Atividades lúdicas do Darcy Vargas devolvem alegria aos pacientes

Pet terapia, contação de histórias, brincadeiras e outras ações são essenciais para o tratamento de crianças

qui, 12/02/2009 - 10h19 | Do Portal do Governo

Quando as voluntárias Márcia Antônia de Almeida Grandis e Rosane Pauletti chegam ao quarto dos pequenos pacientes internados no Hospital Infantil Darcy Vargas logo são reconhecidas pelo avental amarelo ornamentado com bonecos coloridos. Elas carregam bolsas cheias de brinquedos e escolhem o mais apropriado para divertir e melhorar a auto-estima das crianças e adolescentes em tratamento na instituição.

Elas se autodenominam brinquedistas. Não é para menos. Fazem de tudo para despertar largo sorriso nos lábios da criançada acamada ou que aguarda consulta no Darcy Vargas. Márcia e Rosane, assim como 18 outras voluntárias do grupo de recreação da Associação das Voluntárias do Hospital Infantil Darcy Vargas, são bastante criativas.

A dupla mede a febre com fita métrica, escuta o coração com desentupidor de pia, mostra sapinho dançando e promove concurso para ver quem imita melhor. Cada hora é uma brincadeira.  

“Apesar de ser um hospital, atuamos para que os pacientes se sintam em casa, fazemos amizades e nos tornamos parte da vida deles”, conta Rosane. “Quando chegamos, dizem: ‘A minha tia chegou’. É uma satisfação que não tem preço”, define Márcia.

Dana tem três anos. É uma pré-adolescente, da raça border collie. Acompanhada do adestrador Nerival Monteiro de Aquino, a cadela vai ao hospital toda quarta-feira visitar os pacientes. Durante 60 minutos, brinca com bexiga e, de tão dócil, parece que aguarda um cafuné da meninada. “Outro dia, uma garota gostou tanto da cachorra que a agarrou e não nos deixou ir embora”, lembra Aquino. 

Nessa mesma ocasião, nos corredores, ouvia-se o choro incontido de Fabiana de Paula Santos de Alcântara Silva, oito anos, que acabara de tomar fortes doses de medicamento intravenal. “Meu braço direito doía muito, mas quando a Dana entrou e jogou a bexiga, esqueci da dor e fiquei feliz”, relata a menina. Ela diz que a presença do animal ameniza a saudade de seus quatro cães de estimação: Susi, Preto, Ted e Gagá. Pedro Paulo, irmão de Fabiana, ficou satisfeito com a visita: “Acho que quanto mais contato com brincadeiras e coisas da natureza, melhor para a saúde das crianças internadas”.

E Dana continua conquistando admiradores. “Gosto da cachorra porque pula com a bexiga. Ela é legal e fofa”, diz Saiane de Souza Goes, nove anos, usuária do hospital há oito para tratar anemia falciforme.

Por semana, em média, Dana visita 60 crianças da instituição, para a prática de uma atividade que já tem nome: pet terapia, aplicada no hospital desde janeiro de 2007, com muito sucesso. Dana se submete a exames laboratoriais a cada três meses e toma as vacinas previstas. “A Comissão de Infecção Hospitalar avaliou o projeto e concluiu que o animal não representa perigo para as crianças. Até hoje, não registramos problemas de saúde por causa da presença da cachorra”, frisa a diretora da divisão de enfermagem, Marta Marina Teixeira da Silva.

Nada de tristeza – Na avaliação da psicóloga Norma Satie Toyofuku, chefe do serviço de reabilitação, a presença do cão torna o ambiente hospitalar mais leve e a criança menos ansiosa, o que facilita o relacionamento dela com os profissionais de saúde. Norma diz que é comum observar pacientes tristes que fingem dormir, mas despertam e pulam da cama quando a Dana chega.

As atividades lúdicas não param por aí. Anita Garibaldi é a boneca terapêutica, cujo nome foi escolhido pelas próprias crianças. O brinquedo está doente e precisa de cuidados especiais: sonda, soro e injeção. A enfermeira utiliza a boneca para mostrar aos pais e aos filhos o procedimento que será realizado no paciente infantil.

