Auditório Ulysses Guimarães passa por reforma e volta ao projeto original

Obras foram executadas por servidores do Palácio dos Bandeirantes e tiveram baixo custo

seg, 10/07/2006 - 13h00 | Do Portal do Governo

O Auditório Ulysses Guimarães, localizado no Palácio dos Bandeirantes, foi reformado recentemente. As obras devolveram ao espaço as características originais do projeto arquitetônico e também resgataram parte da memória da sede do Governo do Estado de São Paulo.

Com a reforma, o palco do auditório foi reduzido a seu tamanho original e voltou a apresentar as curvas sinuosas do passado. Além disso, uma tela que ficava no fundo do palco foi retirada, permitindo que as seis colunas brancas de concreto pudessem novamente ser vistas. A cabine de projeção também foi desativada.

A iluminação no fundo do palco foi modernizada. Os lustres em formato de lampiões deram lugar a uma iluminação com foco dirigido para que as bandeiras do Brasil e do Estado e o brasão de São Paulo fiquem sempre iluminados.

As bandeiras dos municípios, que formavam a Galeria das Bandeiras e foram instaladas no auditório em 1994, também foram retiradas para que as paredes voltassem a se apresentar como no projeto original.

A obra levou cerca de 30 dias para ser concluída e foi realizada por funcionários do Palácio dos Bandeirantes. Cerca de 50 profissionais atuaram na reforma do Auditório Ulysses Guimarães. “Foi uma reforma muito barata. A maior parte do material, nós tínhamos aqui, como por exemplo a tinta”, destaca o diretor técnico do Departamento de Infra-Estrutura, Nelson Essaki. Segundo ele, o gasto mais expressivo foi na aplicação de sinteco no chão, que consumiu R$ 8.000.

Com capacidade para 1.300 pessoas, sendo cerca de 1.000 no térreo e de 300 no mezanino, o auditório é um dos maiores da administração estadual. É maior, por exemplo, que o Cláudio Santoro, que recebe a Orquestra Sinfônica do Estado e bolsistas durante o Festival de Inverno de Campos do Jordão e tem capacidade para mais de 850 pessoas. 

O auditório foi reinaugurado no último dia 8 de junho, com o lançamento de 150 novos pólos do Projeto Guri. No evento, o governador Cláudio Lembo agradeceu o esforço dos servidores do Palácio dos Bandeirantes na reforma do espaço. “Todos se reuniram em um mutirão para fazer esse belo trabalho de restauração, mantendo as características, inclusive com as colunas originais”, disse ele.

A satisfação com o resultado levou o governador a assinar decreto, que foi publicado no Diário Oficial de 9 de junho, com elogios aos profissionais que atuaram na reforma, no qual ressaltou o esmero, a dedicação e a competência dos servidores.

Cinemascope

Adquirida no fim dos anos 60, a tela que cobria as colunas no fundo do palco do Ulysses Guimarães, estava infestada de cupins, o que motivou a reforma do auditório.

A tela era muito grande e tinha formato curvo. De acordo com o coordenador do acervo de cinema do Museu da Imagem e do Som (MIS), José Maria Pereira Lopes, o tamanho se justificava pela distância entre ela e a cabine de projeção. “Eram mais de 50 metros de distância”, afirma.

José Maria, que trabalha há 24 anos no MIS, chegou a operar os projetores do Ulysses Guimarães para a exibição de filmes para alguns dos governadores que passaram pela sede do Governo. “Para projetar filmes em 16 mm, eu precisava ficar no meio do auditório por causa da distância da tela”, lembra.

Apesar da distância, o auditório, na opinião do coordenador, era ótimo para a projeção de filmes. “A acústica era perfeita e os projetores maravilhosos, profissionais”, elogia. Esses projetores foram adquiridos em 1969.

De acordo com José Maria, o Palácio dos Bandeirantes possuía dois projetores para cinemascope, outro para filmes em 16 mm e uma moviola 16 mm (equipamento de edição cinematográfica). Todos esses equipamentos foram doados ao Museu da Imagem e do Som e serão usados para projetar os filmes do acervo.

Embora em bom estado, os projetores já não eram mais utilizados para a projeção de filmes no Palácio dos Bandeirantes. Segundo Nelson Essaki, atualmente, já era necessário locar equipamentos mais modernos, com tecnologia atual, para a projeção de filmes no auditório, que foi usado para a apresentação de algumas pré-estréias nos últimos anos, como a do filme Pelé Eterno, em 2004, em sessão aberta a funcionários do Palácio e familiares.

“Com a reforma ainda é possível usar o auditório para a projeção de filmes, mas é necessário trazer equipamentos próprios para isso”, afirma o diretor técnico do Palácio.

O palco

Essaki conta que o auditório nunca sofreu uma reforma de grande porte. “A cada evento, alguém fazia uma adaptação no palco, que ficou grande e reto”, destaca. Segundo ele, o palco chegou a ter 430 metros quadrados de área acarpetada.

Agora, todas essas adaptações foram retiradas e a área acarpetada voltou a ter seus 215 metros quadrados e as curvas sinuosas do projeto original.

O servidor público Aníbal Fernandes, que trabalhou na obra, lembra que além das diversas adaptações, o palco passou por duas ampliações que o levaram até a primeira fila da platéia. As intervenções dobraram o tamanho do palco, que chegou a ter 430 metros quadrados de área acarpetada. Hoje, voltou aos 215 metros quadrados de área acarpetada.

