Com brincadeiras e aprendizado, museus da USP integram crianças à universidade

Alunos da Comunidade São Remo, vizinha ao campus do Butantã, em SP, participam semanalmente de visitas à instituição de ensino

dom, 13/10/2019 - 16h37 | Do Portal do Governo
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Um projeto conduzido pela Universidade de São Paulo busca estabelecer uma ponte de conhecimento entre os moradores do bairro vizinho ao campus da USP no Butantã, na capital, e três dos museus mantidos pela instituição de ensino.

Chamado de Integrando a Comunidade São Remo com Museus da USP: o patrimônio cultural, natural e artístico numa perspectiva conjunta de aprendizagem, a ação reúne a comunidade São Remo e os Museus de Arqueologia e Etnologia (MAE), de Anatomia Veterinária (MAV) e de Arte Contemporânea (MAC).

Visitas

O projeto começou em março e terá duração de dois anos. As atividades incluem a participação de crianças que frequentam o projeto Girassol, vinculado à ONG Associação Metodista Livre Agente. Os pequenos visitam os museus todas as quartas-feiras, em horário diferente do da escola.

“Vamos trabalhar o ‘saber ouvir a criança’, sentar-se e conversar. Elas são muito espontâneas. A proposta é ligar as áreas de conhecimento e interligar os saberes. Aliás, é o desafio da educação”, revela Maria Angela Serri Francoio, educadora do MAC, ao Jornal da USP.

Como a cada semana a visita é a um museu diferente, existe uma conexão das atividades. São feitas oficinas nos espaços da USP e também na Comunidade São Remo. As crianças realizam uma espécie de estudo prévio durante as atividades no projeto Girassol, antes da passagem pelos espaços.

“Essa dinâmica é para ajudar a pensar o museu como um todo. Pensar na exposição, na curadoria e nos processos. Discutimos temas necessários com as crianças”, salienta Camilo de Mello Vasconcelos, professor da universidade e coordenador do MAE, ao Jornal da USP.

Dinâmicas

Em uma das atividades no MAE, as crianças foram divididas em grupos. Um integrante era vendado. Por meio do tato, ele sentia a textura e o formato de um objeto arqueológico e um etnológico. Depois, voltava para a sala onde estava o grupo e os descrevia. Os participantes pintavam no papel a representação do que o amigo contou.

“Essa brincadeira, como as outras, tem o objetivo de fazer com que elas aprendam por si e tenham autonomia para pensar. Aprendo sobre o público, as crianças, e a respeito de dar aula. Era um contato que eu não tinha tanto na graduação”, explica ao Jornal da USP Eduardo Rosa, aluno do curso de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da universidade, em São Paulo, e bolsista no projeto.

Experiência

Uma das propostas da iniciativa é justamente fornecer uma nova experiência no campo da extensão também para quem trabalha no ambiente do museu, tanto diretores quanto os estagiários de História, Educomunicação e Biologia.

“O MAE, por estar aqui do lado, é um recurso que nós não temos o costume de ir. O projeto abre esse horizonte para as crianças”, afirma ao Jornal da USP Samara Sousa, professora do projeto Girassol e que acompanha as crianças nas visitas do período da tarde à universidade.

“É muito valioso ir ao museu. Elas passam aqui em frente com a mãe e pai e dizem: ‘Olha, eu já vim aqui! Vamos lá também!’. Isso incentiva de alguma maneira”, completa a docente. No próximo ano, será feita uma exposição com todas as atividades feitas pelas crianças.

Diálogo

O desenvolvimento do projeto envolve o início do Museu de Arqueologia e Etnologia em seu novo prédio e os espaços de lazer da São Remo. Em 1993, o museu foi para um espaço ao lado da prefeitura do campus Cidade Universitária da USP onde ficava uma quadra de futebol para crianças e adultos.

Contudo, o local foi desapropriado e isso gerou um desconforto para a direção do museu, que sentiu necessidade de dialogar com a comunidade e vice-versa. Foram feitas atividades na Escola de Alfabetização de Adultos e com a Associação de Moradores.

Tempos mais tarde, foi criada uma longa exposição envolvendo a vivência e a história dos moradores do bairro. Desde então, sempre há projetos em parceria, como o Integrando a Comunidade São Remo com Museus da USP: o patrimônio cultural, natural e artístico numa perspectiva conjunta de aprendizagem.

Ele foi remodelado, firmou a parceria com os coordenadores do Girassol e estendeu-se para os Museus de Anatomia Veterinária e de Arte Contemporânea. Assim, concorreu ao edital do programa Aprender na Comunidade da Pró-Reitoria de Graduação da USP, e pôde contratar estagiários e ampliar as portas de visitas.

“Os museus devem se abrir para as comunidades, se ampliar e pensar na acessibilidade em diferentes formatos”, pontua o professor Camilo de Mello Vasconcelos, coordenador do MAE.

“Esse trabalho é para reforçar o nosso papel social. Devemos dialogar com todos, romper as barreiras invisíveis e visíveis que têm por aqui na USP”, diz Maurício André, educador do MAE, ao Jornal da USP.