As aventuras dos livros que viajam nos trens da CPTM

Eles são levados para casa, mas sempre voltam aos trens para encontrar um novo passageiro leitor

sáb, 29/12/2007 - 9h36 | Do Portal do Governo

O que pode haver em comum entre a babá Lúcia, o músico Fernandes, a dona de casa Vanessa (agora no 1º ano de Enfermagem) e o estudante da Fatec, Marcelo? O fato de todos eles gostarem de ler, de preferência enquanto viajam de trem, ônibus ou Metrô, a caminho da escola ou do trabalho.

Por isso, o Livro Livre, programa da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), que incentiva o hábito de leitura entre os usuários, caiu feito uma luva para eles. Só não contavam com as novidades da iniciativa, pela qual, uma vez achado, o livro pode ser levado para casa, com o compromisso de, após a leitura, deixarem-no em qualquer local público para que outras pessoas tenham acesso e compartilhem, tornando, assim, a cidade uma imensa biblioteca a céu aberto.

 “A idéia é que após encontrar o livro e desfrutar a leitura, o usuário opte por liberá-lo para que outro cidadão possa ler também”, explicam a bibliotecária Maria Cândida de Assis Figueiredo e a relações públicas Maria Salete Zandoná, ambas da CPTM, organizadoras da ruidosa operação. Será isso possível? Elas provam que sim ao caminhar para a terceira edição do evento, que começou timidamente.

No rastro dos leitores – Em dois dias, a CPTM distribuiu 2 mil livros em 15 estações das seis linhas da companhia. Além disso, entregou 750 livros aos empregados diretos e terceirizados das estações contempladas, para que se inicie outro movimento de leitura internamente. “Quem sabe a ação atinja as 83 estações do sistema, com os funcionários emprestando o livro do outro?”, sonha Maria Salete.

A ação, realizada nos dias 29 e 30 de outubro, animou a CPTM, da sala da bibliotecária às catracas, das lanchonetes às revistarias, dos bancos de espera ao interior do trem, enfim, onde tivesse espaço para deixar o livro, desde que haja boa circulação de pessoas e esteja protegido de sol forte e muita chuva. Rápidas, as organizadoras se desdobravam na entrega de grandes clássicos da literatura, best-selleres, aventura, mistério, história, arte, literatura infanto-juvenil. Caixas e mais caixas eram esvaziadas em segundos na estação Barra Funda, para satisfação de Maria Salete e Maria Cândida, elas próprias promotoras da distribuição, num corpo-a-corpo com os leitores. Juntas comemoravam: “Um sucesso! Só nas estações Brás, Barra Funda e Luz, em poucas horas mais de 500 livros chegaram às mãos dos leitores, mas calculamos que, ao final da Campanha, os 2 mil livros estarão circulando dentro do esquema Livro Livre, dando início a uma história sem fim,” brinca.

Em pouco tempo, os livros doados  pelas bibliotecas municipais Prefeito Prestes Maia e Monteiro Lobato ganharam as estações da Linha A – Lapa/Francisco Morato: linha B – Osasco/Barra Funda; Linha Esmeralda, que abrange as estações Hebraica-Rebouças/Santo Amaro/Autódromo e, finalmente, a Linha D – Luz/Santo André; E – Guaianases/Mogi das Cruzes; F – Brás/São Miguel.

É um espetáculo bonito de ver: centenas de pessoas apressando o passo, não para uma liquidação de televisão ou outro eletrodoméstico qualquer, mas em busca da magia e encanto da leitura. As estações, de repente se transformarem numa terra de autores como Daniel Defoe, Fernando Pessoa, João Ubaldo Ribeiro, Gabriel Garcia Marques, Machado de Assis, do festejado Paulo Coelho e tantos outros. As informações chegam rápidas: nas demais estações, o interesse se repete. A bibliotecária, mais uma vez comemora: “Quem disse que brasileiro não gosta de ler? Não sobrou nada, ao contrário, faltou. O povo queria mais. ‘Como faço para conseguir um livro?, indagavam. Tranquilizavam-se ao saber que a idéia é fazer o livro circular, em vez de ficarem guardados em estantes, devolvidos nos bancos para que outros possam ler”.

Na pequena Francisco Morato, cuja estação concentra intensa movimentação, os cem livros distribuídos não contentaram a todos. “Até hoje, quando me lembro, vem aquele sentimento de vergonha e pena, não soubemos valorizar os usuários, simples, mas com muita sede de saber”.

Na Barra Funda, Lael Vinícius Maran, 2º semestre de marketing, aplaudiu a “experiência simples e genial”, disse ao escolher a biografia de um médico no século 19, do escritor Moatt Gordon. Morador de Franco da Rocha, todos os dias pega o Metrô na Bresser, vai para a Barra Funda de trem e, por último, desce na estação Baltazar Fidélis. Nesse caminho, dá para estudar as matérias da Faculdade, ler Gabriel Garcia Marques e Clarice Lispector, suas preferências. “Hoje, atrasei-me um pouco e deu tempo até de participar do Livro Livre, que eu já conhecia de notícias na TV”.

Detalhes que fazem a diferença

Aos poucos, o movimento Livro Livre vem tomando formas palpáveis. Começou há dois anos, quando a CPTM recebeu, como doação, 12 mil exemplares para a sua Biblioteca Mário Covas, instalada em Presidente Altino.

Desses, seis mil foram para o acervo da biblioteca. Do restante, fez-se uma triagem, passando a sobra a integrar o Livro Livre, idéia que já vinha amadurecendo na cabeça da bibliotecária. Hoje, as publicações circulam com etiquetas da CPTM coladas na capa, onde se acham as explicações do funcionamento do projeto, entre eles, o sloganDemocratize a informação, leia e passe adiante. Outro atrativo são os marcadores de páginas, cada um de cor diferente, também com a marca CPTM. “São detalhes que fazem a diferença”, comenta Maria Cândida.

Para o ano que se inicia, a bibliotecária tem planos arrojados: tornar o movimento mais abrangente, planejado com pelo menos três meses de antecedência, para poder contatar editoras e instituições. “Se não for sonhar muito, aumentar a equipe, atualmente com cinco pessoas, entre estagiários de biblioteconomia e funcionários administrativos. Ah! E tem mais: o movimento deve durar uma semana e ser estendido às demais estações”.

Maria das Graças Leocádio

Da Agência Imprensa Oficial

(L.F.)