Clima seco mobiliza bombeiros em todo o Estado

A cada dia corporação registra mais de 80 queimadas em plantações e fazendas no interior

seg, 17/09/2007 - 11h43 | Do Portal do Governo

Os paulistas nem precisam abrir os jornais para se darem conta de que o clima está muito mais seco do que o habitual. Eles sentem na pele. E isso porque julho, agosto e setembro já têm fama de serem bem mais secos do que os outros meses do ano. O problema é que neste ano os índices de umidade do ar e precipitação pluviométrica estão bem mais baixos – o que preocupa população e autoridades com a mesma força. Tanto para evitar tragédias ambientais como para poupar bens matérias e a vida de seres humanos, o Corpo de Bombeiros tem tomado uma série de iniciativas a fim de enfrentar este período de estiagem sem atropelos.

Agosto: precipitação zero em 90% do Estado

De longe, a maior preocupação dos bombeiros diz respeito aos incêndios florestais. As plantações de cana de açúcar, necessárias à produção de etanol, cobrem 17% da área total do Estado e é justamente nelas que os incêndios de grande vulto aparecem. Para se ter uma idéia, dos 40 mil incêndios registrados pelo Corpo de Bombeiros em 2006, 75% ocorreram na mata. Isso quer dizer que a cada dia os bombeiros registram 82,2 queimadas em plantações e fazendas do interior.

Prevenção

Não é por falta de aviso. Recentemente os bombeiros distribuíram um folder com orientações aos cidadãos para evitar a proliferação de queimadas. Afinal, embora ventos frios à noite, clima seco e falta de chuvas contribuam – e muito – para as tragédias, o fator humano é determinante. Diz o panfleto que não se deve jogar pontas de cigarros acessos nas margens das rodovias, deve-se evitar fogueiras próximas às matas e também é preciso ter muito cuidado para não provocar queimadas desordenadas durante a limpeza de terrenos e preparo do plantio.

Uma simples ponta de cigarro pode dar início a um incêndio de grandes proporções, adverte o tenente Marcos das Neves Palumbo, do Corpo de Bombeiros. Ele tem observado um aumento no número de queimadas com fins de aumentar a produção de cana de açúcar. Araraquara foi a cidade com a maior área prejudicada pelos incêndios florestais. Foram exatos 61.389,242 hectares “perdidos” para o fogo.

É com base em números como este que o tenente Palumbo recorda o lema dos bombeiros, que clama pela proteção da vida, do meio-ambiente e do patrimônio. “Nesta ordem”, ele faz questão de ressaltar, dando a entender que os lucros devem ser precedidos dos cuidados com a natureza. Ações simples, como isolar a área a ser queimada com o auxílio de um trator, fazem muita diferença na hora de tabular as perdas sofridas pelo meio ambiente com a queima indiscriminada.

O Corpo de Bombeiros, presente em 225 dos 645 municípios paulistas, promove um curso específico para combate a incêndios dessa ordem. Batizado de “Treinamento de Operação Mata Fogo”, as aulas orientam o profissional a aplicar as técnicas e equipamentos corretos durante as ocorrências.

No dia-a-dia, os 9.271 soldados da corporação estão prontos para operar desde pás e enxadas até abafadores e bombas costais. A variedade de técnicas empregadas também é grande e inclui, por exemplo, o pinga fogo (quando usa-se fogo para combater fogo) e os ataques aéreos (quando certa quantidade de água é despejada de uma aeronave).

Cana

No início de junho, o governador José Serra assinou um protocolo agro-ambiental com produtores para reduzir as queimadas nos canaviais de todo o Estado. Conforme o acordo, a queima da palha de cana nas áreas mecanizáveis do Estado deverá se encerrar em 2014. O prazo anterior permitia a queima até 2021.

Deve-se levar em conta que cada hectare de cana queimado emite 300 quilos de material particulado, o que causa problemas respiratórios e sobrecarrega o sistema de saúde pública. No ano de 2006, os 2,5 milhões de alqueires de cana queimados emitiram 750 mil toneladas de particulados. As emissões de poluentes, já altas, observou Serra, tenderiam a crescer significativamente com a expansão da cultura da cana. “Por isso, resolvemos adotar medidas antecipando os prazos para a eliminação das queimadas”, explicou o governador durante um evento voltado ao setor.

Fazendeiros interessados em promover queimadas com fins agrícolas devem notificar os órgãos competentes, lembra o tenente Palumbo. A primeira coisa a fazer é informar o Sistema Nacional do Meio Ambiente e, em seguida, seguir as recomendações previstas no decreto 2661/98.

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Manoel Schlindwein

(I.P.)