Capital sedia simpósio que discute modelo animal para pesquisa

Evento foi realizado na Faculdade de Medicina da USP e reuniu especialistas sobre uso do peixe zebrafish na área científica

ter, 01/10/2019 - 16h36 | Do Portal do Governo

A Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) recebeu, entre 26 e 28 de setembro, as atividades do VI Simpósio Zebrafish como Modelo Animal para Pesquisa. A iniciativa teve o objetivo de proporcionar a troca de experiências e conhecimentos sobre aspectos da utilização do peixe zebrafish na área científica.

“Hoje, o modelo é aceitável e está em segundo lugar como animal mais utilizado em pesquisas no mundo, pois apresenta 70% dos genes semelhantes aos humanos. Essa similaridade se intensifica no nível molecular”, explica o pesquisador e professor Michael Kent, da Universidade de Oregon, dos Estados Unidos, que atua na área há mais de duas décadas.

A cientista Rita Fior, da Fundação Champalimaud, líder de um grupo de pesquisa que investiga como o zebrafish pode auxiliar médicos na definição do melhor tratamento para pacientes oncológicos, destacou que a escolha do peixe foi pela rápida resposta do animal, se comparado com outros modelos vivos.

“Estamos ainda em fase de pesquisas, porém a expectativa é chegar a definições que ajudem os médicos a escolherem a melhor terapia de tratamento para aquele paciente em particular”, salienta a pesquisadora.

Cooperação

Outro convidado especial, Jean-Philippe Mocho, cirurgião veterinário do Instituto Francis Crick (Inglaterra) e membro da Federação de Laboratórios Europeus de Associação de Animais Científicos, disse que o modelo de uso do zebrafish é similar, apesar de as estruturas laboratoriais no Brasil serem pequenas, se comparadas com Estados Unidos e Europa. “Existem boas iniciativas de inovação por parte dos brasileiros e uma abertura para cooperação”, enfatiza.

Em 2018, um estudo inédito realizado no Instituto Butantan com a ajuda de embriões do zebrafish identificou que as águas utilizadas para o abastecimento do município de Campina Grande, na Paraíba, são inapropriadas para uso. É a primeira vez que a instituição usa o peixe-paulistinha, como ele também é conhecido, em um teste para medir a presença de toxinas da água.

“Eu me assustei com os resultados. Algumas amostras causavam letalidade e muitas vezes constatávamos a morte dos peixes após 24 horas de teste. Outras amostras causaram sérias anomalias, como edema cardíaco e malformação da boca, dos olhos e da coluna vertebral”, revela Mônica Lopes Ferreira, responsável pela pesquisa no Butantan. “Se a água não é boa para o peixe, também não está boa para o consumo humano”, completa.

Ameaça

Para o responsável pelo trabalho no Rio de Janeiro, o pesquisador Fabiano Thompson, do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), a seca prolongada na região de Campina Grande, associada à alta concentração de nutrientes na água, são fatores que podem propiciar a floração de microrganismos tóxicos presentes nos reservatórios.

“O estudo demonstrou que açudes submetidos a longos períodos de seca estão sujeitos à proliferação de microrganismos tóxicos. A água poluída desses locais representa ameaça muito séria à saúde humana”, afirma.