Centro de Reabilitação da PM é referência em atendimento médico

Unidade foi criada para atender a necessidade de assistência diferenciada ao policial militar que sofreu algum tipo de lesão ortopédica e/ou neurológica

ter, 21/12/2010 - 11h00 | Do Portal do Governo

O tenente Kleber Felipe, da Força Tática do 38º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano (38º BPM/M), junto com dois policiais militares, perseguia assaltantes em uma ocorrência de roubo de carga, no dia 2 de setembro deste ano. Durante a perseguição, a viatura foi fechada por outro veículo e capotou. Resultado: Felipe fraturou duas costelas, teve ferimento no ouvido esquerdo e paralisa facial. Após quase um mês internado e apresentando sequelas no rosto, o oficial foi encaminhado ao Centro de Reabilitação da PM (CRPM). Os outros policiais sofreram apenas escoriações.

Há quase dois meses o oficial está em tratamento. Ele chegou ao Centro de Reabilitação com um quadro avançado de paralisa facial. Após avaliação feita por um fisiatra e uma bateria de exames laboratoriais realizados, o oficial iniciou a fisioterapia para recuperar os movimentos do rosto.

Desde que iniciou a reabilitação, Felipe conta que sentiu uma evolução no seu quadro e que espera em breve retornar ao policiamento. A boa notícia é que o nervo facial está em processo de regeneração, conforme constatado em exame de eletroneuromiografia. Além do tratamento fisioterápico, a reabilitação do oficial é acompanhada de perto por fonoaudiólogos e fisiatras.

Assistência diferenciada

Em dezembro de 2004, foi criado o Centro de Reabilitação para atender a necessidade de assistência diferenciada ao policial militar que sofreu algum tipo de lesão ortopédica e/ou neurológica. O CRPM oferece programas de reabilitação para que o policial possa retornar à atividade profissional, como no caso de Felipe, ou adaptar-se a uma nova condição corporal, adquirir independência, além de recuperar a auto-estima e voltar ao convívio social.

Em média, 300 policiais militares passam por mês pelos tratamentos do Centro de Reabilitação, vizinho ao Hospital da Polícia Militar (HPM). Não são apenas policiais militares em serviço que contam com o atendimento de reabilitação. Aqueles que sofrem algum acidente ou ferimento, mesmo fora horário de trabalho, também têm direito aos tratamentos disponíveis. Para criar o CRPM, o Governo do Estado de São Paulo investiu R$ 208 mil.

Para iniciar o tratamento de reabilitação é necessário o encaminhamento do paciente por alguma das Unidades Integradas de Saúde (UIS) distribuídas pelo Estado. Na UIS e no cento médico do HPM é realizado todo o atendimento primário de saúde da corporação.  No total, há nove áreas médicas disponíveis: Fisiatria, Ortopedia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Psicologia, Nutrição, Terapia Ocupacional, Educação Física e Assistência social. Todo o quadro de funcionários na área da saúde é graduado. O Centro de Reabilitação conta com 75 funcionários, sendo quatro médicos oficiais (três ortopedistas e um fisiatra); 45 na área de saúde, além de 30 policiais militares nas tarefas administrativas e na chefia.

O subchefe do Centro de Reabilitação, major Daniel César Simões Teixeira, explica que a composição do quadro de funcionários por policiais militares facilita a adesão ao tratamento. “Aqui, os policiais se sentem em casa. Eles conversam com outros policiais, trocam experiências e, ao ver o esforço do colega para superar as dificuldades, também se empenham cada vez mais”, conta.

Estrutura e instalações

O prédio, de dois andares, está dividido em três grandes alas de tratamento: Fisioterapia Ortopédica, Fisioterapia Neurológica e Condicionamento Físico de Reabilitação.  Todos os ambientes foram arquitetados para facilitar a mobilidade dos pacientes. A acessibilidade começa no estacionamento, onde diversas vagas são destinadas aos portadores de necessidades especiais.

Na entrada, cadeiras de rodas estão disponíveis aos policiais para a locomoção interna, caso ele não a traga de casa. As portas e os acessos são mais largos para que pacientes em cadeira de rodas ou em andadores possam transitar pela unidade com facilidade. Além disso, há diversas rampas de acesso com corrimão. Em todas as alas, os banheiros são adaptados.

