migratórias. “Hoje, temos 1.919 aves no território brasileiro, o terceiro mais diverso no mundo, e é fundamental analisar a relação delas com os patógenos”, enfatizou.

Ministraram palestra na reunião Hugo Fernandes Ferreira, da Universidade Estadual do Ceará, que abordou o tema Caça e Consumo de Animais Silvestres e o Risco de Novas Pandemias; e Virgínia Santiago Silva, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Suínos e Aves, que falou sobre o consumo de javalis e zoonoses. O coordenador da CFB, Sérgio Marçon, também participou do evento.