Arquivo do Estado e Imprensa Oficial preservam acervo histórico

Instituições vão disponibilizar na internet documentação censitária dos séculos 18 e 19

sex, 18/09/2009 - 8h00 | Do Portal do Governo

Parceiros há muitos anos em ações editoriais que divulgam a memória paulista, o Arquivo do Estado de São Paulo, vinculado à Casa Civil, e a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, ligada à Secretaria da Comunicação, uniram-se para colocar em prática um projeto ousado. Trata-se da digitalização dos Maços de População – série documental de caráter censitário produzida entre 1765 e 1850, do jornal carioca Última Hora e da revista humorística Arara, que circulou de 1905 a 1907. Os Maços de População abrangem a totalidade dos habitantes da Capitania e depois Província de São Paulo. A iniciativa, denominada Projeto de Preservação da Memória Paulista, pretende oferecer estes materiais para consulta via internet a partir de outubro, além de garantir a preservação dos originais.

Segundo o diretor do Departamento de Preservação e Difusão da Memória do Arquivo do Estado, Lauro Ávila Pereira, é grande a procura pelos Maços de População por parte de economistas, historiadores e demógrafos. “A partir da disponibilização na rede mundial, queremos que mais pessoas consultem e pesquisem, como, por exemplo, professores da rede pública, estudantes e público em geral. Afinal, ter 200 mil páginas de documentação censitária dos séculos 18 e 19 na Internet é fato inédito”, completa.

Depois de digitalizado, todo esse acervo será colocado num banco de dados com informações, fotos, artigos e estudos sobre a população. Assim, vão constar não só os Maços, mas também estudos relacionados, além de ofícios diversos do século 19. “Há coisas curiosas, como o cidadão que reclama ao Estado uma vaca nova, porque a dele morreu quando a ponte caiu. A intenção é fazer um grande repertório de informações sobre a vida cotidiana daqueles tempos”, revela o diretor.

Os Maços, inicialmente, visavam a coleta de informações sobre a disponibilidade de homens aptos ao serviço militar. A eficiência foi tão grande que depois se percebeu que a documentação servia também para aferir a produção – quantas braças de arroz, de trigo, qual a safra agrícola das residências – e sobre cada indivíduo, livre ou escravo, por residência. Eram coletados dados como nome, idade, grau de parentesco ou de relação com o chefe da residência, estado conjugal, cor, naturalidade e ocupação, além dos dados sobre a atividade econômica do domicílio. Isso era feito em toda a Capitania que tinha o dobro do tamanho do Estado de São Paulo hoje (ia doMato Grosso do Sul até o norte de Santa Catarina).

História em papel

Nas dependências do Arquivo do Estado, boa parte do trabalho vem sendo preparada por dezenas de funcionários e estagiários, treinados ali mesmo, desde junho de 2009. São 226 caixas de arquivo, cerca de 40 metros lineares de documentos. Tudo muito bem guardado em pastas de ferro no Centro de Acervo Permanente, numa enorme sala ocupada por estantes que preservam os documentos dos períodos de Colônia, Império e República da história brasileira.

Caso os documentos estejam danificados por traças e oxidação, são encaminhados ao setor de preservação, onde são restaurados, além de receber outras medidas de proteção. De lá seguem para outra sala, onde são numerados para indexar as imagens digitalizadas. Os Maços de População percorrem longo caminho até seu destino: a digitalização realizada na Imprensa Oficial, em sala especialmente montada para essa finalidade, com scanners de última geração.

O diretor do Centro de Preservação, Marcelo Lopes, explica que todo cuidado é pouco no manuseio da documentação. Restauradores usam luvas, máscaras, toucas e jalecos. Utilizam pinças, espátulas, bisturis e pincéis, na difícil tarefa de recuperar papéis aparentemente condenados. O primeiro passo é remover a sujeira gerada por cupins e traças ao longo dos anos, com atenção especial àqueles com muita umidade e atacados por fungos. Só nesse setor, trabalham 11 pessoas. Uma delas, a restauradora Sílvia Toledo, formada no Senai, dedica-se a retirar a umidade, costurar cadernos e restaurar mapas. “Gosto do trabalho de salvar a informação, imaginar como será tudo daqui a alguns anos, como foi importante a nossa intervenção”.

A digitalização da Última Hora corre paralelamente à dos Maços de População. O consagrado periódico que revolucionou a linguagem jornalística no País será colocado na internet na mesma página que abrigará as listas censitárias. Serão contemplados 20 anos de seu funcionamento, do ano de sua criação, em 1951, até 1971. Fundado por Samuel Wainer, no Rio de Janeiro, um ano depois, em 1952, passou a ser editado também em São Paulo.

Além dos jornais, será disponibilizado o acervo fotográfico de 160 mil imagens e 2.162 ilustrações. Até agora, 83 mil imagens foram tratadas. Além do cotidiano paulista, outra página está sendo desenhada para incluir a Última Hora e a revista Arara, ambos digitalizados.

Da Agência Imprensa Oficial