Centro Agronômico busca aprimoramento das frutas

Uma das ações é o desenvolvimento de frutas de clima temperado com pequena exigência de frio

qua, 14/03/2007 - 16h10 | Do Portal do Governo

Até meados dos anos 70, pêssegos dourados e polpudos ou uvas como a do tipo Itália não eram produtos comuns em supermercados e feiras paulistas. A disseminação dessas e de outras frutas de clima temperado ocorreu, em especial, graças aos trabalhos de um órgão ligado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento: o Centro de Fruticultura, vinculado ao Instituto Agronômico (IAC), de Campinas. A instituição, que completou 70 anos no final de 2006, tem o nome formal de Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio de Frutas (Capta Frutas).

O trabalho fundamental do Centro de Fruticultura é o de melhoramento genético e desenvolvimento tecnológico (relativo à enxertia, adubação e poda, por exemplo) em viticultura e culturas de clima temperado e tropical. Além disso, a unidade fornece, entre outros materiais, porta-enxertos, também conhecidos como “cavalos” (ver a seguir), e variedades de copa de videiras isentas de vírus, sementes de pêssego, caqui e macadâmia, enxertos de variedades de pêssego, nectarina, ameixa, caqui e macadâmia, entre outras.

Segundo Nilberto Bernardo Soares, diretor da instituição, as variedades criadas atendem não apenas o Estado de São Paulo, mas todo o Brasil. “Hoje, por exemplo, o Nordeste brasileiro detém 85% das exportações de manga, graças à introdução de espécies pelo IAC, por meio de seu Centro de Fruticultura”, afirma Soares. O Brasil é o primeiro produtor de maracujá do mundo. O que contribuiu para a expansão desse cultivo foi o lançamento, pelo IAC, de três híbridos da planta.

Para o pesquisador científico e diretor substituto José Luiz Hernandes, que há 15 anos atua no centro, todo o trabalho ali desenvolvido tem aplicação praticamente imediata pelos agricultores. Isso acontece porque a fruticultura é uma atividade de agricultura familiar, própria do pequeno produtor, que tem pouca capacidade de investimento, principalmente em pesquisa. Difere, portanto, das grandes culturas (como cana, café e cítricos), que em geral dispõem de capital e possibilidades de investimento. Por isso, variedades adaptadas às necessidades do mercado e novas técnicas de cultivo lançadas pelo centro são logo absorvidas pelo pequeno agricultor.

O pesquisador salienta que “o nosso trabalho serve tanto ao pequeno como ao grande produtor”. Todavia, abrange mais a agricultura familiar em razão do próprio perfil da fruticultura.

Porta-enxertos

Um dos trabalhos de destaque nesses 70 anos da instituição é o desenvolvimento das frutas de clima temperado com pequena exigência de frio. “Até 30 anos atrás, a fruticultura de clima temperado só se desenvolvia nas regiões mais frias do Estado, como a de Campos do Jordão”, explica o pesquisador científico Fernando Picarelli Martins, que trabalhou de 1971 a 1998 na instituição. Nesse período, atuou durante dez anos como pesquisador-chefe, cargo equivalente ao de atual diretor. Hoje, segundo ele, esse tipo de fruticultura se propagou por todo o Estado.

Outros trabalhos de expressão foram o lançamento de variedades de uvas, para vinho e mesa, e os porta-enxertos tropicais, destinados ao cultivo da videira em climas quentes. O porta-enxerto é uma planta que funciona como suporte, sobre a qual é enxertado o ramo (estaca) de outra planta. Esse tipo de técnica é empregado quando se deseja obter uma árvore frutífera idêntica à original ou matriz, principalmente em termos de frutos. É diferente, por exemplo, de plantar o caroço (originário do cruzamento de plantas diferentes), que em geral vai produzir plantas com características diversas das encontradas na matriz.

O porta-enxerto foi desenvolvido para ser um suporte que, além de resistir a pragas e a doenças, fosse mais vigoroso na exploração do solo em busca de água e suprimentos. Segundo o pesquisador Hernandes, é possível pegar uma estaca de frutífera, como da uva, e plantá-la diretamente. “Nasceria uma planta cópia da anterior, chamada de pé-franco”, afirma. Porém, mais vulnerável ao ataque de pragas – ao contrário do “cavalo”, desenvolvido a partir de espécies mais rústicas.

Nas décadas de 40 e 50, o IAC começou a criar porta-enxertos tolerantes a pragas de solo e que se adaptavam ao cultivo em regiões quentes. Na época, os “cavalos” usados no País eram europeus, provenientes de clima temperado. Hoje, isso ainda ocorre, mas há também as linhagens brasileiras. Os principais porta-enxertos lançados pela instituição são o IAC 313 (denominado Tropical), IAC 572 (Jales), IAC 571-6 (Jundiaí) e IAC 766 (Campinas), todos referentes à uva. “A viticultura do Nordeste, por exemplo, é praticamente toda em cima de ‘cavalos’ IAC”, informa Hernandes.

