Brasil cria tecnologia para produção de porcelana de uso odontológico

Produto é feito com matérias-primas nacionais renováveis

ter, 03/07/2007 - 10h49 | Do Portal do Governo

O Brasil entra no seleto grupo de países com tecnologia para produzir a porcelana de ossos. Conhecida pelo alto grau de alvura, leveza, translucidez, resistência (mecânica e química) e valor, é fabricada desde o século 18 na Inglaterra, Estados Unidos e China. O diferencial é que a porcelana brasileira é feita com matérias-primas nacionais, abundantes e renováveis: cinzas de ossos bovinos, caulim (tipo de argila) e feldspato (rocha dotada de propriedade de fusão). O material foi desenvolvido pelo físico Ricardo Yoshimitsu Miyahara, da Escola Politécnica (Poli) da Universidade de São Paulo.

Por conta de suas características, o pesquisador diz que a porcelana de ossos tem “grande apelo estético e potencial para aplicações em bioimplantes (próteses) odontológicos e ósseos”. Os testes para esse fim ainda não foram feitos, mas Miyahara assegura que, “com certeza, o material tem potencial para substituir as porcelanas usadas na odontologia e nos implantes ósseos”.

Esse tipo de cerâmica não é indicado para a produção de louças, pois o custo de fabricação é mais alto do que o da porcelana comum. Apesar disso, será mais barato do que o importado, pois utiliza a matéria-prima nacional. A porcelana brasileira tem a brancura e a resistência da inglesa.

Bioimplantes

Quando comparada com as porcelanas nacionais, a de ossos apresenta resistência que pode chegar a quase o dobro da porcelana comum. Em comparação visual, a comum tem a aparência entre cinza e verde ao lado da porcelana de ossos, que é mais alva e translúcida”, explica Miyahara. Como o Brasil é grande produtor de porcelanas, um dos maiores exportadores de carne bovina e tem argila e feldspato, a matéria-prima é abundante e barata. A importada utiliza, entre outras matérias-primas, o Cornish stone (material inglês da família do feldspato, que não há em outra parte do mundo). Foi o inglês Josiah Spode quem criou, no século 18, a fórmula que utiliza cinzas de ossos calcinados para produzir porcelana.

Pelo fato de ser feita com ossos bovinos (livres de contaminantes), a porcelana de ossos tem o mesmo componente mineral dos ossos humanos (a hidroxiapatita). Por isso tem grande potencial para aplicações em bioimplantes, já que evita problemas de rejeição (comuns nas próteses de platina), explica o físico. A hidroxiapatita, presente na natureza, contém contaminantes, e a sintética custa caro.

Produto comercializado

O segredo da porcelana de ossos brasileira está na formulação (50% de cinzas de ossos, 20% de caulim e 30% de feldspato) e nas condições de produção, como o tempo de moagem (24 horas) e a temperatura ideal de queima do material (1.270o C). É exatamente esse controle rigoroso do processo de fabricação e o tratamento prévio das matérias-primas que encarecem o produto final, afirma o pesquisador.

A pesquisa é resultado de tese de doutoramento feito em escala de laboratório no Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Politécnica, sob a orientação do professor Samuel Márcio Toffoli. Financiada pela Fapesp, Capes e CNPq, a pesquisa durou cinco anos, ganhou novos pesquisadores de iniciação científica, mestrandos e doutorandos, e teve parceria com outros laboratórios da universidade. Miyahara diz que é preciso fazer novos estudos antes de comercializar o produto. Segundo ele, há algumas indústrias interessadas, mas por enquanto não foram firmadas parcerias.

Claudeci Martins

Da Agência Imprensa Oficial