Coleção de bonecos em tamanho natural intriga pedestres na Avenida Paulista

A mostra foi contemplada pelo Programa de Ação Cultural da Secretaria da Cultura

ter, 31/07/2007 - 14h12 | Do Portal do Governo

A Fila chama a atenção. Não há quem passe indiferente a ela. Muitos param e interagem com os seus integrantes: posam ao lado do personagem preferido, por identificação ou mesmo por razões estéticas, para tirar fotografia. Num determinado momento, pessoas se aglomeram em frente à Fila, só para observá- la. Rende muitos comentários.“Fila é inevitável e causa várias sensações”, define a artista plástica Gigi Manfrinato, autora da obra em conjunto com a parceira de profissão Sandra Lee, que emenda: “Não deixa de ser um espaço democrático, onde as pessoas acabam se conhecendo”.

Elaborada a partir dessas definições e da observação de cenas do cotidiano, a produção artística A Fila, conjunto de 28 esculturas de pessoas em tamanho natural, integra desde o dia 7 deste mês a paisagem da rua que é o principal símbolo da cidade. O projeto das artistas foi contemplado pelo Programa de Ação Cultural (PAC), da Secretaria da Cultura, iniciativa pública de financiamento de ações culturais. Ganhou como primeiro palco a calçada em frente à fachada da Unidade Provisória do Sesc, na Avenida Paulista.

Depois segue para o Metrô. Tipos dos mais variados, como o casal de velhinhos simpáticos, o motoboy, a moça atraente assediada por um galanteador, os boas-praças jogando dominó, a mulher estressada, o bêbado, entre outros, foram retratados pela duplade escultoras com papel, cola, gesso, fibra de vidro e tubos de PVC. Reunidos em fila, eles mexem com a imaginação de alguns. “Achei interessante o boneco do dominó. Ele trouxe o jogo, porque já sabia que ia esperar”, interpreta Helen Tatiane Cavina, de 20 anos.

A estudante de administração não estava de passagem. Diz que ficou sabendo sobre A Fi la e se interessou porque está estudando o assunto na faculdade.Ela se programou para ver a exposição e resolveu filmá-la, com o objetivo de ter material para ilustrar uma possível tarefa futura do curso. “Achei bem interessante a forma como as artistas montaram a fila, com pessoas de vários tipos fazendo coisas diferentes enquanto esperam”, diz.Alexandre Cid Pedroso, de 44 anos, também se empolga com manifestações artísticas na rua.

De passagem, foi atraído pela mostra e arrumou um tempinho para dar uma olhada. “Parei mais por que admiro esse tipo de iniciativa, que divulga a arte”,diz. “Gostei muito do casal de idosos no começo da fila, é bem pensado”, avalia. Para ele, os estilos e as expressões dos bonecos identificam o paulistano. “Não só as pessoas, mas a fila em si”, completa o santista que mora há 23 anos na cidade.“A gente sempre representa, com nosso trabalho, cenas do cotidiano”, explica Gigi Manfrinato. “São temas que as pessoas reconhecem rapidamente”, afirma a artista de 45 anos, que há 20 anos trabalha ao lado de Sandra Lee com as esculturas de tipos comuns. Sandra, 45 sanos, conta como funciona o trabalho conjunto.

Segundo ela, A Fila levou três meses e meio para ficar pronta e, antes de confeccionada, foi discutida para não haver repetição de tipos. “Mas, mesmo assim, fizemos muitos carecas”, diverte-se a escultora.

Avenida do mundo – A escolha da famosa avenida para a exposição é mesmo uma forma de apresentar a arte e os “tipos” da cidade, não só aos próprios paulistanos, mas ao mundo. Em um curto período de uma tarde de dia útil, vários estrangeiros passaram pelo local e pararam para vê-la. Enquanto um rapaz japonês, que não fala nem entende nada em português, se mostrava empenhado em tirar fotos de várias das esculturas, a peruana Luci Contreras, de 28 anos, posava para registros de seus amigos perto delas.

Recém-chegada de Lima para sua primeira estada em São Paulo e no Brasil, diz que os personagens são divertidos e passam a idéia de estarem aborrecidos. “Ela teve a impressão de que alguns deles estão reclamando do serviço que esperam”, traduz o seu amigo brasileiro, Iuri Pacheco, de 25 anos. A alemã Carolina Noubauer, de 26 anos, é outra estrangeira que acabou de chegar para desfrutar férias em São Paulo, em sua primeira vinda ao Brasil.

Ciceroneada pela paulistana Cláudia Domingos, de 30 anos, no passeio pela cidade, acabou fazendo esta parar para admirar a mostra. “Não sou muito de ver arte, mas ela adora”, conta a brasileira sobre sua colega. A alemã, da Bavária, faz um esforço para se fazer entender. Revela que identificou vários tipos na fila que são iguais no seu país: “Os velhos, os religiosos…”, diz com sotaque. E que as fila s também acontecem por lá.

Performance – A exposição segue no Sesc até o dia 9 de setembro. Às terças e quintas-feiras, das 12 às 14 horas, e aos sábados e domingos, em três horários (das 15 às 16 horas, das 17 às 18 horas e 19 às 20 horas), tem incorporada a ela a performance da atriz Tina Cunha, que interage com os bonecos. Maquiada tal qual os personagens das artistas plásticas, ela posa ao lado deles em várias posições e causa espanto quando se mexe. “O pessoal leva um susto”, conta Irene da Luz Marques, técnica do Sesc Avenida Paulista e responsável pela montagem.

Ela destaca que, além de ser um grande sucesso, a mostra se revelou um meio de divulgar a Unidade que, por ter apenas pouco mais de um ano de existência, não é muito conhecida. “As pessoas param para ver A Fila e acabam entrando para saber se tem mais atrações no prédio”, comemora.

Saiba o que é o PAC

O Programa de Ação Cultural (PAC) foi criado no ano passado para regularizar e descentralizar o investimento estadual em ações culturais. Instituído pela Lei Estadual de Incentivo à Cultura, define dois mecanismos de obtenção de verba: os recursos orçamentários e incentivo fiscal.Além da isenção fiscal para as empresas que investem em iniciativas culturais, o PAC publica editais para contemplar projetos em várias áreas. Noano passado, foram 27. O projeto de A Fila foi contempla do por meio de um deles. Este ano distribuirá R$ 10 milhões.

Simone de Marco

Da Agência Imprensa Oficial