Na lista dos trabalhos importantes do Centro de Frutificultura, está ainda a produção de materiais isentos de vírus. Desde o final dos anos 80 o IAC limpa, multiplica e distribui para os produtores porta-enxertos e variedades de uvas isentas de microrganismos. “Em todo o mundo, um problema muito sério são as viroses”, observa Martins. Diferentemente das doenças causadas por fungos, não há um produto que possa combatê-las. “A única maneira de se conseguir uma planta sadia é por meio desse trabalho feito em laboratório, que elimina o vírus e, em seguida, multiplica a planta em cultura de tecidos, formando matrizes isentas do microrganismo”, explica.

Novas variedades

As principais pesquisas do centro referem-se a uvas e frutas de caroço – pêssego, nectarina, nêspera, abacate, ameixa, manga e damasco japonês (em japonês ume – pronuncia-se umê). Mas a relação de frutíferas estudadas e colecionadas vai além. Compreende maracujá, caqui, goiaba, abacaxi, morango, maçã, pêra, noz-pecã, macadâmia, marmelo e castanha portuguesa. Anualmente, com seus materiais propagadores (porta-enxertos e variedades de frutas), atende produtores principalmente de São Paulo, mas também de outros Estados e, até mesmo, de outros países, como Tailândia, Vietnã, Angola e Moçambique. A procura, entretanto, é maior que a capacidade de atendimento da demanda.

As pesquisas nascem da própria antevisão dos pesquisadores ou de seu contato com os produtores, por meio de encontros e dos chamados Dias de Campo – eventos em que são apresentadas novas variedades e tecnologias relativas a frutas. Os produtores, nesse segmento agrícola, são diferentes entre si, explica Hernandes. Os que se dedicam a frutas de caroço, por exemplo, estão sempre procurando novidade, porque esse mercado muda rapidamente. Um dia, o consumidor quer pêssego amarelo; no outro, branco; depois, com casca vermelha, e assim por diante. O produtor de uva, ao contrário, é reticente a novas variedades, porque as existentes atendem às exigências do mercado. O que ele busca é a diminuição de custos, que pode ocorrer por meio de porta-enxertos mais resistentes ou de um sistema de produção que utilize menos defensivos, por exemplo.

Muitas das tendências atuais do mercado começaram a ser pesquisadas anos ou décadas atrás, já que o trabalho de melhoramento genético leva bastante tempo. O desenvolvimento de frutas de clima temperado com menor exigência de frio, por exemplo, iniciou-se na década de 40, mas sua introdução e expansão no mercado ocorreram a partir dos anos 80. Para o futuro, aponta o ex-diretor Martins, a tendência mundial, em termos de viticultura, é o comércio de uvas sem sementes e o cultivo protegido de uva, que demandará menos agrotóxicos.

Quase realidade, também, é a utilização do ume como “cavalo” para o cultivo de algumas espécies frutíferas, afirma o atual diretor, Soares. Esse tipo de porta-enxerto provoca o nanismo ou a diminuição do tamanho da planta, proporcionando aumento da densidade de plantio (muito mais plantas por hectare) e da produção, afora a facilidade para podar e cuidar do vegetal.

Invenção do centro é patenteada por empresa japonesa

As pessoas deliciam-se com eles, mas em geral desconhecem um fato: os cachos de uva itália existentes no mercado têm menos de 50% das bagas originais. Em uvas finas de mesa, a eliminação de grande parte do conteúdo é necessária para que o cacho não fique compacto e com bagas pequenas. Esse desbaste, que antes era realizado com uma tesourinha, hoje é feito com uma pequena escova, conhecida como pente. Em ambos os casos, o trabalho é manual. A nova ferramenta, adotada há alguns anos, é uma criação do Centro de Fruticultura (na época Estação Experimental de Jundiaí) em parceria com a Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Jaboticabal.

Fernando Picarelli Martins, um dos idealizadores da escovinha, explica que existe um período certo para se realizar o desbaste. “Depois disso, a operação não tem o efeito desejado”, comenta. Com a tesourinha, um trabalhador bem treinado consegue desbastar 150 cachos de uva por dia. Com a escovinha, 4 mil cachos diariamente.

“Desde a introdução da uva itália no País, em 1940, essa é a técnica mais revolucionária em termos de viticultura de uva fina de mesa”, observa Martins. A elaboração da ferramenta se deu a partir dos populares pentes redondos para cabelo, com encaixe para a mão. “Cortamos um pedaço deles, ao qual foi adaptado um cabo”, descreve o pesquisador. Descobriu-se que a invenção foi patenteada por uma empresa japonesa, mas isso não significa um problema, já que o pente pode ser facilmente montado por qualquer viticultor.

SERVIÇO

Centro de Fruticultura

Av. Luiz Pereira dos Santos, 1.500 – Bairro Corrupira – Jundiaí

Acesso pela Rodovia SP-332 – altura do km 72,5

Paulo Henrique Andrade – Da Agência Imprensa Oficial

 

(AM)