Cidade ganha nova opção de cultura: vem aí o Museu de História de SP

Espaço será instalado na Casa das Retortas, próximo ao centro antigo

qui, 19/02/2009 - 9h30 | Do Portal do Governo

Vem aí mais um cartão postal para cidade (e o Estado): o recém-criado Museu de História de São Paulo, que começará a funcionar em março de 2010, na antiga Casa das Retortas, no Parque D. Pedro. Tudo que possa documentar o passado paulista estará lá: as primeiras construções de taipa erguidas num povoado insignificante, as transformações econômicas e sociais ocorridas ao longo dos séculos, as conquistas, a terra da fartura, habitada pelos índios tupiniquins e por eles chamada Campos de Piratininga. Tudo isso é história e o objetivo do novo museu será exatamente esse: oferecer ao visitante a oportunidade de um mergulho na história paulista.

A implantação do novo espaço ficará sob a responsabilidade da Secretaria de Estado da Cultura, por meio da Fundação Patrimônio Histórico da Energia e Saneamento, que cuidará do projeto de museologia e museografia da instituição cultural. A antiga Casa das Retortas – do final do século 19, com área de 20 mil metros quadrados e tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) – fica à mostra na ponta de uma rua não menos famosa, a do Gasômetro, entre as ruas Maria Domitila e da Figueira.

Vizinho ilustre – No passado, era utilizada para extração de gás destinado à iluminação pública antes de São Paulo dispor de energia elétrica. Retorta é o recipiente que recebia o carvão para produzir gás. Tem como vizinho o antigo Palácio das Indústrias, que já foi sede de vários órgãos públicos, entre eles a prefeitura paulistana e a Assembleia Legislativa. Mais para cima fica o Pátio do Colégio, onde aportou há mais de 500 anos o padre Anchieta, vindo de viagem difícil, do litoral até o planalto.

Todas as dificuldades enfrentadas estão registradas em carta histórica, que estará em exibição no novo museu. “Nossa intenção é que o museu tenha essa narrativa cronológica, desde a chegada do colonizador até os dias atuais, da subida à serra, mostrando a diversidade étnica, a riqueza natural do Estado, o espírito empreendedor, a expansão cafeeira, aspectos importantes para se entender a história de São Paulo”, ressalta o curador Roberto Pompeu de Toledo, jornalista e escritor, autor do livro A capital da solidão, uma história de São Paulo, das origens a 1900.

Segundo o curador, as ideias sobre o museu, acervo e exposições permanentes começam a aparecer, a sair do papel. Haverá recriações de construções, como, por exemplo, da Casa Bandeirista, vestuário utilizado pelos paulistas ao longo do tempo, assim como peças autênticas, de época, solicitadas aos diferentes outros equipamentos culturais já existentes para compor o acervo do museu. “Enfim, os paulistas terão um museu meio interativo, aliado ao tradicional, sempre de maneira abrangente e didática do começo ao fim”, enfatiza.

Parceiros – Para fazer tudo isso, Roberto Pompeu terá a companhia de dois outros nomes de peso: o também escritor e jornalista Jorge Caldeira, e o historiador Marco Antônio Villa, este com a incumbência de coordenar o Centro Paulista de Documentação (SPDOC), com documentos dos governos anteriores disponíveis para consulta pública. O novo centro de pesquisa histórica terá prédio próprio e atuará em parceria com o Arquivo Público do Estado.

O objetivo, segundo Villa, é resgatar a memória política, cultural, econômica e social de São Paulo, com ênfase no registro da história local. O SPDOC é inspirado no Centro de Pesquisa e Documentação de História do Brasil, da Fundação Getúlio Vargas, do Rio de Janeiro, criado em 1973, com a finalidade de produzir, organizar, pesquisar, publicar e divulgar documentos referentes à memória e à história do Brasil.

A memória oral, por exemplo, será registrada em entrevistas com personalidades de destaque na política de São Paulo, como o ex-governador Laudo Natel, já entrevistado. Plínio de Arruda Sampaio já falou sobre o governo Carvalho Pinto. “No momento, há pesquisadores, historiadores, enfim, muita gente envolvida com os futuros trabalhos, todo mundo está em campo”, adianta Villa. Devem integrar o conjunto, ainda, restaurante, lanchonete e livraria.

Mais cultura na região do Gasômetro

Comerciantes e empregados da região da Rua do Gasômetro comemoram a chegada do Museu de História de São Paulo. Valdeci Galvão, vendedor numa loja de madeiramento, há mais de 25 anos na Rua Maria Domitila, diz que aprendeu a conviver com o movimento que “vira e mexe” acontece por ali. “São gravações de propaganda de Ferrari, lançamentos de carros, fashion week. Sempre fiquei olhando de esguelha, sem nunca chegar perto. Neste museu, finalmente, poderei entrar e aprender um pouco mais, justo eu, que mal completei o ensino médio”.

Já o comerciante Nelson Kastropil, nascido no bairro paulistano do Belém, proprietário de uma loja de embalagens descartáveis, há 12 anos na região, esfrega as mãos de contente. “Quanto mais se fizer nesse sentido melhor, até para avivar um pouco nossa memória. Gostaria de ver em destaque nesse museu tudo o que diz respeito ao café, essa máquina propulsora que alavancou São Paulo e que tem muito a ver com a história de minha família, imigrantes iugoslavos”.

Maria das Graças Leocádio – Da Agência Imprensa Oficial