Autonomia universitária é tema de debate na capital paulista

Seminário reuniu pesquisadores e gestores das três universidades estaduais de SP, que debateram o financiamento autônomo

ter, 14/08/2018 - 18h32 | Do Portal do Governo

O Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP) recebeu, no dia 6 de agosto, um seminário que debateu o financiamento autônomo e outros dilemas futuros da vida universitária. Vale destacar que o sistema das três universidades estaduais paulistas (USP, Unesp e Unicamp) entrou em vigor em 1989.

O seminário “Os Desafios da Autonomia Universitária” teve a participação de pesquisadores e gestores da instituição e foi inspirado no livro “Os Desafios da Autonomia Universitária: História Recente da USP”, lançado em junho.

“A publicação foi motivada pelo esforço especial feito pelas universidades paulistas para superar a crise financeira e garantir sua autonomia”, ressalta Paulo Muzy, doutor em Ciências e Física Teórica pelo Instituto de Física (IF) da USP e ex-presidente da Fundação Prefeito Faria Lima (Cepam), um dos autores da obra.

O coautor do livro, José Roberto Drugowich, ex-prefeito do campus da USP em São Carlos e professor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, também apresentou no encontro as ideias e resultados da pesquisa que gerou a publicação.

Instrumento

Paulo Muzy defendeu que a autonomia universitária não deve ser vista como um conceito passível de debate, mas sim como instrumento que pode ser empregado em favor da instituição. “Propomos que a autonomia seja uma ferramenta da gestão universitária”, destaca.

Na avaliação de Marcos Buckeridge, presidente da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp) e coordenador do Programa USP Cidades Globais do IEA, a USP assumiu historicamente uma posição reativa, moldando o sistema de governança às demandas da sociedade. Ele defende uma inversão dos papéis. “A universidade deveria começar a ditar também o que a sociedade deve observar e esperar”, enfatiza o gestor.

Professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, Raquel Rolnik abordou a importância de lembrar que existe uma diferença entre universidades privadas e públicas. De acordo com a docente, é preciso refletir sobre a importância de melhorar a comunicação com a sociedade. “Não temos espaços para saber, de fato, quais são os anseios da população”, avalia.

Desafios

Vice-diretor do IEA, Guilherme Ary Plonski defende que, para desenvolver uma comunicação mais ativa com a sociedade, é desejável que a universidade amplie a capacidade de criar narrativas que sejam facilmente transmitidas à população. O docente lembrou que, no livro que inspirou o seminário, os autores defendem que a autonomia não se resume à sustentabilidade financeira.

“O grande desafio reside em como pensar a autonomia na estratégia de desenvolvimento institucional da universidade, para que seja percebida como valiosa por seus participantes e pelos indivíduos e organizações com os quais interage”, afirma Guilherme Ary Plonski.

O ex-reitor que conduziu a USP durante a crise de 2014/2016 e atual secretário de Saúde do Estado de São Paulo, Marco Antonio Zago, participou do seminário e registrou os grandes desafios dos próximos anos. “Em primeiro lugar, a administração deve demonstrar ser capaz de fazer autogestão e garantir a própria autonomia”, opina.

Para André Leme Fleury, professor da Escola Politécnica (Poli) da USP, a ampliação da autonomia universitária pode acontecer a partir da implementação de medidas inovadoras. De acordo com o docente, estabelecer novas tecnologias e garantir um ritmo crescente de inovação seriam benéficos na aproximação entre a pesquisa da universidade e os setores produtivos da iniciativa privada.