Botânico encontra espécies exóticas e perigosas no trecho sul do Rodoanel

Orientação do instituto é retirar as três plantas nativas e incinerar suas sementes

ter, 24/06/2008 - 11h21 | Do Portal do Governo

Pesquisadores do Instituto de Botânica (IB) localizaram três espécies de plantas exóticas e perigosas (Leucaena leucocephala, Murraya paniculata, Pittosporum undalatum Vent) no trecho sul do Rodoanel. O instituto orienta que as mesmas sejam eliminadas para evitar o risco de produzir mudas que serão utilizadas no Projeto de Reflorestamento de áreas degradadas. Também não é recomendado o plantio, nem a manutenção dessas espécies em qualquer outra área porque prejudicam as demais plantas. Outra recomendação é a coleta e a incineração das sementes para evitar a propagação.

Elas podem comprometer a floresta nativa por serem invasoras, agressivas e competitivas, alerta Luiz Mauro Barbosa, coordenador do Projeto de Reflorestamento do Instituto de Botânica. Os três exemplares receberam a classificação de “contaminante biológico”. A descoberta ocorreu durante análise do material proveniente da colheita de sementes encaminhadas ao Botânico. As três espécies arbóreas/arbustivas exóticas apresentam diversos problemas.

Barbosa informa que o IB tomou todas as providências para orientar o Dersa, construtoras e as prefeituras por onde passará o Rodoanel (Embu, Itapecerica da Serra, São Bernardo do Campo, Santo André e Mauá) sobre os cuidados necessários com essas plantas já que oferecem riscos à floresta. “Ninguém vai querer que a disseminação ocorra”. A recomendação é necessária já que serão reproduzidos três milhões de mudas para reflorestar 1.016 hectares como forma de compensar o desmatamento. O coordenador acrescentou que além da orientação há visitas aos locais e acompanhamento dos trabalhos.

Raras e perigosas – Popularmente conhecida como Leucena, a Leucaena leucocephala, além de exótica é extremamente agressiva. Da família das Leguminosae, é competidora e ocupa o local das espécies nativas. Originária da América Central, tem sementes miúdas.

Popularmente conhecida como falsa murta ou murta-de-cheiro, a Murraya paniculata hospeda um vírus que ataca culturas de citrus e de outras espécies nativas pertencentes à mesma família, de acordo com a pesquisadora científica Rosângela Bianchini. A falsa murta é originária do sul e sudeste da Ásia (Índia e Malásia) e pertence à família das Rutaceae. Além de não se produzir mudas e nem de plantar, a orientação do Botânico é para se extirpar a planta de forma definitiva.

Espécie invasora, exótica e de crescimento rápido e agressivo, a Pittosporum undalatum Vent é altamente competitiva perante as nativas. Originária da Austrália e pertencente à família Pittosporaceae, seu nome popular é pau-incenso. Devem ser seguidas as mesmas recomendações indicadas para as amostras anteriores.

Diversidade – Segundo Barbosa, é a variedade de espécies no reflorestamento que assegura a biodiversidade e a continuidade da floresta. Ele cita relatório do IB, relativo a 2001 e 2002, onde se constata que nos reflorestamentos induzidos feitos no Estado de São Paulo foram plantadas apenas 30 espécies (e quase sempre as mesmas). No Projeto de Reflorestamento do Rodoanel está previsto o plantio de pelo menos 80 espécies por hectare para garantir o equilíbrio dinâmico e fazer a floresta vingar, destaca Barbosa.

Ele informa, ainda, que o estudo de impacto ambiental do Botânico usa metodologia inédita e o trabalho dos técnicos ocorre em três frentes: inventário da flora, resgate de plantas nativas e restauração. No site do instituto há recomendações e modelos de recuperação de áreas degradadas para ajudar quem for fazer reflorestamento.

Raridades perdidas na vegetação

Durante os trabalhos na área do Rodoanel, o Instituto de Botânica coletou 1.018 espécies, quase todas com identificação de família botânica e boa parte com definição de gênero. Além dessas espécies perigosas, o Botânico reconheceu preciosidades como as sete espécies raras que apresentam graus diferentes de extinção. A bromélia Tillandsia lineari era considerada extinta há 40 anos e só foi descoberta porque estava em floração.

A orquídea Catlleya loddigesii corre risco de extinção por causa do extrativismo e da perda de habitat. A orquídea  Zypogetalum maxillar Zygopetalum está ameaçada de extinção. A palmeira Lytocaryum hoehnei, cuja folhagem é prateada, está classificada como quase ameaçada e listada no Livro Vermelho das Espécies Ameaçadas do Estado de São Paulo. As três espécies arbóreas (Trichilia lepidota, Cupamia furfuraceae e Ocotea odorífera) estão incluídas na lista das espécies ameaçadas. Existem 1.085 espécies (sendo 242 arbóreas) ameaçadas de extinção em São Paulo.

Colheita da sementes

Colheita de Sementes e Árvores Nativas é um dos cursos mais procurados do Instituto de Botânica. Tem duração de uma semana e é ministrado por técnicos do instituto. O próximo deverá ocorrer no final deste mês ou começo de julho. Também será agendado outro para antes de setembro, já que nos meses de agosto a outubro é mais intensa a produção de sementes da maioria das espécies. Os cursos terão continuidade até o final da obra (Rodoanel) em março de 2010. A procura é grande porque falta mão-de-obra qualificada. A atual capacidade média produtiva da região é de 700 as 800 mil mudas.

Segundo Barbosa, há viveiros particulares interessados em produzir e comercializar mudas para o reflorestamento. No site do Botânico há informações das espécies nativas listadas por região com dados para quem deseja fazer o plantio. Há indicação de 700 espécies e informações (cidade, telefone, endereço e e-mail) dos 117 viveiros que produzem mudas.

SERVIÇO

Mais informações, lista das 700 espécies e informações

dos 117 viveiros estão no site www.ibot.sp.gov.br

Da Agência Imprensa Oficial

(M.C.)