O laudo elaborado pelo JBA Engenharia que serviu de base para todas as reportagens sobre a qualidade do concreto usado na construção da Linha 4 do Metrô contém uma informação relevante e pouco conhecida.
O item 5.2, intitulado “Qualidade do Concreto”, diz: “Apesar dos resultados estarem satisfatórios vale colocar algumas considerações”. Pode-se dizer que até agora todos os questionamentos tratavam de algumas “considerações” – mas não abordavam os “resultados satisfatórios”, o que deu um caráter parcial às discussões.
O engenheiro Leônidas Alvarez Neto, diretor presidente da JBA Engenharia, que assina o laudo, esteve na semana passada na Assembléia Legislativa depondo para uma comissão de deputados.
Ao tratar da tragédia na futura estação Pinheiros, Alvarez fez uma consideração relevante: descartou toda possibilidade do acidente ter relação com a qualidade do concreto. “As não-conformidades encontradas nas obras estão dentro das estatísticas, e todas foram notificadas ao consórcio para a correção dos problemas”, disse o engenheiro aos deputados.
A leitura do laudo da JBA mostra que foram percebidos problemas no concreto provisório. Os obstáculos apontados diziam respeito à forma de colocação do concreto. Durante os primeiros meses da obra, empregou-se o método de aplicação de concreto chamado “a seco”, que prevê a mistura entre o cimento, pedra e água ainda na mangueira, minutos antes da aplicação.
Por fim, o Consórcio decidiu trocar o modelo “a seco” pelo método “úmido”, cujo concreto é transportado por um caminhão e chega ao local já pronto para ser aplicado. Desde então, com a mudança de estratégia não foram mais registrados problemas relacionados ao concreto provisório, que tem vida útil de três a cinco dias.
Já o concreto definitivo (estrutural), que deve durar até cem anos, não apresentou problemas sérios.
O laudo destaca também que a quantidade de testes realizados pelo consórcio era muito inferior ao estipulado. Em alguns casos, deveriam ocorrer uma centena de testes – mas não foram realizados mais do 15. As medições realizadas, porém, indicaram que o concreto estava dentro dos padrões exigidos pelo contrato e até um pouco superior aos níveis usados em outras linhas do Metrô.
Índice
O padrão de segurança do concreto é medido por uma unidade chamada Mega Pascal, que avalia a resistência e compressão do material. Quanto mais alto esse padrão, mais seguro é o concreto. Na linha 4, o nível exigido é 25 Mega Pascal (MPa). Nas linhas 1 e 3 do próprio Metrô, construídas na década de 80, o padrão ficava em 18 MPa. Isso quer dizer que, mesmo se um teste apontasse que o concreto aplicado era de qualidade inferior à exigida, em torno de 20MPa, por exemplo, sua segurança era maior que a de outras linhas do Metrô. Países como Áustria e Noruega utilizam em média 35 MPa. Outro detalhe é que o índice usado no Metrô de Tokyo no Japão é de 18 MPa.
Cleber Mata