Comitiva alemã tem visão positiva sobre produção do etanol brasileiro

Representantes do governo e ambientalistas da Alemanha visitaram a Usina São Martinho, em Pradópolis, no último dia 2

ter, 06/05/2008 - 10h02 | Do Portal do Governo

Se depender da visita realizada no último dia 2 de maio à Usina São Martinho, em Pradópolis, na região de Ribeirão Preto, no Estado de São Paulo, o Brasil tem boa chance de ter a Alemanha como aliada na polêmica criada em torno da produção de biocombustíveis. Como maior produtor de cana-de-açúcar do mundo e responsável junto com os Estados Unidos por 70% do etanol produzido no planeta, o país enfrenta agora a acusação de estar contribuindo para a alta dos preços dos alimentos, fato contestado pela Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) e pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente.

Durante a apresentação feita à comitiva de cerca de 20 parlamentares e ambientalistas alemães, que acompanhavam o embaixador Prot Von Kunow e o cônsul geral Heinz-Peter Behr, além do representante do Ministério do Meio Ambiente da Alemanha, Jochen Flasbarth, os técnicos brasileiros usaram dados concretos para mostrar que este tipo de cultura ocupa pouco mais de 1% das áreas agricultáveis do país, ficando atrás da soja, do arroz e do milho, entre outros grãos considerados essenciais para a alimentação. Em compensação, fornece 50% do combustível utilizado no país, principalmente para os veículos “flex”, que já representam 80% da produção automobilística brasileira.

Apesar do setor estar em franca expansão – com cerca de 300 usinas instaladas em todo o país, sendo quase metade delas no Estado de São Paulo e a previsão de crescimento de 11% na produção de álcool a partir da safra de 2008/2009 – , o secretário estadual do Meio Ambiente, Xico Graziano, afirmou que a ampliação do cultivo da cana tem ocorrido principalmente em áreas de pastagens degradadas. Ele esclareceu que em São Paulo esse processo tem se revelado benéfico nos aspectos sócio-ambientais, além de contribuir para a recomposição da cobertura vegetal natural do Estado, referindo-se aos Projetos Ambientais Estratégicos, que vêm sendo desenvolvidos pelo governo em parceria com os produtores, como é o caso do “Etanol Verde” e da recuperação das matas ciliares.

Salto de qualidade

“Com o protocolo firmado com mais de 80% dos produtores de cana em todo o Estado, conseguimos antecipar em cerca de sete anos o fim da prática da queima, que vem sendo substituída pela colheita mecanizada” relatou o secretário do Meio Ambiente. “Além de reduzir o impacto negativo sobre a qualidade do ar e sobre a saúde das populações vizinhas aos canaviais, a mudança também está contribuindo para a recuperação das florestas, na medida que a mecanização inviabiliza o cultivo nas áreas de declive acentuado, como é o caso das margens dos rios, que voltam a ser recobertas pela vegetação natural”, concluiu Graziano.

Para reforçar o papel positivo da cana na substituição de parte do consumo de combustíveis fósseis, o técnico da Secretaria do Meio Ambiente, Oswaldo Lucon, deu ênfase à redução das emissões de dióxido de carbono, com a substituição dos derivados de petróleo pelo biocombustível, lembrando que no Brasil 14% da energia renovável vem da cana-de-açúcar, quase o mesmo potencial das hidrelétricas, que respondem por 14,8%.

A preocupação com o desemprego, revelada por um dos deputados integrantes da comitiva, também foi esclarecida pelo presidente da Única, Marcos Jank, que reconheceu que em São Paulo a mecanização substituirá cerca de 150 mil cortadores. “Mas estamos criando vagas mais qualificadas para metade desse contingente, que será aproveitado na operação dos equipamentos”, afirmou Jank, revelando também que está em curso um protocolo com o governo federal, garantindo a realocação e o treinamento do restante dos trabalhadores para outros setores do mercado. Com isso, ele concluiu que o salto de qualidade iniciado por São Paulo deverá se refletir rapidamente nas outras regiões produtoras do país.

Quanto à possível pressão da cultura da cana sobre biomas importantes como a Amazônia, as autoridades brasileiras – entre as quais, os representantes do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, secretário executivo, e Egon Krakhecke, secretário do Desenvolvimento Sustentável – garantiram que o risco não existe. Além das políticas ambientais em curso no País, eles apontaram como impeditivos o clima e o solo amazônico, e apresentaram dados que indicam a distância de pelo menos 2,5 mil quilômetros entre as áreas de cana do centro-sul e a floresta, e de 2 mil quilômetros entre a área usada por essa cultura no Nordeste, as duas principais regiões produtoras do país.

Convite

Satisfeito com as explicações, Jochen Flasbarth disse que a visita teve como objetivo levar esclarecimentos ao consumidor alemão, segundo ele extremamente exigente em relação aos produtos que tenham impactos no meio ambiente ou que sejam prejudiciais aos trabalhadores e populações envolvidas. À frente da comitiva, ele substituiu o Ministro do Meio Ambiente da Alemanha, Sigmar Gabriel, que não pôde participar da visita a uma das maiores usinas brasileiras, por problemas de saúde. O aceno positivo de Flasbarth motivou Capobianco a convidá-lo a ser parceiro do Brasil nas discussões sobre os biocombustíveis, na próxima conferência mundial que está sendo organizada para avaliar o impacto do etanol na produção de alimentos.

Embora divida com os Estados Unidos a supremacia na produção do etanol, utilizado basicamente para abastecer a frota interna de veículos, o Brasil não incorreu no mesmo erro de utilizar um alimento básico como o milho, para transformá-lo em alternativa aos combustíveis fósseis, segundo argumentam especialistas e autoridades brasileiras. Isso também não ocorre na maioria dos países produtores da cana-de-açúcar, que ocupa cerca de 20 milhões de hectares das áreas agrícolas em todo o mundo, enquanto mais de 1 bilhão de hectares são utilizados para a produção de alimentos.

Da Secretaria de Meio Ambiente

(I.P.)