A criação da Comissão paulista de Bioenergia anunciada na terça-feira, 24, pelo governador José Serra será peça essencial para manter São Paulo no posto de principal produtor de etanol no Brasil. A previsão é que, num prazo de 10 anos, o Estado seja responsável pela produção de 1% do combustível renovável no mundo.
A avaliação é do físico José Goldenberg, nomeado por Serra presidente da Comissão que terá como meta estudar fontes de energia limpa e renovável. “Os trabalhos dessa comissão têm por finalidade continuar com o progresso tecnológico do programa paulista de incentivo ao etanol”, explica Goldenberg.
E para justificar seu otimismo em relação ao futuro, o ex-secretário estadual de Meio Ambiente de São Paulo recorre ao passado. Ele lembra que os institutos e universidades paulistas pesquisam as vantagens do etanol em relação aos combustíveis fósseis há pelo menos 25 anos. O professor acrescenta também que as condições geográficas do Estado, elementos de natureza cientifica e tecnológica, são fatores determinantes para sustentar São Paulo no topo da produção nacional.
“Com o programa paulista de incentivo ao etanol, o Estado é responsável por dois terços da produção brasileira. Somos o maior produtor no mundo do etanol, isoladamente falando”, observa.
Combustível do futuro
Segundo ele, três motivos reforçam a tese de que o etanol será o combustível do futuro: a exaustão das reservas e a dificuldade de acesso aos combustíveis fósseis, componentes políticos e econômicos, como a crise do gás entre Brasil e Bolívia e, por fim, questões de ordem ambiental. “Enfrentamos problemas no clima no mundo todo justamente pela queima dos fósseis”, reitera o pesquisador.
Dados fornecidos por ele revelam que São Paulo deixa de emitir todos os anos, oito milhões de toneladas de gás carbônico com o etanol. A mesma eficácia não é registrada nos Estados Unidos – um dos maiores produtores de etanol do mundo ao lado do Brasil – cujo número cai para um milhão de tonelada/ano.
Goldenberg frisa que o etanol produzido a base de cana-de-açúcar permite o aproveitamento do bagaço para produzir energia.
Contudo, para a produção paulista continuar crescendo, normas de sustentabilidade ambiental e social devem ser levadas em consideração. Caso contrário, poderão surgir barreiras de importação. “O crescimento deve ser ordenado com medidas planejadas”, esclarece.
Matéria prima
Segundo o IAC (Instituto Agronômico de Campinas), em 1975 o produtor de cana-de-açúcar retirava uma média de 65 toneladas por hectare. Três décadas depois, o produtor colhe 90 toneladas por hectare no Estado que, hoje, tem 4,2 milhões de hectares de cana plantados.
A secretaria da Agricultura estima que mais 821 mil hectares devem ser plantados no território paulista em 2007. O número manterá a posição de São Paulo no cenário nacional como maior produtor de açúcar e álcool do País e responsável por 72,4% das exportações brasileiras do setor. Somente em 2006, foram US$ 5,65 bilhões em vendas externas.
Cleber Mata