Bonde da história movido a álcool

Pesquisador do IPT defende investimento brasileiro em pesquisa tecnológica

qua, 14/03/2007 - 17h25 | Do Portal do Governo

Com a assinatura do memorando de cooperação em biocombustíveis pelos presidentes do Brasil e dos Estados Unidos, na semana passada, fica uma grande questão aberta ao debate: como o Brasil pode se beneficiar da cooperação tecnológica no setor, que é colocada como uma das prioridades no documento? Para o pesquisador do IPT Antonio Bonomi, em relação à tecnologia para produção de etanol nos processos tradicionais, o acordo em nada poderá ajudar.

A matéria-prima utilizada pelos dois países é diferente (cana-de-açúcar e milho) e, por esta razão, dependem de cadeias de produção diferentes. Mas o que pode afetar a produção de álcool brasileira é o que se refere à tecnologia para produção de etanol a partir de material lignocelulósico, que é obtido, por exemplo, de bagaço e palha de cana e, também, da palha do milho.

A questão sobre o que fazer com os resíduos da cana já é pensada há algum tempo pelos ambientalistas e também pelo IPT. A queima destas sobras faz com que em cidades como Ribeirão Preto e Piracicaba, grandes produtoras de cana, os índices de doenças pulmonares cheguem a superar os de São Paulo.

Existe uma lei promulgada em 2002 que prevê a redução gradual da queima de palha de cana no campo, começando com uma redução de 20% no ano de publicação e encerrando-se com sua interrupção total em 2021.

O IPT entra com estudos sobre o que fazer com o material que não será queimado. Assim, além de não atrapalhar na próxima colheita, ele trará vantagens ambientais e competitivas para o setor. A solução estudada pelo instituto é capaz de dobrar a produção de etanol sem aumentar em um centímetro a área plantada, utilizando a palha e o bagaço como matéria-prima.

Bonomi explica que existem dois caminhos para se fazer isso, a gaseificação e a hidrólise, que é a possibilidade que ele estuda. Neste processo, a celulose contida nesses materiais é separada e quebrada, gerando glicose, com a qual se produz mais álcool combustível. Este método ainda tem a vantagem de aproveitar os resíduos (lignina e pentoses) para gerar a energia que alimenta o processo, através da queima direta e do biogás.

Em outra linha de pesquisa o IPT estuda a alternativa da gaseificação, obtendo gás de síntese que pode resultar na produção de gasolina, GNV, metanol e etanol, entre outros produtos, a partir dessas fontes renováveis. “Utilizar o bagaço e a palha da cana como matéria-prima possibilita aumentar a eficiência de geração de energia a partir da cana, que é menos prejudicial à camada de ozônio. Com os combustíveis fósseis, estamos retirando carbono do subsolo e liberando na atmosfera, mexendo com seu equilíbrio. O etanol mantém tudo como está, pois o CO2 liberado na produção e uso do etanol é compensado pelo CO2 retirado da atmosfera pela cana (durante a fotossíntese)”, diz o pesquisador.

Bonomi comenta que ainda não se descobriu qual destes dois métodos é mais vantajoso e que institutos dos dois países tem pesquisado ambos. Os americanos investem pesado nestas pesquisas, para eles o etanol é importante como alternativa nas sua matriz energética.

“O que não pode acontecer é o Brasil deixar os esforços que tem na área por contar com a tecnologia americana vinda por este acordo. Isso implicaria em futuro pagamento de ‘royalties’ para utilizar tecnologia importada”, ressalta, lembrando que o Brasil tem a vantagem de produzir o etanol mais barato do mundo.

Da Assessoria de Imprensa do IPT

(R.A.)

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