Compradores compulsivos são tratados no ambulatório do HC

Pacientes adquirem produtos exageradamente para aliviar emoções negativas

qui, 07/06/2007 - 11h11 | Do Portal do Governo

Se comprar alivia seu estresse e suas frustrações, a ponto de chegar atrasado no trabalho, cuidado! Você pode estar acometido pelo mal de transtorno de compras compulsivas. Também conhecida como oneomania, a doença aponta no paciente falhas do controle do impulso.

Comprar exageradamente futilidades e artigos desnecessários é o principal sintoma desta anomalia. Aquisição não está ligada ao valor do produto e sim ao ato de adquirir para aliviar suas emoções negativas – baixa auto-estima e desvalorização pessoal. Por exemplo: empregado discute com o chefe e faz compras para fugir do problema.

“Os portadores de oneomania podem ter prejuízos financeiros, sociais, profissionais e familiares”, diz a psicóloga Tatiana Filomensky, do Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso (Amiti), do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Tatiana atendeu pacientes que furtaram dinheiro da empresa em que trabalham para satisfazer seu impulso de comprar. Outros, só consomem objetos de determinada marca.

 

Endividamento – “As mulheres optam por produtos que valorizem sua feminilidade, pois se sentem fragilizadas”, observa a psicóloga. Investem em roupas, maquiagens, bolsas e outros acessórios para “mascarar o sentimento ruim”.  “Por fora, querem estar maravilhosas, mas interiormente não estão bem”, afirma. Os homens destacam sua masculinidade comprando CDs, DVDs, câmeras, celulares, carros e ternos.

“Nos tempos atuais, a sociedade de consumo valoriza o ato de comprar. Isso dificulta aos familiares e amigos perceberem quando a ação é sintoma da doença”, frisa a psicóloga.

A inadimplência é comum às pessoas que sofrem do mal do transtorno. “Se não se endivida, gasta até o último centavo do salário”, sustenta Tatiana, ao acrescentar que o saldo negativo na conta bancária pode chegar a valores absurdos, sem contar as solicitações de empréstimo para comprar ainda mais.

Ela calcula que 90% dos que procuram tratamento estão com saldo devedor. O lazer desse público é a loja, onde criam seu círculo de “amigos”. A assistência no Amiti começa com a avaliação do perfil da pessoa. Se for constatada a doença, o paciente recebe acompanhamento contínuo de psiquiatra, pois do transtorno normalmente surgem outras complicações, como depressão e ansiedade.

 

Terapia – Há também a assistência psicológica para ajudá-lo a entender o porquê do impulso para comprar e aprender a gastar sem impulso. O ambulatório oferece quatro meses de sessões em grupo e um ano de terapia individual. “O processo terapêutico mostra que a pessoa precisa fazer algo por ela. Alguns vêm desesperados e logo percebem que não sabem lidar com o dinheiro e o cartão de crédito”, informa a psicóloga.

Como o paciente convive com outros problemas, entre eles de relacionamento familiar e alcoolismo, o fim do tratamento no HC não significa o término das dificuldades. Ela disse que sempre orienta o paciente a procurar grupos de auto-ajuda, a exemplo do Devedores Anôninos (DA).

Viviane Gomes

Da Agência Imprensa Oficial