Auditório do grande hall

Funcionário mais antigo do Palácio dos Bandeirantes, Aníbal lembra que quando veio trabalhar na nova sede do Governo, em 1965, o auditório não tinha o nome de Ulysses Guimarães. Segundo o que está registrado nas plantas da época, arquivadas na Companhia Paulista de Obras e Serviços (CPOS), o espaço era conhecido como auditório do grande hall.

O auditório recebeu o nome do deputado paulista em 21 de outubro de 1992, de acordo com o decreto nº 35.873 publicado no Diário Oficial, em homenagem ao político que morreu dias antes em acidente de helicóptero. Nascido na cidade de Rio Claro, interior de São Paulo, Ulysses Guimarães foi o parlamentar que presidiu a Assembléia Nacional Constituinte, entre 1987 e 1988, e lutou pela implantação da democracia no país.

O nome Ulysses Guimarães foi dado ao auditório em 21 de outubro de 1992, de acordo com o decreto 35.873 publicado no Diário Oficial naquela data. Foi uma homenagem ao político paulista, morto poucos dias antes em acidente de helicóptero.

A funcionária aposentada Edna Loprete Macedo, que chegou ao Palácio junto com Aníbal, também guarda lembranças do auditório. “Quando viemos para cá o auditório tinha apenas um palco, cadeiras e um piano. Lembro que uma das funcionárias tocava piano muito bem. Na hora do almoço, vez por outra, ela tocava e nós ficávamos ouvindo”, recorda.

Em ótimo estado de conservação, esse piano ainda faz parte do acervo do Palácio dos Bandeirantes. Hoje, porém, fica na área social da ala residencial do governador.

O Palácio dos Bandeirantes

A conversa sobre o auditório reaviva as lembranças de Edna Macedo sobre a época em que saiu da Secretaria da Educação para trabalhar na nova sede do Governo. “O Palácio não tinha a estrutura que tem hoje. Não tinha muitas salas para trabalhar, o piso não era como agora e os muros não existiam. Lembro que havia apenas uma guarita e, em volta, era mata virgem”, conta.

Naquela fase, a nova sede tinha cerca de 390 funcionários, que trabalhavam em dois turnos porque o Palácio não dispunha sequer de restaurante ou lanchonete para os servidores.

O Palácio dos Bandeirantes foi concebido para abrigar a Universidade Fundação Conde Francisco Matarazzo em homenagem ao centenário da emigração de sua família ao Brasil.

O arquiteto italiano Marcelo Piacentini foi o responsável pela primeira concepção arquitetônica, feita em duas fases. Na primeira, em 1938 e 1939, a idéia era construir um espaço público monumental, composto por três edifícios e uma praça, que seria uma versão moderna do Capitólio Romano. Nos anos de 1946 e 1947, outra etapa do projeto foi idealizada, onde o edifício central teria biblioteca, espaço para aula magna, além de laboratórios e salas de aula. No projeto, o clássico e o moderno deveriam conviver em harmonia. O contrato de Piacentini com as Indústrias Reunidas Matarazzo não se efetivou e ele não pode vir ao Brasil para acompanhar a implantação de seu projeto.

Em 1950, o engenheiro Francisco da Nova Monteiro assumiu a direção do projeto e o executou de acordo com sua visão: um edifício onde se encontra o corpo central, alas perfeitamente simétricas e o auditório. No corpo central funcionaria o prédio administrativo e as alas comporiam, no térreo, os laboratórios e nos dois andares superiores, as salas de aulas.

A construção, iniciada em 1955, levou cerca de 10 anos para ser concluída. A Universidade, porém, não nunca chegou a ser instalada. Problemas financeiros levaram a Fundação Conde Francisco Matarazzo a iniciar negociações, todas sem sucesso, para que fundações como Getúlio Vargas e São Paulo assumissem o espaço. As conversas com o Governo do Estado começaram em 1964. A idéia era que a sede da administração estadual saísse do Palácio dos Campos Elíseos e fosse transferida para o prédio do bairro do Morumbi. Essas negociações foram publicadas no Decreto nº 43.225, de 22/04/1964, que determinava a desapropriação do imóvel e a transferência da sede do Governo e algumas adaptações na construção foram necessárias.

Em 1970, o espaço recebeu a denominação de Palácio dos Bandeirantes, em homenagem aos homens que ampliaram as fronteiras do território brasileiro. Foi nessa época, de acordo com Edna, que o quadro de servidores começou a ser formado e que o prédio passou a abrigar a administração executiva estadual, a Casa Militar e a residência oficial do governador.

Nos últimos 30 anos, o palácio passou por diversas transformações com o objetivo de melhor acomodar a sede do Governo.

A última intervenção arquitetônica foi exatamente no Auditório Ulysses Guimarães, em junho deste ano, para que retornasse à sua concepção original: pé direito alto, proscênio (parte anterior do palco, junto à ribalta), palco simples e monumental, com capacidade para abrigar mais de um evento de maneira tranqüila e harmoniosa.

Além de ser um importante patrimônio arquitetônico, o Palácio dos Bandeirantes guarda um rico acervo artístico. São aproximadamente 1.680 obras, com quadros e esculturas de importantes artistas, como Almeida Jr., Oscar Pereira da Silva, Pedro Américo, entre outros.

Cíntia Cury