Boa parte da iluminação do prédio é natural, com paredes de vidro ao redor das salas. Por elas, os pacientes podem admirar a mata ao redor das instalações. Os quadros de energia são individualizados e quase todos os aparelhos utilizam alimentação elétrica de 100 watts, com exceção de alguns usados no tratamento fisioterápico. A maior parte das ligações é realizada dentro da telefonia em rede.  

Tratamento interdisciplinar acelera a reabilitação do policial

Quando chegam ao Centro de Reabilitação da Polícia Militar (CRPM), os policiais passam por uma avaliação médica, que define qual o melhor tratamento indicado ao quadro apresentado. Normalmente, são aplicados tratamentos interdisciplinares para acelerar a reabilitação, ou seja, o paciente recebe o tratamento aliado a outra especialidade médica.

É o caso da sargento Márcia Ferreira Tomé, da 2ª Cia. do 27º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano (27º BPM/M). Aos 43 anos, ela sofreu uma queda acidental da viatura, durante patrulhamento de rotina. O impacto causou uma contusão lombar (lombalgia) que a afastou temporariamente do trabalho. Após uma bateria de exames e com dores agudas, Márcia chegou ao CRPM em julho deste ano.

Ela começou o tratamento pela ala de Fisioterapia Ortopédica. Nessa área há diversos boxes com aparelhagem completa. Neles, as macas têm uma altura padronizada de 70 centímetros, facilitando a acomodação dos pacientes, inclusive na hora de subir no equipamento. Em todos há apoios de cabeça e colchonetes para que o policial fique em posição de extensão total, evitando forçar as articulações.

Para a reabilitação de Márcia, o fisioterapeuta optou por diversas sessões para a aplicação de Ultrassom (USO), usado como antiinflamatório; de Neuroestimulação Elétrica Transcutânea (Tens) indicada para dores agudas e crônicas – desde processos inflamatórios traumáticos até sequelas de processos infecciosos; e a terapia por micro-ondas, com calor profundo que atinge as partes moles como gordura, tendão e músculos.

Dependendo do tratamento, nos boxes também há a terapia por diatermia por Ondas Curtas (OC), aplicação terapêutica de correntes alternadas de alta frequência para aquecer os tecidos por conversão; e o laser. Na ala de Fisioterapia Ortopédica também estão presentes os turbilhões de água fria e quente, e duas salas de Reeducação Postural Globo (RPG).

Aliado ao tratamento fisioterápico ortopédico, a sargento passou por um processo de reeducação alimentar, com acompanhamento do nutricionista. “Aqui aprendi a me doutrinar com relação à alimentação. Como estava acima do peso, tive que emagrecer para diminuir as dores nas costas”, explica.

Para acelerar a recuperação da policial, o fisioterapeuta Sérgio do Nascimento, no CRPM desde 2005, agregou ao tratamento a Hidroterapia. “Essa forma de terapia aquática ajuda os pacientes a realizarem exercícios mais facilmente, já que o peso fica reduzido na água. A reabilitação vem mais rápida”, explica o profissional.

Na piscina aquecida à 31º C, Márcia já realizou quase 20 sessões. Os diferentes exercícios são feitos com a ajuda de equipamentos adaptados, que se assemelham a flutuadores. Toda série é acompanhada pelo fisioterapeuta. O quadro da policial já teve uma melhora significativa e os profissionais acreditam que em breve ela poderá retornar ao trabalho.

No tratamento do tenente Kleber Felipe, a técnica aplicada pela fisioterapeuta Gisele Cristina Marques da Rocha, especialista na área de paralisa facial, é o Método Kabat, que está incluído no grupo da Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva. “Essa técnica trabalha com estímulos, promovendo e acelerando as respostas dos mecanismos neuromusculares”, explica.

Desde que iniciou a reabilitação, Felipe conta que sentiu uma evolução no seu quadro e que espera em breve retornar ao policiamento. “O atendimento é ótimo, eu só tenho elogios a fazer. Os profissionais são extremamente capacitados e sabem como motivar o paciente. Tenho melhoras significativas e estou confiante que, em breve, retornarei ao trabalho”, comenta.

