Brasil terá 1º instituto de pesquisa especializado em células-tronco

Novo órgão, com sede na USP, entrará em funcionamento em um ano

sex, 09/01/2009 - 9h07 | Do Portal do Governo

Maior investimento em redes de pesquisa no País, com incentivos de R$ 500 milhões, o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT), parte de um programa federal para o setor, vai entrar em funcionamento em cerca de um ano, com sede na Universidade de São Paulo (USP). Fará parte dele o INCT em Células-Tronco, que destacará seus estudos e pesquisas nas células obtidas de pacientes com doenças genéticas.

Segundo a coordenadora, professora Mayana Zatz, serão investidos nesse projeto aproximadamente R$ 9 milhões, provenientes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), ambos do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).

O projeto estará ligado ao Centro de Estudos do Genoma Humano (CEGH), também coordenado por Zatz e pela professora Maria Rita Passos-Bueno. “Poderemos derivar diferentes linhagens celulares de cada pessoa. Vamos trabalhar na compreensão dos genes causadores de doenças para tentar entender porque pessoas, portadores da mesma mutação, podem ficar gravemente comprometidas, enquanto outras permanecem sem sintomas a vida toda”, explica Mayana.

Banco de DNA – Além disso, haverá pesquisas para testar drogas em linhagens de células-tronco obtidas de pacientes com doenças genéticas, o que permitirá observar o efeito diretamente nas células antes de testá-las em seres humanos. Outro objetivo é o desenvolvimento de terapias celulares para esses pacientes. Haverá ainda a criação de um banco de DNA de pessoas idosas saudáveis, a partir dos 70 anos.

“No futuro, estes genomas servirão para entender o significado de mutações encontradas em pessoas mais jovens, isto é, se causam ou não doenças”, prevê a docente. Segundo Mayana, o desenvolvimento de novas tecnologias de sequenciamento do DNA proporcionará grande quantidade de informações, mas com conhecimento ainda insuficiente. Nesses casos, o banco de DNA será importante fonte de consulta.

“Para se ter ideia, quando o genoma humano foi sequenciado pela primeira vez, em 2003, o custo foi de US$ 3 bilhões. Já foi anunciado que em 2009 esse valor cairá para US$ 5 mil. E, nos próximos dez anos, deverá chegar a mil dólares. Inúmeras pessoas vão querer sequenciar seu genoma e o nosso banco de DNA de idosos saudáveis será preciso para avaliar o significado de alterações genéticas encontradas em pessoas mais jovens”, explica.

Pesquisas nacionais – Mayana ressalta que o INCT em células-tronco e terapia celular reunirá vários grupos de pesquisas de todo o País. Os pesquisadores serão de instituições como a Unifesp, de São Paulo, e de outros Estados como Espírito Santo, Ceará e Bahia. Outra função do INCT será ampliar o número de especialistas nessa área.  

Para a cientista, o INCT em células-tronco será referência na América Latina e despertará a atenção de pessoas ligadas à área do mundo todo. Além disso, a iniciativa do governo federal vem num momento feliz. Em maio de 2008, o Supremo Tribunal Federal (STF) aprovou definitivamente as pesquisas com células extraídas de embriões no Brasil, uma conquista da qual participou ativamente.

Mais recentemente, no final de setembro do ano passado, equipe liderada pela pesquisadora Lygia Pereira da Veiga, do Instituto de Biociências (IB) da USP conseguiu produzir a primeira linhagem brasileira de células-tronco embrionárias. “São resultados muito importantes para as pesquisas”, destaca a pesquisadora, ressaltando que outro fruto destas ações será um curso sobre células-tronco a ser realizado em fevereiro, no Instituto do Coração (Incor) da Faculdade de Medicina da USP. “O programa terá 80% do financiamento oriundo do Reino Unido, país que congrega os maiores especialistas no assunto”, finaliza Mayana.

Antonio Carlos Quinto

Da Agência USP de Notícias