Cientistas do Projeto Genoma são homenageados em noite de gala

Covas confere o Trófeu e a Medalha do Mérito Científico e Tecnológico aos 35 laboratórios e aos 192 cientistas que desvendaram o genoma do Amarelinho

ter, 22/02/2000 - 16h28 | Do Portal do Governo

Foi uma noite de festa para a ciência produzida no Estado de São Paulo e toda a história da ciência brasileira, a entrega das honrarias aos 192 pesquisadores do Projeto Genoma, realizada nesta segunda-feira, dia 21, na Sala São Paulo do Complexo Cultural Júlio Prestes.
O Brasil marcou sua entrada no rol dos poucos países – o primeiro fora do eixo Europa, Estados Unidos e Japão e o único no Hemisfério Sul – a desvendar a genética de um microorganismo vegetal, a `Xylella fastidiosa`, com uma homenagem que emocionou todos os presentes. O feito inédito foi saudado pela comunidade científica internacional com admiração e até com uma ponta de inveja.
A Sala São Paulo – uma das melhores salas de concertos do mundo, construída recentemente com a mais avançada tecnologia e entregue ao público paulista no ano passado – estava à altura desta rara ocasião. Na entrada do Complexo Cultural Júlio Prestes, um túnel high-tech recebeu os 192 pesquisadores como principais astros que conduzem São Paulo e o Brasil rumo à modernidade científica do Século XXI e que nos coloca em pé de igualdade com os melhores centros de ciência internacional em pesquisa de ponta: a biotecnologia implicada em desvendar os seqüenciamentos genéticos de organismos vivos. O feito lembra o primeiro vôo do 14-Bis, o primeiro e tosco avião inventado por um brasileiro, Santos Dumont, há quase cem anos atrás e que abriu as portas para mudar a história da tecnologia de transporte do Século XX.
O primeiro seqüenciamento genético de uma bactéria vegetal não foi um trabalho simples. Implicou em construir um instituto virtual de pesquisas formado por uma rede de 35 laboratórios paulistas conectados via Internet – a Rede ONSA, Organização para Seqüenciamento e Análise de Nucleotídeos, que tem como símbolo o mais típico felino brasileiro – a onça. Sem paredes, descentralizado, com uma estrutura leve e flexível, o Instituto tem um custo aquém dos padrões internacionais e conseguiu maximizar os recursos financiados pelo Governo do Estado de São Paulo, por meio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) em parceria com a Fundecitros (Fundo de Defesa da Citricultura), entidade privada que reúne produtores de laranja.
Foram quase três milhões de bases genéticas examinadas de ponta a ponta e dispostas em sua exata seqüência. Em menos de dois anos e meio – o megaempreendimento começou em outubro de 1997 e terminou quatro meses antes do prazo fixado – a força-tarefa de 192 cientistas desvendou toda a organização molecular de um minúsculo ser vivo, a bactéria `Xylella fastidiosa`, responsável pela perda de milhões de laranjeiras (uma em cada três plantadas no Estado) e a corrosão das divisas internacionais obtidas pela exportação do suco de laranja e derivados. Só São Paulo é responsável por mais de metade (53%) de toda a produção mundial do suco da laranja industrializado.
O custo da pesquisa – US$ 15 milhões – trará retornos ainda incalculáveis para São Paulo e para o Brasil a médio prazo. A previsão é que em cinco anos as implicações dessas descobertas estejam produzindo resultados concretos para começar a erradicar a praga do amarelinho a partir de árvores geneticamente resistentes à bactéria Xylella.
Especialmente criada pelo Governo de São Paulo dado o alcance desta proeza, a Medalha do Mérito Científico e Tecnológico foi entregue pessoalmente aos 192 pesquisadores pelo governador Mário Covas e pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Ronaldo Sardenberg. Além disso, os 35 laboratórios envolvidos no projeto também receberam o troféu Árvore dos Enigmas.
Covas comparou os feitos dos pesquisadores a momentos capitais da trajetória da ciência e do conhecimento humano: ‘Em ciência, para cada nova descoberta abrem-se incontáveis possibilidades’. Compartilhando os créditos dessa pesquisa com o Brasil, ‘muitos são pesquisadores formados em outros Estados’, apontou, o governador quis dividir também seus resultados. ‘É uma honra para São Paulo oferecer à comunidade internacional os frutos da sua competência e nome em favor do Brasil. São Paulo quer continuar a ser multiplicador de conhecimentos para o país, universalizando o progresso’, afirmou. (Leia íntegra do pronunciamento do governador)
‘O projeto só foi articulado porque o Estado de São Paulo teve também vontade política’, disse Andrew Simpson, coordenador do projeto Genoma e diretor do Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer. Para o diretor-científico da Fapesp, José Fernando Perez, ‘Essa ousadia é fruto da competência da ciência instalada neste Estado’. Perez e Simpson foram são responsáveis por viabilizar esta pesquisa e suas diretrizes. Para Perez este projeto está servindo a diversas finalidades: ‘Fazer ciência de fronteira, dialogar com o setor produtivo e com a sociedade que, afinal de contas, financia estes investimentos’. Ele parabenizou também o Governo do Estado por possibilitar uma entrada ‘forte’ do Brasil na área da genética molecular.
Indicando que a biotecnologia está destinada a revolucionar nossa vida cotidiana, o ministro da Ciência e da Tecnologia disse o que esta conquista sinaliza para a nossa sociedade e a comunidade internacional: ‘Nós, no Brasil e em São Paulo, demonstramos ser parceiros viáveis em projetos de desenvolvimento nesta e em outras áreas’.
Com uma dose de humildade – é raro um maestro se dirigir ao grande público e murmurar mais do que um ‘obrigado’ – o prestigiado maestro Roberto Minczuk, que aos 15 anos já era solista na Orquestra Sinfônica Jovem de Nova York , disse que os 180 músicos da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo estavam honrados em oferecer sua música a um corpo correspondente de pesquisadores, 192. ‘Queremos agradecer ao governador Mário Covas por nos permitir fazer com a música o que vocês, pesquisadores, estão realizando com a ciência’. A Orquestra Sinfônica de São Paulo, recomposta nos últimos anos a partir dos incentivos dados pelo Governo paulista, iniciou sua apresentação com a abertura de Antônio Carlos Gomes, ‘Salvator Rosa’, executando, de Alberto Nepomuceno, ‘Batuque – Dança de Negros’ e, de Francisco Mignone, Congada – Dança Afro-Brasileira, da ópera ‘O Contratador de Diamantes’. Uma interpretação vigorosa do Hino Nacional Brasileiro pelo Coral Sinfônico do Estado de São Paulo, regido por Naomi Munakata, encerrou as homenagens aos cientistas.
Além do governador e da presidente do Fundo Social de Solidariedade, Lila Covas, estiveram presentes à cerimônia o ministro da Educação Paulo Renato, o vice-governador Geraldo Alckmin, os reitores e representantes de centros de pesquisa, o ex-ministro da Administração, Luís Carlos Bresser Pereira e vários secretários de Estado.