Censo revela queda na população de animais na Mata Atlântica

Levantamento pioneiro foi feito em mais de 2.000 quilômetros de áreas contínuas

qua, 22/07/2009 - 18h00 | Do Portal do Governo

Amplo censo das populações de animais da Mata Atlântica, realizado durante quatro anos em 12 unidades de conservação do Estado de São Paulo, mostrou que ocorre escassez de algumas espécies mesmo em áreas de vegetação preservada.

O trabalho, conduzido pelo professor Mauro Galetti, do Laboratório de Biologia da Conservação do Departamento de Ecologia da Unesp, em Rio Claro, deu origem à maior amostragem das populações de grandes mamíferos do bioma já realizadas até hoje. O resultado foi publicado em artigo na edição da revista Biological Conservation.

Segundo o pesquisador, a pesquisa foi motivada pela existência de uma lacuna nos levantamentos dessas populações que nunca abrangeram áreas contínuas. “Até hoje, só foram realizados censos em pequenos fragmentos florestais, deixando de fora, por exemplo, áreas contínuas do litoral. Temos em São Paulo a maior floresta contínua de Mata Atlântica, sobre a qual não se sabe quase nada”, informa.

Os pesquisadores percorreram mais de 2.000 quilômetros para avistar os animais nas três maiores ilhas de São Paulo: Cardoso, Ilhabela e Anchieta, além da Serra de Paranapiacaba, onde estão localizados os parques Petar, Carlos Botelho, Intervales, Jacupiranga e Jureia, e da Serra do Mar, nos parques Pinciguaba, Caraguatatuba, Cunha, Santa Virgínia e Jurupará, que liga as duas serras.

Os levantamentos integram projeto vinculado ao Programa Biota-Fapesp, na modalidade Auxílio à Pesquisa-Regular. A finalidade foi fazer um diagnóstico das populações de grandes mamíferos que habitam a Mata Atlântica, em áreas de conservação não fragmentadas, e recaíram sobre espécies pouco conhecidas, como monocarvoeiros, queixadas, veados, antas, cutias, esquilos e outras, que são alvo de caça.

“A grande importância desse trabalho é que agora temos em mãos informações sobre espécies raras e ameaçadas de extinção numa área contínua”, afirma Galetti. Segundo ele, entre os pesquisadores é comum a crença de que as populações de grandes mamíferos estão salvas nas principais áreas protegidas do litoral. “Já ficou demonstrado que isso não é verdade. Foi constatada a diminuição de populações de algumas espécies, e até a extinção local de animais importantes, em várias áreas”, relata.

Ocorrência rara

Nos Parques localizados na Serra de Paranapiacaba foram constatados grande número de primatas e reduzida população de outras espécies, como queixadas e veados. Já na Serra do Mar, próximo a Ubatuba e Caraguatatuba, onças-pintadas e monocarvoeiros têm ocorrência rara, ou foram extintos localmente. “Observamos em cada região da Mata Atlântica abundância diferenciada de grandes mamíferos, que refletem, em parte, a pressão de caça nesses locais e a existência de recursos-chave, como o palmito-juçara”, relata.

Em Ilhabela, cuja área se estende por mais de 30 mil hectares e é toda florestada, as populações de mamíferos são muito baixas. Galetti ressalta que se trata da unidade de preservação cuja fauna dessas espécies é a mais empobrecida do Estado, mas que tem a maior quantidade de aves de grande porte, como jacutingas e macucos. “Ilhabela ainda precisa ser melhor estudada para sabermos por que é tão pobre em mamíferos de grande porte”, analisa Galetti.

Outra constatação foi o aumento da população de pequenos animais, como cutias e saguis, em consequência da escassez dos grandes mamíferos. É um fenômeno ecológico chamado pelos pesquisadores de compensação de densidade. “Essa alteração pode levar ao desequilíbrio ambiental, apesar da existência da mata preservada. Os grandes mamíferos são importantes dispersores e predadores de sementes, o que garante o controle e a proliferação de espécies de fauna e flora e a manutenção e o aumento da diversidade”, explica Galetti.

Detetives na floresta 

Outro projeto temático coordenado pelo professor Mauro Galetti e aprovado no âmbito do Biota-Fapesp objetiva estimar o efeito da variação da abundância dos grandes mamíferos na diversidade vegetal das plantas. O estudo parte do princípio de que esses animais são importantes dispersores e predadores de sementes, além de herbívoros, e com isso influenciam a ocorrência de espécies de plantas.

A pesquisa está sendo feita por meio de técnicas de extração de DNA fecal e pelos de algumas espécies raramente avistadas pelos pesquisadores na floresta, mas que deixam vestígios por onde passam. A bióloga Cibele Biondo, que atua no estudo como pós-doutoranda da Unesp em genética da conservação, explica que o primeiro passo foi definir as áreas de coleta de amostras dos animais em análise (no caso, queixadas, catetos e antas), conforme a ocorrência natural. “Somos como detetives na floresta buscando pistas”, comenta Cibele.

O procedimento abrange a extração do DNA das amostras, para a identificação dos indivíduos. A partir disso, são constituídos marcadores moleculares de cada espécie. “Nosso laboratório já desenvolveu o marcador molecular da anta, coisa que nenhum laboratório nacional ou internacional havia conseguido”, diz Alexandra Sanches, que também trabalha com Galetti. Ela explica que a análise indicará a quantidade de antas de cada área e a sua variabilidade genética. “A variabilidade baixa é um indicativo de redução do tamanho populacional”, diz a pesquisadora.

Da Agência Imprensa Oficial