Quando o caso é de traqueostomia (cirurgia na traqueia para facilitar a respiração), Anita é o meio para ensinar cuidados de higiene aos parentes. “A boneca terapêutica contribui para a criança se conscientizar do que será feito no seu corpo. Não deixa de chorar, mas o medo diminui”, constata a enfermeira Marta. A técnica é aplicada em pacientes a partir dos três anos. Mas diz que certa vez a enfermeira atendeu a uma garota de 19 anos, que tinha medo da picada de agulha: “Ela nos enviou carta agradecendo a terapia, pois aliviou seu sofrimento durante a hospitalização”.

Maricota e Dumbo – No consultório odontológico, Maricota, a girafa de pelúcia que destaca dentes brancos e grandes, é a atração principal. A dentista Elce Guerreiro Esponton Campana Inojosa, coordenadora da equipe de saúde bucal, explica que o lúdico é usado para mostrar à garotada o que será feito na sua boca.

A equipe de dentistas e auxiliares recebe portadores de necessidades especiais e outros pacientes, submetidos a cirurgias. Lá, fazem desde uma simples extração até procedimentos mais complexos. Maricota tem o amigo Dumbo, elefante de pelúcia cor-de-rosa, que ensina técnicas de escovação à meninada. 

O Darcy Vargas dispõe de parque infantil na área externa e seis brinquedotecas, uma em cada andar da enfermaria. Nas brinquedotecas, funciona o Projeto Classe Hospitalar, com dez professores da Secretaria de Estado da Educação.

A iniciativa existe desde 1995 e oferece acompanhamento escolar ao paciente (internado ou em tratamento ambulatorial), que não vai à escola regularmente ou falta muito. O grupo é integrado por alunos de diferentes séries, a partir do ensino fundamental I (1ª a 4ª série). A educadora promove atividades em grupo e em aula individual, de acordo com a série do aluno.

Sem castigo – “A brinquedoteca é o local da criança se restabelecer, brincar e se reorganizar internamente por causa do tratamento médico. É a hora de ela se envolver no mundo do faz-de-conta, onde pode ser herói”, comenta a psicóloga Norma.

Os doentes com problemas graves, que não podem sair do leito ou da ala de isolamento, também ganham brinquedos, de acordo com sua preferência. Esse é outro programa, chamado Domingo Feliz, e, como o nome indica, só funciona aos domingos, quando os enfermos recebem a visita dos parentes.

O reencontro é brindado com a apresentação de palhaços voluntários e brincadeiras. “É emocionante porque algumas crianças não veem o irmão há semanas. O momento é importante para elas perceberem que a família está presente”, afirma a psicóloga.

Como as atividades lúdicas incentivam o humor, Norma diz que elas propiciam aumento da endorfina e diminuição da dor do paciente: “Não cura, mas traz benefícios físicos e mentais”. Por melhorar o sistema imunológico, ela diz que as brincadeiras ajudam a reduzir o risco de infecção. “O paciente deixa de achar que a internação é um castigo e passa a enfrentar a doença com otimismo”, frisa a psicóloga Norma.

Instituição recebe apoio de dezenas de voluntárias

O Hospital Infantil Darcy Vargas tem o apoio de dezenas de voluntárias, que exercem diversas tarefas, desde orientação alimentar, contação de histórias até promoção de bazar, almoço e chá beneficente para obter verbas para a instituição. Elas integram a Associação Paulista Feminina de Combate ao Câncer (APFCC) e a Associação das Voluntárias do Hospital Infantil Darcy Vargas (AVHIDV).  

“Fazemos o necessário para que o paciente não se sinta só. Mostramos que aqui existem pessoas dispostas a ajudar”, resume Deise Mendes Cirillo, coordenadora do Núcleo Darcy Vargas da APFCC. Mediante doações de empresários, entidades das áreas de educação, saúde e pessoas físicas, as 150 voluntárias obtêm recursos para realizar bazares beneficentes, oferecer cestas básicas aos familiares, kit higiene (pasta e escova dental, sabonete e xampu) aos pacientes com câncer. “O governo do Estado realizou a reforma física da oncologia e nós conseguimos recursos para adquirir os equipamentos dos consultórios, quimioterapia, sala de espera, brinquedoteca e toda a decoração adaptada para o bem-estar dos pequenos pacientes com câncer”, conta Deise.

