Butantan anuncia vacina contra dengue para dezembro

O Butantan realizará ensaios em uma cidade no interior de SP para testar a eficácia da vacina

ter, 22/07/2008 - 9h16 | Do Portal do Governo

Representantes de instituições brasileiras que pesquisam a criação de vacina contra a dengue falaram a respeito desse trabalho na 60ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada recentemente em Campinas. A dengue é uma das maiores epidemias mundiais e, por isso, alvo de estudos de institutos de pesquisa e corporações farmacêuticas de diversos países. No Brasil, o desafio foi tomado pelo Instituto Butantan de São Paulo e pelo Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro.

Os trabalhos do Butantan, em parceria com o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês), estão mais adiantados. Estamos na fase de pesquisas clínicas com humanos e em dezembro deveremos ter planta piloto produzindo a vacina”, anunciou Expedito de Albuquerque Luna, do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (USP), que participa da pesquisa do Butantan. O especialista disse que espera ter, em 2010, uma planta definitiva instalada no instituto paulista.

O Butantan realizará em breve ensaios minuciosos em uma cidade no interior de São Paulo para testar a eficácia da vacina. “Necessitamos de dados precisos sobre o número de contaminadas, o que ainda não existe”, afirmou Luna. Isso ocorre porque a maioria das pessoas que contrai a doença não desenvolve os sintomas. No estudo, os moradores da região que tiverem febre farão exame de sangue para saber se foi causada pela dengue.

Quatro vírus – A vacina da Fiocruz nasce com a técnica de clones infecciosos e tem como base o vírus da febre amarela. A técnica consiste em retirar um trecho do genoma do vírus da febre amarela e colocar no lugar o pedaço equivalente do vírus da dengue. O resultado é o chamado “genoma quimérico”. O uso do vírus da febre amarela não vem por acaso. O instituto fluminense é o maior produtor mundial da vacina 17D, para combater a doença. Com isso, a Fiocruz pretende aproveitar o know how e a capacidade instalada para futura produção da nova vacina.

Mas combater a dengue no organismo humano não é fácil. Existem quatro tipos diferentes de vírus e, para ser eficaz, a vacina terá de ser tetravalente, ou seja, inibir os quatro simultaneamente. “Para cada um desses tipos é preciso encontrar um equilíbrio entre atenuação do vírus (para que a pessoa não adoeça com o medicamento) e imunogenicidade (a ‘força’ que a dose deve ter para imunizar)”, explicou Elena Caride Siqueira Campos, da Fiocruz.

Segundo a pesquisadora, o trabalho ainda não encontrou resultados satisfatórios para a dengue do tipo 3. Mesmo assim, ela espera em 2009 poder realizar os testes das primeiras formulações tetravalentes da vacina e, até 2012, dar início aos testes clínicos. No Brasil, até agora foram registrados os tipos 1, 2 e 3 da doença mas, segundo os dois especialistas, é apenas uma questão de tempo para o tipo 4 (já encontrado na Colômbia e na Venezuela) chegar ao País.

100 milhões de casos em 2007

“A dengue sempre existiu – mas com o advento das embalagens plásticas, que servem de criadouro para o mosquito vetor Aedes aegypti, o difícil acesso à água potável e as más condições de saneamento dos aglomerados urbanos – ela se disseminou pelo mundo a partir da década de 1970”, informou Expedito de Albuquerque Luna, do Instituto de Medicina Tropical da USP. Em todo o mundo, foram registrados 100 milhões de casos da doença no ano passado. Cerca de 3 bilhões de pessoas moram em regiões sujeitas ao contágio e 20 milhões de turistas passam anualmente por esses lugares.

Da Agência Fapesp

(M.C.)