Cientistas descrevem mecanismos causadores da labilidade na pressão arterial

A labilidade é uma anomalia caracterizada por oscilações da pressão arteria

seg, 08/10/2007 - 10h29 | Do Portal do Governo

Num artigo recentemente veiculado em revista internacional de farmacologia, cientistas brasileiros descreveram, pela primeira vez, os mecanismos causadores da labilidade na aorta isolada de ratos submetidos à desnervação sino-aórtica (um modelo experimental caracterizado por alta labilidade da pressão arterial, sem hipertensão).

A labilidade é uma anomalia caracterizada por oscilações da pressão arterial. “Trata-se de um fenômeno que é mais danoso do que a própria hipertensão arterial (pressão alta)”, como explica o farmacêutico Matheus Lavorenti Rocha, um dos autores do trabalho publicado na revista australiana Clinical and Experimental Pharmacology and Physiology.

A professora Lusiane Maria Bendhack, do Departamento de Física e Química da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP de Ribeirão Preto (FCFRP), que é a orientadora do projeto de pesquisa, conta que todos os experimentos foram feitos com animais em laboratório. “O primeiro passo foi fazermos a desnervação, ou seja, a interrupção dos presso-receptores que levam informações sobre a pressão arterial ao cérebro”, conta a professora. Os presso-receptores são estruturas nervosas localizadas nas paredes de alguns vasos sangüíneos. Para esse procedimento, os pesquisadores efetuaram uma secção, o que causou uma lesão, provocando assim a labilidade da pressão arterial.

Fato incomum

Após provocar a lesão, os cientistas retiraram e isolaram a aorta dos animais. “Foi quando percebemos que a oscilação da pressão arterial, a labilidade, passou a ocorrer também na aorta, o que é incomum”, descreve Lavorenti. Segundo o pesquisador, essa labilidade na aorta é causada por ciclos involuntários de contração e relaxamento.

Lusiane destaca que o trabalho é inédito justamente por identificar essa atividade oscilatória na aorta isolada dos animais. “Trata-se de uma pesquisa básica em que procuramos entender os mecanismos envolvidos nessa oscilação”. Para tanto, os pesquisadores analisaram o endotélio vascular, que é a camada mais interna do vaso sangüíneo. O endotélio tem uma importante função reguladora da atividade oscilatória devido à produção de fatores de relaxamento, como o óxido nítrico.

Eles também estudaram a ativação de canais iônicos de cálcio e de potássio nos vasos dos animais. “Bloqueamos esses canais e percebemos que a atividade oscilatória depende do fluxo de íons cálcio e potássio. Os canais iônicos são importantes na contração e relaxamento”, descreve Lavorenti. A oscilação (labilidade) depende justamente do movimento de contração e relaxamento na artéria.

Os estudos de Lavorenti ainda não estão concluídos e sua tese de doutorado deverá ser defendida ainda este ano na FMRP. Mas, segundo Lusiane, a pesquisa mostra sua importância, já que as conseqüências danosas da hipertensão têm sido bastante estudadas, principalmente em modelos animais. Em modelos experimentais de hipertensão, a função dos presso-receptores também é deprimida, o que ao longo do tempo também induz a uma labilidade da pressão arterial. Ela lembra que muitos estudos mostram que a labilidade da pressão arterial é mais nociva a alguns órgãos, como artérias, rins e coração, do que a própria hipertensão, fato este que sugere fortemente o controle da labilidade da pressão arterial para proteção destes órgãos.

 Da Agência USP de Notícias

(S.M.)