Coleção Aplauso lança biografia de Denise Del Vecchio

Rica trajetória artística e pessoal da atriz está em Memórias da Lua, de Tuna Dwek, lançamento da Coleção Aplauso, da Imprensa Oficial

qua, 13/02/2008 - 18h20 | Do Portal do Governo

Coragem, independência, versatilidade e compromisso político definem o percurso da atriz e diretora Denise Del Vecchio, que conta sua vida pessoal e artística em Memórias da Lua, depoimento concedido à jornalista e atriz Tuna Dwek e publicado pela Coleção Aplauso, da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. O lançamento será no dia 25 de fevereiro, a partir das 19 horas, no Bar Teatrix (Rua Peixoto Gomide, 1066), em São Paulo.

Denise começou muito jovem, com pouco mais de 18 anos, no Teatro de Arena, no início dos anos 70. Depois, montou uma companhia na Zona Leste de São Paulo que se apresentava em espaços pouco convencionais, passou a dividir seu tempo entre os palcos e a televisão e, mais recentemente, fundou uma escola de teatro.

Em cada uma dessas diferentes experiências, algumas constantes: a paixão pelo texto, a vontade permanente de evoluir, os rígidos padrões éticos, a sabedoria de tirar lições de tudo que faz. “Quando eu olho para trás, vejo como na minha vida, todas as experiências artísticas também foram experiências de vida”, observa.

Denise recorda com afeto a infância passada nos bairros da Mooca e Belém; o nascimento do amor pela leitura; o engajamento no movimento estudantil sob a ditadura militar; a primeira peça a que assistiu – Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, no Teatro Municipal –, ainda nos tempos de ginásio; o despertar da vocação para o palco, que sentiu ao ver Cacilda Becker em sua última peça, Esperando Godot, em 1969.

Nessa época, passou a freqüentar o curso de formação de atores do Teatro de Arena. As aulas com Augusto Boal, Heleny Guariba, Cecília Thumin e Rodrigo Santiago a marcaram para sempre. Com a prisão de Boal e sua partida para o exílio, no começo dos anos 70, o grupo se dissolveu. Denise formou outra companhia, ao lado de Celso Frateschi, Antonio Pedro, Dulce e Hélio Muniz, entre outros, na qual o legado de Boal foi mantido, “desde construir até apresentar o ato teatral. É cristalino que o teatro entrou na minha vida não como uma profissão ligada a um desejo de ascensão ou sucesso, mas se constituiu numa transformação pessoal em sua totalidade”, observa.

A nova trupe fazia teatro na periferia, encenando peças criadas coletivamente. Com os primeiros ventos da abertura política, o trabalho realizado junto às comunidades começou a ser usado pelos partidos políticos que se reorganizavam e o grupo se dissolveu em 1978. Denise partiu então para a carreira individual no teatro. Já atuava regularmente em telenovelas desde 1974, na TV Tupi. De lá para cá, fez novelas na Globo, Bandeirantes, Record, Manchete e SBT.

Os anos que passou fazendo teatro comprometido politicamente tornaram mais difícil que Denise aceitasse o trabalho na TV como algo importante e prazeroso. O ator e amigo Carlos Zara ajudou-a a ampliar sua visão: “Com ele pude ver que o fato de fazer televisão não me tornaria uma alienada ou alguém que estivesse compactuando com a ditadura”.

Muito especiais são as recordações da montagem de Feliz Ano Velho, adaptação do romance de Marcelo Rubens Paiva para os palcos, assinada por Alcides Nogueira, que ficou seis anos em cartaz, excursionando por dezenas de cidades brasileiras, uma peça que mostrou “o sofrimento sem pieguice, sem melodrama”.

Em 2001, fundou a Oficina Teatral ao lado da irmã, a atriz e dramaturga Alzira Andrade, mais uma demonstração de sua fé no poder do teatro como agente transformador: “No início da minha vida artística, achava eu mudaria o mundo. Hoje sei que se ajudar uma pessoa, se ela for mais feliz, o mundo já estará melhor. Nossa escola tem esse espírito”.

Tuna revela como foi o processo de escrever o livro: “ Muitas vezes nos emocionamos, choramos, rimos, compartilhamos lembranças de amigos em comum, passamos em revista nossas militâncias políticas, perdas e conquistas  e acima de tudo nosso amor pelo nosso ofício. Como somos atrizes, isso nos dá um vocabulário comum em que já entendemos o que a outra quer dizer, além do grande afeto que nos une”.

Para ela, Denise Del Vecchio é desses exemplos raros e preciosos de coerência entre a vida e a arte: “Avessa a qualquer situação capaz de  tolher a liberdade humana, Denise sempre que possível optou por personagens de forte impacto, libertárias e comprometidas com alguma luta interior. Desafiando limites, existências angustiadas  ou enfrentando inimigos declarados como a Censura e a repressão impostas pela de tão triste memória  Ditadura Militar, Denise assumiu os  riscos indissociáveis da consciência coletiva que reinava no universo teatral nas décadas de 60 e 70”.

Sobre a autora

Atriz nascida e criada em São Paulo, Tuna Dwek é formada em Ciências Sociais pela PUC-SP, Université Paris I e pela Escola de Arte Dramática-EAD USP. Locutora, tradutora e intérprete em eventos internacionais para personalidades como Vanessa Redgrave, Isabelle Huppert, Roman Polanski, Peter Brook e Michel Piccoli, entre outros. Repórter colaboradora da Folha de S. Paulo e outros órgãos de Imprensa. No teatro foi dirigida por Jorge Takla, Iacov Hillel, Ruy Cortez entre outros. No cinema, por Wilson Barros, Luiz Alberto Pereira, Flavia Moraes, Rafael Primo, João Massarolo, Barbara Paz. Em televisão atuou na novela Cortina de vidro, de Walcyr Carrasco (SBT), fez participações nas novelas Da cor do Pecado, de João Emmanuel Carneiro (Rede Globo) e Essas Mulheres, de Marcílio Moraes (Rede Record); nas séries Minha nada mole vida e A Diarista (Rede Globo). Atuou nas minisséries Um só coração e JK, ambas de Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira, e Queridos amigos, de Maria Adelaide Amaral (Rede Globo). Indicada ao prêmio Mambembe de Melhor atriz coadjuvante pelo espetáculo Vidros Partidos, de Arthur Miller. Para a Coleção Aplauso já traçou os perfis de Alcides Nogueira (Alma de cetim) e Maria Adelaide Amaral (A emoção libertária).

Memórias da Lua

Tuna Dwek

Coleção Aplauso

Imprensa Oficial do Estado de São Paulo

266 páginas

R$ 15,00

Da Imprensa Oficial

(L.F.)