Locomoção e tecnologia

Os policiais militares que não têm como se deslocar para o tratamento no CRPM, contam com o serviço de assistência social, onde é providenciado o transporte adequado. “Normalmente, para o tratamento, eles chegam em uma viatura do batalhão mais próximo de onde residem ou, em alguns casos, são transportados pelo Serviço de Atendimento Especial, o Atende”, explica o subchefe do centro, major Daniel Teixeira.

É o caso do soldado Eduardo de Campos, de 37 anos, que atuava no 2º Batalhão de Choque (2º BPChq). Ele ficou paraplégico após ser atingido por quatro tiros nas costas, em janeiro de 2005. Como de costume, ele foi buscar a mulher em um posto de saúde, em Guaianazes, na zona leste da Capital. Quatro homens armados invadiram a unidade. Sem saber sobre o roubo, Campos estacionou seu carro do lado de fora da unidade de saúde, mas permaneceu dentro do veículo. Um dos homens saiu do posto e tentou abrir a porta do lado do passageiro. O soldado sacou a pistola, mas foi baleado.

Em março do mesmo ano, Campos começou o tratamento no Centro de Reabilitação. Ele é conduzido à unidade três vezes por semana por uma viatura do batalhão da área onde reside. O soldado passou por diversas consultas com psicólogo e também pelas sessões de Terapia Ocupacional. Atualmente, ele faz tratamento de reabilitação na ala de Fisioterapia Neurológica e pela ala de Condicionamento Físico.

Campos conta que o Centro de Reabilitação da PM foi fundamental para a sua reinserção social. “Quando iniciei o tratamento, estava bem dependente de outras pessoas. Hoje reconquistei minha independência e auto-estima. Em casa já consigo fazer diversos afazeres domésticos. Tive que reaprender tudo; agora meus braços são minhas pernas”, diz, com satisfação.

Há um mês, o Centro de Reabilitação adquiriu um equipamento importado, que possibilita a terapia por suspensão do paciente. O moderno aparelho já está sendo usado no tratamento de Campos. O paciente, preso pelo tronco, braços e quadril, é suspenso, ficando novamente de pé.

O policial militar e fisioterapeuta Clodoaldo Lins Alves, que há seis anos atua na ala de Fisioterapia Neurológica do CRPM, ressalta que a nova aquisição é de extrema importância para o tratamento de reabilitação dos pacientes. “A terapia de suspensão possibilita uma descarga de peso, estimula o tronco, o quadril e o abdômen, além de trabalhar a nova consciência corporal e a adaptação a essa nova condição do corpo”, justifica.

Aprendizado e atualização constantes

Os policiais do CRPM buscam constantemente a atualização e o aprendizado de novas técnicas para melhorar a qualidade no atendimento. Em novembro, dez policiais militares realizaram um curso sobre osteoartrite da mão, oferecido pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Esporadicamente, os policiais também fazem cursos de atualização pelo Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOP) do Hospital das Clínicas (HC).

Ainda em novembro, o Centro de Reabilitação realizou a Jornada Técnico-Científica na sede da unidade. Durante o evento, policiais e profissionais da saúde ministraram palestras, que abordaram temas como “Fisioterapia na Lesão Corporal”; “Abordagem Terapêutica na Incontinência Urinária”; “Biofeedback, Conceito e Prática”; “Hidroterapia na Lombalgia”; “Importância da Psicologia na Reabilitação”.

O major Daniel explica que a unidade é referência no atendimento na área de saúde. “Várias unidades de saúde visitam o Centro de Reabilitação para buscar novos modelos de atendimento e tecnologias. Recentemente, comandantes da Polícia Militar do Rio de Janeiro conheceram as nossas instalações, tratamentos e técnicas”, destaca.

O Centro de Reabilitação recebeu a certificação de Ambiente Livre de Tabaco, em grau ouro, já que nenhum dos funcionários fuma. A unidade também conquistou o Prêmio Paulista de Qualidade, em grau bronze.

Da Secretaria da Segurança Pública