Vergonha – Qual é o segredo para conquistar tantos parceiros? Deise diz que é necessário agir, sempre. “Mais vale uma lágrima derramada por não ter vencido do que a vergonha de não ter lutado. É o universo que se abre a quem exerce a ação voluntária”. 

Pela constante ausência no trabalho para acompanhar o filho com câncer no hospital, o familiar pode até perder o emprego. “Numa época, as crianças faltavam às sessões de quimioterapia porque os pais não tinham dinheiro para a condução”, relembra a coordenadora da APFCC. Por isso, desde 1997, as voluntárias conseguiram apoio da São Paulo Transportes (SPTrans), para oferecer transporte gratuito no município de São Paulo ao paciente submetido a sessões de quimioterapia e seu acompanhante.

A AVHIDV possui 73 voluntárias, que atuam em 11 grupos, entre eles recreação, bazar e eventos. De forma humanizada, outras equipes esclarecem os pais sobre cuidados necessários para prosseguir o tratamento médico em casa, oferecem medicamentos e alimentos para casos especiais. As voluntárias recebem orientação médica e apoio da equipe multidisciplinar.

“Quando os médicos esclarecem aos pais os cuidados específicos para o tratamento do filho, eles têm vergonha de perguntar e tiram as dúvidas com a gente”, conta Regina Meves, presidente honorária da AVHIDV. Por causa do constante contato com os familiares, as voluntárias se tornam amigas e até mães-conselheiras em casos conjugais que resultam no envolvimento emocional do paciente.

Darcy Vargas: meio século de vida

O nome dado ao hospital, Darcy Vargas, é uma homenagem à esposa do presidente Getúlio Vargas, que governou o Brasil de 1930 a 1945 e de 1951 a 1954. Recentemente o hospital comemorou 50 anos de fundação, pois foi inaugurado em 25 de dezembro de 1958.

Durante muitos anos a Legião Brasileira de Assistência (LBA), instituição vinculada ao governo federal, administrou a instituição.

Em 1988, o Darcy Vargas tornou-se órgão ligado à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. De 2002 a 2004, a unidade recebeu ampla reforma física e estrutural.

Com o passar do tempo e a complexidade da demanda, o perfil do hospital, que antes atendia pediatria geral, tornou-se referência em nove especialidades pediátricas: pediatria (casos complexos), cirurgia pediátrica e anestesiologia, endocrinologia, hematologia, nefrologia, oncologia, urologia pediátrica, UTI pediátrica e UTI neonatal.

No ambulatório, 19 especialidades médicas dão suporte ao atendimento médico hospitalar: alergia/imunologia, cardiologia, cirurgia plástica, dermatologia, endoscopia, gastroenterologia, genética, hepatologia, homeopatia, infectologia, pediatria, neurocirurgia, neurologia, oftalmologia, ortopedia, otorrinolaringologia, pneumologia, psiquiatria e reumatologia.

Os serviços de odontologia, nutrição, terapia ocupacional, fonoaudiologia, psicologia e fisioterapia atendem à demanda interna e absorvem parcela dos pacientes da rede hospitalar estadual.

O hospital é especializado nas áreas de oncologia (leucemias e tumores); endocrinologia; hematologia (anemia falciforme); nefrologia (insuficiência renal e infecção grave).

Darcy Vargas em números

– Atendimento anual de crianças com doenças graves e crônicas:
. Internações: 6,5 mil
. Atendimentos no Pronto-socorro: 40 mil
. Atendimentos ambulatoriais: cerca de 80 mil
. Quimioterapias ambulatoriais: 6 mil
. Cirurgias: 2,5 mil (média e alta complexidades)

Da Agência Imprensa Oficial