Biobanco impulsionará pesquisas no campus da USP em Ribeirão Preto

Previsto para funcionar a partir de 2021, espaço deve ter núcleo central e outros satélites, permitindo avanço do conhecimento

qui, 25/06/2020 - 12h34 | Do Portal do Governo
DownloadDivulgação/Jornal da USP/Marcos Santos

A criação de um biobanco, local onde se armazena materiais biológicos, do DNA a células humanas cultivadas, permite o avanço do conhecimento científico para melhorar a saúde das populações, otimizando tempo e recursos no desenvolvimento de pesquisas, sejam eles financeiros ou humanos. É por isso que a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da Universidade de São Paulo (USP) está investindo no próprio biobanco, que deve entrar em funcionamento no próximo ano, assim que for aprovado pelo Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (Conep).

A iniciativa da FMRP segue tendência mundial. Recentemente, a revista norte-americana Time publicou, em editorial, as dez ideias que estão mudando o mundo; entre elas, estão os biobancos. No Reino Unido, a Universidade de Oxford criou o maior biobanco do mundo, tanto em tamanho como escopo, com dados de aproximadamente 500 mil pessoas com idade entre 40 e 69 anos.

O evento ganhou as páginas da edição de outubro de 2018 da revista Nature. No Brasil, várias instituições já organizaram seu biobanco, como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Faculdade de Medicina (FM) da USP, em São Paulo.

Dados

Segundo o professor Omero Benedicto Poli-Neto, do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da FMRP e coordenador de implantação do projeto na unidade de Ribeirão Preto, os biobancos possibilitam a realização de pesquisas capazes de decifrar as origens de uma doença, de classificá-la e, até mesmo, escolher as opções de tratamento, tudo a partir dos dados armazenados.

O docente cita a bioinformática como “uma importante contribuição para a instalação dos biobancos e para o desenvolvimento de pesquisas cada vez mais robustas”, em entrevista ao Jornal da USP. Ciência responsável por armazenar e relacionar dados biológicos, relata o professor, a bioinformática usa métodos computacionais e algoritmos matemáticos para o “arquivamento prospectivo, ou seja, a coleta de uma amostra ao longo do tempo, uma hoje e outra amanhã, o que possibilita mostrar a progressão de uma doença, por exemplo”.

Para o biobanco da FMRP, Poli-Neto diz que organizam um núcleo central para ser a sede e outras estruturas satélites, tanto em espaços nos prédios da unidade como nos do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, para receber todas as coletas e recursos possíveis. “O projeto e sua organização estão em discussão com toda a comunidade”, informa.

Estrutura

Conceitualmente, a definição de biobanco é bem simples; trata-se de um banco de material biológico de origem humana, por exemplo, amostras de tecido tumoral ou de fluidos como sangue, urina e saliva. O local pode ainda armazenar RNA, DNA, proteínas e outras substâncias que vêm diretamente do indivíduo que concorde em doar.

“Do ponto de vista estrutural, é mais complexo, pois envolve não só a ideia e conceito de armazenamento, mas todo o procedimento de coleta e de estrutura física adequados”, diz o coordenador.

O professor lembra ainda que “deve haver um local adequado para o pré-processamento e utilização” e também que contemple outras necessidades, como a biossegurança. Além de garantir a segurança dos profissionais e pacientes envolvidos na coleta, “deve-se determinar como lidar com as amostras e coletas”, já que “um biobanco tem finalidade exclusiva de pesquisa, sem nenhum ganho financeiro”.

Poli-Neto lembra que o armazenamento no biobanco poderá ser feito de diversas maneiras, usando desde refrigeradores simples até, por exemplo, estocagem em nitrogênio líquido.

“Os maiores biobancos nacionais e internacionais usam, prioritariamente, duas formas de armazenamento de materiais: freezers, com temperaturas de cerca de 80 graus negativos, e galões ou tambores de nitrogênio líquido que podem guardar de 10 a 100 mil amostras, dependendo do tamanho, em temperaturas a 80 graus celsius negativos ou mais”, afirma.

O importante, informa o professor, é preservar as características das amostras e garantir a veracidade das informações dentro de um tempo que varia de um mês a um ano ou mais, “pois biobanco é para uso de pesquisa futura”.

Amostras

Para além do material, no biobanco as informações sobre o doador são fundamentais: idade, sexo, estrutura racial, doenças e lesões, tanto no momento em que foram obtidas como após o tratamento. “As informações clínicas são importantes para a correlação com os achados clínicos. O ideal é que tenhamos bastante amostras para fazermos estudos robustos em suas conclusões, mas tudo isso deve estar assegurado com a garantia do sigilo e do anonimato da pessoa que forneceu o material biológico”, pontua.

Outra vantagem apontada pelo professor é o arquivamento prospectivo, ou seja, o sistema permite que a amostra de um indivíduo seja coletada mais de uma vez ao longo do tempo e, com isso, a identificação de estruturas ou substâncias que estavam presentes na primeira coleta e que apareceram depois do tratamento.

“Isso permite saber por que um tratamento funciona num determinado indivíduo e em outro não, o que nos leva ao que chamamos hoje de medicina personalizada. Cada paciente pode ter uma doença com características gerais parecidas, mas com particularidades que variam de indivíduo para indivíduo”, avalia.

Um biobanco pode ser composto por várias coleções de amostras, como de fragmentos de tumores, por exemplo; uma coletânea da mastologia que pode ser utilizada por áreas multidisciplinares, como cirurgia, radiologia, patologia, entre outras.

Essas amostras podem contribuir também para a pesquisa translacional, aquela que estabelece um link rápido e robusto entre a pesquisa desenvolvida na área básica com o que acontece na área clínica, aquela diretamente envolvida no dia a dia do atendimento do paciente.

“Basicamente, todas as pesquisas que tenham como foco o desenvolvimento de métodos ou de conhecimento para ser aplicado em humanos podem se beneficiar de um biobanco”, finaliza o professor.