Cidade Expandida retrata situação das ferrovias paulistas

Artistas plásticas viajam nos trens da CPTM e realizam documentação poética das linhas ferroviárias

dom, 03/06/2007 - 13h09 | Do Portal do Governo

Diariamente cerca de 1 milhão e 300 mil usuários viajam pelos 253,2 quilômetros de linhas da CPTM, que cortam 22 municípios da Região Metropolitana de São Paulo.

A rotina daqueles que utilizam a ferrovia para ir ao trabalho, à escola ou lazer tem sido quebrada desde o início do anoquando as artistas plásticas Cleiri Cardoso e Yili Rojas começaram a percorrer as seis linhas da Companhia, registrando tudo o que captam com seus olhares atentos de forma poética.

O trabalho das artistas faz parte do projeto Cidade Expandida, contemplado pelo PAC (Programa de Ação Cultural do Governo do Estado de São Paulo), no final do ano passado. O PAC foi instituído pela Lei Estadual de Incentivo a Cultura nº 12.268 de 20 de fevereiro de 2006 para oferecer mecanismos do Fundo Estadual de Cultura, Recursos Orçamentários e Incentivo Fiscal para projetos culturais.

Desde então, Cleiri Cardoso e Yili Rojas estão registrando em desenhos, textos e fotografias a movimentação dos trens. Yili comentou que, a partir da próxima semana, começarão a gravar sons. Ao percorrer as linhas, a dupla conheceu não só os pontos extremos da metrópole, como também visitou os pátios e áreas internas da companhia, áreas pouco conhecidos pelos usuários.

Do material levantado nesse período, as artistas, que trabalham juntas desde 2004, extraíram um conjunto de imagens, códigos e palavras que se transformarão em xilogravuras de grande formato. Para expô-las, elas estão confeccionando uma caixa de madeira gigante. Com o formato retangular, medirá 3,0 x 6,0 x 3,5h, e será montada no Espaço Cultural CPTM, na Estação Brás, em julho. O público poderá interagir percorrendo este espaço fechado para ver as xilogravuras.

“Não é um trabalho para uma galeria, para se distanciar de sua origem. Quando começamos a pensar nessa reflexão sobre o transporte, tínhamos certeza de que o resultado teria de ser devolvido à ferrovia de todos os jeitos. Tanto que, no final, faremos uma exposição no Brás”, comenta Yili.

Cidade Expandida deixará São Paulo no ano que vem e ganhará o mundo.

As duas artistas participarão de uma exposição no Canadá e poderão mostrar o resultado da documentação brasileira em uma galeria em Quebec. Na oportunidade, Cleiri e Yili pretendem realizar ação similar na ferrovia canadense. O resultado do trabalho do outro continente será trazido para São Paulo.

Yili acredita que o público dos dois países se identificará com os trabalhos, não importando o idioma, o aspecto e as diferenças culturais.

“Ferrovias são muito parecidas”, comenta a artista, que nasceu em Bogotá, na Colômbia, e reside no Brasil desde 1990.

 Desenhando no vagão

As duas constantemente viajam pelas linhas da CPTM observando toda a movimentação e sempre acompanhadas de seus cadernos de desenho, em que registram suas impressões.

Não raro, são abordadas por usuários que perguntam o que estão fazendo. “Temos a vontade de fazer as pessoas olharem para a ferrovia de outro jeito e estamos conseguindo. Sempre que estamos viajando de trem, chamamos a atenção das pessoas. Elas perguntam muito e têm muito interesse”, relata Yili.

Questionada sobre as mudanças ocorridas nos trens nos últimos meses, a colombiana revela: “Pelo fato de estar viajando todos os dias, não percebemos. É como ver uma criança todo dia. Você não consegue perceber que ela está engordando e crescendo”.

 Um novo olhar

As duas artistas promovem uma oficina cultural para 20 jovens neste final de semana, na comunidade de Amador Bueno, ponto final da Linha B, que transporta diariamente cerca de 317 mil usuários. São 41,6 km de trilhos que ligam Itapevi a outras linhas de trem e metrô. No programa de sábado e domingo, atividades gratuitas, das 9 às 17 horas, no prédio antigo da Estação Amador Bueno, vizinho ao atual e cedido à população da região: um passeio de trem, técnicas de xilogravura e colagem, além de um encontro com artistas plásticos convidados.

No sábado, às 9 horas, o grupo embarcou em Amador Bueno rumo a estação Itapevi, com o objetivo de produzir uma documentação poética sobre as quatro paradas. “Nossa proposta é que estes jovens, que estão acostumados com a rotina dos trens em seu dia-a-dia, observem esta realidade com um novo olhar. A partir daí eles devem se expressar através de textos e desenho”, explica Yili Rojas.

Deste “olhar mais atento” surgirá a base para o trabalho de xilogravura a ser desenvolvido no domingo. A dupla convidou outros artistas plásticos para participar das oficinas a fim de fazer um intercâmbio com os jovens.

“Alguns dos inscritos têm envolvimento com grafite, desenho e mangás. No entanto, com a xilogravura será a primeira vez de todos”, conta Yili.

Na manhã de segunda-feira, dia 3, a dupla de artistas se encontrará com os participantes da oficina que não tiverem aula, na parada Amador Bueno. Elas farão intervenções nas xilogravuras e depois as fixarão no muro e nas plataformas da estação, utilizando metil celulose, cola que é facilmente retirada com água, sem danificar a parede. A idéia é que os trabalhos fiquem expostos por pelo menos 30 dias, até se deteriorarem naturalmente pelo tempo.

Yili considera, também, a possibilidade de levar o resultado da oficina de Amador Bueno para outras estações, promovendo um intercâmbio maior entre os usuários. “Queremos dividir a experiência que tivemos estes meses dentro do projeto com os jovens para que eles se sintam donos do patrimônio ferroviário e sejam conseqüentemente usuários mais conscientes”, observa a artista. “Cada um guardará sua matriz e, se houver possibilidade de a CPTM organizar uma exposição em suas dependências, o trabalho poderá ser reimpresso e resgatado”.

Regina Amabile