Casa Guilherme de Almeida oferece programação dinâmica para atrair diversos públicos

A antiga morada do poeta mantém acervo original, exibe pinturas de ícones modernistas e promove oficinas e cursos

qui, 05/05/2011 - 20h00 | Do Portal do Governo

O charmoso sobrado onde o poeta, tradutor, jornalista e advogado paulista Guilherme de Almeida (1890-1969), viveu durante 23 anos recebeu o nome de “casa da colina” por ser a quarta residência erguida numa ladeira do arborizado Pacaembu, em 1946. Transformada em museu biográfico e literário em 1979, guarda livros antigos e raros em sua biblioteca, exibe pinturas, esculturas, gravuras e desenhos dos mais importantes artistas modernistas e mostra o mobiliário e objetos pessoais do ilustre morador e de sua esposa Baby de Almeida.

Reaberta à visitação orientada, no final do ano passado, a Casa Guilherme de Almeida oferece programação dinâmica para atrair diversos públicos. As árvores na rua, o muro baixo da casa e o jardim bem cuidado convidam o visitante a explorar os 350 metros quadrados “da ilha de excelência de preservação de acervo original e primoroso” como diz Claudinelli Ramos, coordenadora da unidade de Museus da Secretaria da Cultura. “É como entrar num túnel do tempo para se conhecer a vida do artista e a produção modernista. O imóvel passou por reformas para garantir acesso seguro e atrativo ao público”. 

Um dos fundadores do movimento modernista brasileiro, Guilherme de Almeida recebeu o título de Príncipe dos Poetas Brasileiros, em 1959, num concurso patrocinado pelo jornal Correio da Manhã do qual participam nomes ilustres como Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e Vinícius de Morais. Entrou na Academia Paulista de Letras (APL), em 1928, e dois anos depois, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras (ABL).

À sombra das árvores

Fechada em 2006, a casa passou por reestruturação e obras de adequação dos espaços. Vinculada à Secretaria Estadual da Cultura, é administrada em parceria com a Poiesis – Organização Social de Cultura. Ampliou sua atuação com a abertura do Centro de Estudos de Tradução Literária. “A ideia é oferecer atividades sintonizadas com o amplo campo de produção cultural e artística do poeta e com os temas de seu interesse”, explica o poeta Marcelo Tápia, diretor da Casa Guilherme de Almeida

As oficinas, cursos, projeção de filmes, palestras e recitais ocorrem no quintal sombreado por mangueira, abacateiro, véspera e pitangueira. Repousa no local a tumba do pequinês Ling Ling, um dos cachorros do poeta. O deck com arquibancada acomoda 70 pessoas. Dois balcões e cadeiras montáveis, protegidos por toldo retrátil, completam os assentos para comportar de 150 a 200 pessoas. Há banheiros adaptados e elevador para o visitante se deslocar do térreo até o segundo andar da casa.

Cursos mais especializados ocorrem no jardim de inverno. Nesse local, há um telão, móveis e paredes decoradas com obras presenteadas pelos amigos modernistas de Guilherme de Almeida. De Tarsila do Amaral está exposta a pintura Romance. De Anita Malfatti, Mulher de vestido vermelho e uma aquarela em nanquim dedicada a Baby. A Mulata nua adormecida, de Di Cavalcanti, é considerada uma das mais belas. Há também um retrato de Baby pintado por Samson Flexor, entre outros quadros.

Legado estético

Todas as telas do museu receberam molduras de proteção (luz e temperatura), feitas por especialistas da Pinacoteca, já que o museu não pode ser climatizado, informa o diretor. Objetos também passaram por restauros. No hall, destacam as litogravuras do pintor alemão Johann Moritz Rugendas, o quadro Portus Calvi (do século 17) do pintor holandês Franz Post e o retrato do Conde Maurício de Nassau feito por Cândido Portinari.

Na sala de estar está uma coletânea de quadros da esposa do poeta de diversos artistas brasileiros, entre os quais o Retrato de Baby de Almeida, de Lasar Segall que também fez o Retrato de Guilherme de Almeida. A escultura Sóror Dolorosa (mesmo nome de um poema de Guilherme de Almeida) feita por Victor Brecheret foi exposta durante a Semana de Arte Moderna de 1922. Destacam-se ainda a cabeça de Baby esculpida pelo suíço William Zadig e um busto de Joaquim Figueiras.

Nos outros dois ambientes do térreo há notável conjunto de móveis, objetos decorativos e prataria de origem brasileira, portuguesa, holandesa e inglesa. Na sala de jantar, destaca-se o bule de prata com incrustação de cristal, do período de Nassau (século 17), e um quadro de Baby, de Reis Júnior, pertencente à Pinacoteca que ficará em exposição por um ano. Na sala íntima, há um bule com ideograma da palavra chá, a capa de prata feita pelo poeta para acomodar sua obra Poetas de França e material religioso.

