Arte interativa no Metrô e CPTM provoca o público paulistano

Pianos nas estações de trem, espetáculo audiovisual na hora do rush e instalações artísticas

sex, 17/10/2008 - 9h45 | Do Portal do Governo

O que você faria se um piano de repente aparecesse na estação de trem ou Metrô em que você embarca todos os dias? E se nesse piano viesse escrita a mensagem: “Toque-me, eu sou seu”?  E se ao sair do trem, em pleno horário de rush, você desse de cara com bailarinas vestidas com tutus cibernéticos, numa estranha coreografia em que parecem estar varrendo a estação? Desde o dia 9, os paulistanos têm se deparado com situações inusitadas ao entrar ou sair do trem e do metrô, sendo convidados a dar uma pausa na rotina e desfrutar um momento de descontração.

Parceria do SESC-SP com a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e a Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô), as ações fazem parte da Mostra Sesc de Artes, que busca fazer interferências artísticas no cotidiano da cidade, como forma de romper conceitos e alterar a rotina. “É uma quebra evidente no dia-a-dia das pessoas; elas chegam em casa e comentam: vocês não vão acreditar, mas tinha um piano no meio da estação de trem!”, explica a  monitora do SESC,  Daiane Petini “É uma experiência extra-realidade”.

Em diversos pontos da cidade, oito pianos pedem para ser tocados: nas estações Santo Amaro, Luz e Santa Cecília, no Poupatempo Sé, no Parque da Juventude, na marquise do Ibirapuera, no Pátio do Colégio e no Largo de Pinheiros. Qualquer pessoa pode assumir os teclados e fazer a trilha sonora do momento, e ainda deixar seus comentários e fotos no site www.pianosderua.com.br, um blog diário abastecido pelos próprios usuários, com um link referente aos locais onde está localizado cada piano.

Entre os inúmeros “pianistas de rua”, muitos se arriscam a tocar trechos de sinfonias e músicas conhecidas. O arquiteto João Paulo de Carvalho, por exemplo, diz que misturou “alguns clássicos” no seu improviso. Ele estudou piano por dois anos, mas decidiu parar os estudos quando passou a integrar uma banda na qual toca banjo e cavaquinho. “Vi o piano aqui e resolvi parar para matar a saudade, faz dez anos que não toco”, disse Carvalho, que mora na Lapa e utiliza os trens da CPTM todos os dias.

Estranhamento – Sem dia nem hora marcada, entre um passageiro e outro, ou mesmo na companhia deles, o músico Lívio Tragtenberg presenteia a todos com uma bela canção de seu repertório, o que geralmente atrai muitos ouvintes. “Tento chegar como um usuário normal, toco alguma coisa muito simples, para que todos se sintam à vontade para se aproximarem e tocarem comigo, se quiserem”.

A maneira como as pessoas reagem ao encontrar um piano em um lugar pouco convencional, segundo Daiane, varia do estranhamento à curiosidade. “A timidez inicial dá lugar à vontade de tocar”. Ernandes Fernandes Júnior, estudante de Química, duvidou do que via e ouvia e chegou a pensar que o piano fosse um brinquedo: “Quando eu vi de longe, não achei que fosse de verdade, porque um piano desses deve ser muito caro!”, disse, arriscando um dó-re-mi.

“Hoje de manhã eu passei aqui, olhei e pensei: Será que é isso mesmo? Um piano na estação de trem? Aí eu vi um rapaz tocando e resolvi parar para ouvir. Acho uma idéia muito interessante porque assim muitas pessoas podem descobrir seus talentos artísticos”, conta operador de áudio Martins de Assis Neto, morador de Carapicuíba. Depois da mostra, todos os pianos serão doados a escolas, ONGs e grupos comunitários da cidade.

O projeto de pianos de rua foi criado pelo inglês Luke Jerram. Em março deste ano, ele espalhou 15 pianos pela cidade de Birmingham (Reino Unido), em frente a fábricas, bibliotecas, escolas, dentro de shoppings, mercados, playgrounds, todos contendo a frase escrita com spray: “Play, I’m yours”. Sua proposta é provocar o público, ao lançar a questão: “A quem pertence o ambiente urbano e quem decide as regras para o seu uso?” Depois de Birmingham, São Paulo é a primeira cidade a receber o projeto, que segundo seu idealizador, percorrerá o mundo todo.

Balé e barulho

São seis e meia da tarde, na estação Santo Amaro da CPTM, uma das quatro estações em que é possível fazer baldeação para o Metrô.  Na rampa de acesso aos bloqueios, abrindo caminho entre centenas de passageiros apressados, cinco bailarinas enfileiradas iniciam uma coreografia inusitada. Elas despertam a curiosidade de todos, e isso não se dá só por causa do tom vibrante de seus figurinos. Vibrante mesmo é o som emitido por suas saias equipadas com alto-falantes, potentes amplificadores e samplers, o que lhes permite gravar ao vivo e ampliar todos os sons captados no ambiente. É o Audioballerinas, balé eletroacústico do grupo Die Audio Gruppe, que há 25 anos participa de festivais por todo o mundo.

Em seus corpos, as bailarinas carregam também receptores de rádio, microfones de contato, sensores de luz e outros dispositivos eletrônicos, por meio dos quais produzem e reproduzem vozes, sons de motores, buzinas, passos, numa confusão sonora capaz de atordoar o mais urbano do seres.

Curiosa e um pouco assustada, a multidão de passageiros acompanha o grupo, que percorre todo o trecho de transferência da estação da CPTM para a linha do Metrô. A fila nos bloqueios torna-se lenta até parar por completo, com as pessoas esticando o pescoço para conseguir ver as dançarinas. A pedagoga Valéria Honorato trouxe um grupo de 25 estudantes de pedagogia da Uniaras para assistir ao espetáculo. “Maravilhoso! Uma atividade diferenciada como essa a gente só encontra aqui em São Paulo!”

“Nós tentamos criar um show eletroacústico no qual utilizamos basicamente sensores de luz, que na verdade captam a intensidade luminosa do local: quanto mais luz, mais alto é o som; se nós nos apresentássemos na sombra, o som seria baixíssimo”, explica Gerrit de Vries, um dos integrantes do grupo. Esta é a primeira vez que a equipe, formada por bailarinos suecos, holandeses, ucranianos e alemães, apresenta-se na América do Sul.

Arte invisível

Mas nem sempre uma interferência artística é capaz de despertar a atenção de todos quando colocada em contexto fora do usual. Na estação Morumbi da CPTM, uma porta branca com um olho mágico virtual instalada entre dois lances da escada de acesso à saída da estação passou quase despercebida pela maioria dos passageiros, apressados para chegar em casa depois de um dia de trabalho. Poucos ousaram tirar os olhos do chão e dar uma espiada no que acontecia através da porta. “Só percebi hoje e mesmo assim, só tive a curiosidade de olhar depois que eu vi outra pessoa dando uma olhada”, disse o estudante de arquitetura Carlos Alberto Pinheiro de Souza.

“Eu passei aqui no começo da semana, notei a porta, mas pensei que fosse parte de alguma reforma na estação, nem pensei em olhar pelo olho mágico”, diz Francislene Diogo, que só foi dar uma espiada por insistência do marido, André Luís Diogo.

Quem ousou olhar pelo visor, foi surpreendido com uma bela visão do Rio Pinheiros (que permeia a linha do trem) no tempo em que era navegável, com alegres banhistas se divertindo em suas margens.

Roseane Barreiros – Da Agência Imprensa Oficial