Botucatu terá hospital para tratamento de animais silvestres

Com centros cirúrgicos, laboratórios e aparelhos de diagnóticos especializados, o novo espaço ficará em área isolada na Fazenda Lageado

sex, 10/12/2010 - 13h00 | Do Portal do Governo

A Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), Campus da UNESP de Botucatu, terá um hospital exclusivo para animais selvagens. A nova estrutura permitirá ampliar o atendimento e evitar transmissão de doenças por meio do contato com bichos domésticos. Os recursos virão da reitoria e do governo estadual.

A Secretaria de Justiça e Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo liberou R$ 2 milhões para a construção do prédio e, em contrapartida, a UNESP investirá mais R$ 1,9 milhões para equipar as instalações. A parceria foi firmada no dia 1º de dezembro. Após a tramitação do acordo nas instâncias da Universidade, a expectativa é de que a nova unidade seja entregue num prazo de vinte meses.

Os recursos que a secretaria está dispondo são do FID (Fundo Estadual de Defesa dos Interesses Difusos), criado para ressarcir a coletividade por danos causados ao patrimônio público, sejam eles ambientais, artísticos, históricos, turísticos, econômicos, paisagísticos ou culturais. “Os constantes desmatamentos e outras formas de degradação da natureza têm elevado o número de acidentes com animais silvestres, o que torna o projeto que apresentamos uma forma de mitigar em parte esse prejuízo”, afirma o professor Carlos Roberto Teixeira, responsável pelo Serviço de Medicina de Animais Silvestres da FMVZ.

Com a diminuição das áreas de mata na região de Botucatu, suçuaranas, tigres, lobos-guará, gaviões, corujas e outras aves, além de cervídeos de diversas espécies acabam seguindo para regiões ocupadas pelo homem em busca de alimento. Os bichos acabam vítimas de atropelamentos e de outros acidentes, além de adoecerem ou de atacarem pessoas.

Atualmente, os animais capturados são levados para uma ala dentro do hospital veterinário, que é voltado a espécies domésticas. “Esse contato é bastante ruim porque há o risco de transmissão de infecções, sobretudo dos domésticos para os selvagens”, diz Teixeira. Ele conta que, em um caso recente, filhotes de lobos que estavam internados morreram ao contrair cinomose, uma infecção viral comum em cães, que leva a dificuldades respiratórias, anorexia, espasmos e é altamente letal.

Outra dificuldade é o temperamento dos animais silvestres. Os tamanduás-bandeira, por exemplo, comumente encontrados feridos próximos às estradas da região, têm grande dificuldade de se acalmar em ambientes ruidosos, sobretudo na presença de caninos, um de seus predadores naturais. “Os tamanduás só comem formigas e cupins, uma dieta que requer um espaço apropriado para acomodá-los, algo impossível em uma clínica convencional”, explica o professor.

Para atender a essas necessidades, o novo hospital ficará em uma área mais isolada da Fazenda Lageado, uma das unidades experimentais de ensino da FMVZ. A instalações terão centros cirúrgicos, laboratórios, aparelhos de diagnóstico por imagem, alojamento para estagiários e residentes, anfiteatro para cem pessoas, cozinha industrial, recintos com solário adequados para internação de várias espécies, além de tanques com água para banhos recreativos.

Parazoológico
O Centro de Medicina e Pesquisa de Animais Selvagens da FMVZ já promove educação ambiental em escolas da região de Botucatu. Com o novo hospital, a equipe aposta na ampliação desse trabalho por meio da criação de um pequeno parazoológico, uma espécie de zoológico para animais deficientes.

Como os zoológicos convencionais não podem expor espécies mutiladas e nem elas estão aptas a voltar ao ambiente natural, o destino desses bichos é incerto no Brasil. A idéia do parazoológico é inspirada em experiências positivas que os pesquisadores testemunharam nos EUA. Lá, animais que perderam alguma capacidade ou partes do corpo são usados em aulas e palestras, ajudando a conscientizar a população sobre a importância de conhecer e preservar a fauna. A atividade educativa também pode ajudar a combater o tráfico de animais silvestres e os cativeiros irregulares na região.

O novo hospital facilitará, ainda, a realização dos treinamentos oferecidos pela FMVZ a policiais ambientais, bombeiros, guardas municipais e funcionários da vigilância sanitária. São a esses profissionais que os cidadãos recorrem quando um bicho silvestre é encontrado. “Buscamos capacitar esses agentes para que, durante as capturas, seja preservada a integridade física deles e a saúde das demais pessoas e dos animais”, afirma Teixeira. 

Da UNESP