Memórias preciosas

No 1º andar há duas vitrines: uma exibe livros importantes do poeta e a outra, edições originais de autores modernistas com significativas dedicatórias e a Revista Klaxon, que ele ajudou a fundar e da qual concebeu a capa. Todas as edições da revista, porta-voz do movimento, estão reunidas num volume. Na primeira vitrine estão livros como Nós (primeiro livro de poemas), A dança das horas, Era uma vez, Natureza morta com frutas tropicais, Rua, Acalanto de Bartira, Acaso e Você. Este último é exemplar único, edição de 1931. Dedicado a Baby, traz desenhos os originais feitos à mão por Anita Malfatti a partir de esboços do poeta.

Mário de Andrade escreve na dedicatória do livro Paulicea Desvairada: “Este sim: o maior poeta vivo do Brasil”. Na dedicatória do romance Sagarana, Guimarães Rosa escreve: “Descobridor e padrinho do “Magma”, com admiração, a gratidão e a amizade”. A bordo de um navio, Oswald de Andrade escreve na capa de rosto da primeira edição de Pau Brasil, cuja capa é de Tarsila: “Para o Guy não enjoar. Oferece a admirativa mentalidade irmãs de travessa travessia”. Escreve Drummond na dedicatória de Alguma Poesia: “Fino, delicioso poeta, cordialmente”.

Em outra parede está o croqui do Obelisco do Ibirapuera, monumento símbolo da Revolução Constitucionalista de 1932, do escultor ítalo-brasileiro Galileo Ugo Emendabili. Dentro desse mausoléu estão os corpos dos estudantes Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo e restos mortais de 713 revolucionários. Chama a atenção, também, uma foto de Walt Disney com a dedicatória: “Best wishes to Guilherme de Almeida. Sincerely“.

Acervo de raridades

Nesse piso ficam a biblioteca, hemeroteca, o arquivo fotográfico e o quarto do casal conservado com a decoração original. A biblioteca recebeu prateleiras novas para acomodar os seis mil exemplares, incluindo as primeiras edições das obras do autor, e passou por nova classificação e catalogação. Agora, é possível consultar o catálogo pela internet e obter anotação, autógrafos e dedicatórias. Em breve serão inseridas imagens das capas. Para consultar os livros é preciso fazer solicitação e obter referendo de instituição de pesquisas.

Os livros antigos e raros passaram por processo de higienização e restauro da Pinacoteca e de outros especialistas. Entre as preciosidades que precisam ser manuseadas com luvas pela bibliotecária estão: pergaminho do século 17; a Bíblia de Lutero, Die Bibel, em alemão, de 1879; reimpressão da primeira edição de Ulysses, de James Joyce, 1924 e dois volumes de Dom Quixote de La Mancha, de Miguel Cervantes com litogravura de Gustavo Doré, de 1878.

Escada do paraíso

No sótão, segundo andar, fica o estúdio. “Aqui era seu paraíso interior, seu refúgio o local onde recebia os amigos mais íntimos”, conta Tápia. Tinha tanto apreço pelo local que escreveu o texto A escada da minha mansarda: “Chego, pesado, do dia cretino e pornográfico… O fardo é exaustivo. Enfrento a escada… Lá, no topo, está a libertação…”

À semelhança dos anjos da escada de Jô, o poeta ficava com a alma mais leve a cada degrau subido, explica o diretor. O poeta costumava degustar o uísque e passar madrugadas teclando a antiga máquina de escrever na escrivaninha recheada de objetos de escritório e pessoais. As luzes acesas até altas horas chamavam a atenção dos transeuntes que podiam observá-lo pela janela da frente. Pela visão de fundo, avistava o céu e os campos verdes do Pacaembu pelas lentes do telescópio. Espírito prático, mantinha no ambiente os livros mais usados, guarda-roupa básico, poltrona para dormir e pia embutida.

O sótão acomoda lembranças (arma, capacete, granada) de sua participação na Revolução Constitucionalista de 1932 e quadros e esculturas oferecidos ao poeta pelos amigos modernistas. O alistamento voluntário, como soldado raso, custou-lhe a prisão e o exílio em Portugal.

Serviço
Casa Guilherme de Almeida
Rua Macapá, 187, Pacaembu, São Paulo/SP
Funciona de terça a domingo, das 10h às 17h
Visitas: quartas, sextas, sábados e domingos; visitas agendadas: terças e quintas.
Entrada Gratuita.

Para acompanhar a programação cultural e obter mais informações clique no endereço www.casaguilhermedealmeida.org.br 

Mais informações pelo telefone 3673-1883 e 3672-1391 ou e-mail: educativo.cga@poieses.org.br  

Da Agência Imprensa Oficial