Butantan utilizará cães para testar vacina contra leishmaniose

Objetivo do órgão é proteger o animal e evitar a disseminação de casos em humanos

dom, 28/12/2008 - 11h12 | Do Portal do Governo

Testes clínicos da vacina contra a leishmaniose visceral, produzida nos Estados Unidos, serão realizados em cães brasileiros do Maranhão, Piauí, Ceará, Minas Gerais e da cidade paulista de Araçatuba. Esses locais foram escolhidos para participar do estudo por apresentarem elevada incidência da doença. A iniciativa é resultado de parceria entre o Instituto Butantan e a norte-americana Infectious Diseases Research Institute (IDRI), de Seattle, nos Estados Unidos.

A leishmaniose visceral, tipo mais grave da doença, é transmitida pela picada do mosquito-palha (Lutzomyia longipalpis), que inicialmente pica um cão infectado, para depois transmitir ao homem. O parasita Leishmania donovanii provoca febre, perda de peso, anemia, inchaço significativo do fígado e baço, e possivelmente derrames. Se a moléstia não for tratada pode levar à morte.

Como o cão é ‘reservatório de leishmaniose’, o objetivo da vacina é proteger o animal e assim evitar a disseminação da doença, que contabiliza em média 3,5 mil novos casos por ano no Brasil, informa o pesquisador Expedito Luna, do Instituto de Medicina Tropical da USP, que atua no programa do Instituto Butantan.

O inseto se desenvolve em ambientes em que há substâncias orgânicas em decomposição, ou seja, fezes de animais, galhos e folhas. Luna menciona que a moléstia era comum apenas na zona rural nordestina, na década de 1970. No entanto, desde os anos 1980, expande-se para regiões urbanas não só do Nordeste, mas de quase todos os Estados brasileiros.   

Eficácia de 70% – Segundo o pesquisador, em São Paulo a leishmaniose visceral já foi encontrada em Araçatuba e Bauru e em cidades da Grande São Paulo, como Cotia. “A doença se multiplica e os métodos para eliminar o mosquito são ineficazes”, informa o pesquisador.

A primeira etapa da pesquisa inclui testes clínicos, que serão realizados até meados de 2009 com financiamento de R$ 2 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Ministério da Saúde.

Nessa fase, será medida a toxicidade da vacina. Os pesquisadores empregarão como metodologia a divisão de um grupo de animais sadios, entre os quais metade receberá placebo e o restante, a vacina. A previsão é concluir os testes clínicos em um ano.

“A idéia é avaliar metodologias mais modernas para a imunização de cães. A vacina deverá ter eficácia acima de 70%”, explica o professor Isaias Raw, presidente da Fundação Butantan, instituição privada sem fins lucrativos, que desenvolve vacinas e produtos em parceria com o Instituto Butantan.

O objetivo é produzir uma forma profilática contra leishmaniose efuturamente desenvolver um tratamento, possivelmente vacina para humanos infectados. 

Futura fábrica – Atualmente, no Brasil, existem duas vacinas para a prevenção de leishmaniose em cães, mas nenhuma apresenta resultados comprovados. Luna informa que a segunda etapa do estudo incluirá novos testes da vacina, com ajuste da dose conforme os efeitos verificados na fase anterior. Na terceira etapa será avaliada a eficácia do produto. Luna acredita que serão necessários dois ou três anos para a conclusão dos trabalhos.

O Instituto Butantan planeja construir uma fábrica para a futura produção da vacina contra a doença. Não há cálculos exatos sobre o investimento, mas estima-se que serão necessários R$ 18 milhões, dos quais R$ 5 milhões serão aplicados pelo próprio Butantan.  

Viviane Gomes

Da Agência Imprensa Oficial