Alunos mostram que aprenderam a lição sobre a preservação ambiental

Unidades de ensino atendidas pelo programa Mata Atlântica Vai à Escola apresentam medidas sustentáveis

ter, 09/12/2008 - 19h08 | Do Portal do Governo

Um jardim cultivado por crianças, que transformou a aparência de uma escola antes utilizada como “depósito de lixo comunitário”, e um desfile de moda com roupas confeccionadas com material reciclado capaz de inspirar estilistas modernos são alguns dos resultados do programa Mata Atlântica Vai à Escola, desenvolvido pela Fundação SOS Mata Atlântica. Durante todo o ano letivo, professores e alunos da rede pública de ensino receberam orientações sobre preservação ambiental e práticas sustentáveis, como reciclagem de materiais e uso consciente dos recursos naturais. O trabalho, que teve a participação de pais de alunos e moradores das comunidades, resultou em oficinas de reciclagem, exposições de artesanato, peças teatrais, desfiles de moda e, claro, numa nova postura em relação ao ecossistema.

Na EE Antônio Aggio, nas proximidades da Represa de Guarapiranga, zona sul da capital, a vegetação do pátio é aparada religiosamente todos os meses. A diretora, Maria do Céu Bezerra de Góis, diz que gosta do mato bem cortado para ver se há lixo no local. Sua preocupação tem justificativa. Há três anos, a área livre da escola vivia repleta de latas, garrafas e embalagens plásticas vazias, jogadas pelos próprios moradores da região. Para resolver o problema, Maria do Céu teve de percorrer a vizinhança e, de porta em porta, pedir aos moradores um destino correto do lixo.

Educação ambiental – De lá para cá, muita coisa mudou. O matagal ao redor da escola deu lugar a várias árvores, ainda pequenas, mas bem cuidadas. No jardim, crianças cultivam mudas de cedros-rosa, jacarandás e pitangueiras, plantadas por elas mesmas. O prédio é pintado regularmente e até as condições de higiene nos banheiros melhoraram. “Tem sido muito interessante observar a mudança de comportamento deles em relação ao lixo, à economia de água e à limpeza. Procuramos atuar na escola e fora dela, o que tem dado excelentes resultados”, conta a diretora, que tem como colaboradoras várias mães de alunos.

Por meio do Mata Atlântica Vai à Escola, professores e coordenadores de escolas recebem treinamento sobre educação ambiental e material de apoio para trabalhos em sala de aula. Os estabelecimentos de ensino interessados em participar devem fazer pré-inscrição pelo site www.sosma.org.br ou pelos telefones 3055-7888 e 9763-1696. Além de oferecer capacitação, a equipe do SOS Mata Atlântica visita periodicamente a escola para acompanhar as atividades e esclarecer dúvidas. No final do ano, os alunos devem organizar um evento para mostrar os resultados do trabalho desenvolvido em sala de aula e na comunidade.

Alternativas sustentáveis – Neste ano, cinco unidades de ensino foram selecionadas e 20 professores qualificados. Durante o treinamento, foram estimulados a compartilhar os conhecimentos adquiridos com os outros integrantes da comunidade escolar. “Incentivamos os professores a se perguntarem: ‘De que forma eu, como cidadão – e não só como professor –, posso contribuir para a preservação ambiental?’ Não basta mostrar as catástrofes, o caos e a degradação ambiental. É importante apresentar alternativas, meios de melhorar o quadro”, argumenta Beatriz Siqueira, coordenadora do programa. Todos os alunos das escolas atendidas recebem carteirinhas de afiliados da SOS Mata Atlântica, que dão direito a meia-entrada em atividades culturais e de lazer. De acordo com Beatriz, a intenção é ampliar o número de escolas beneficiadas a cada ano. Para 2009, a meta é levar o programa a dez estabelecimentos de ensino.

A diretora da escola, Maria do Céu, diz que ao saber do programa, por meio de outra ação da Fundação SOS na escola, inscreveu-se imediatamente. Formada em Biologia e com mestrado em violência doméstica, acredita que a informação pode ser forte aliada contra a violência em áreas que faltam recursos materiais. “O contexto social em que essas crianças se encontram é bastante delicado. Aqui não há opções de lazer, então é preciso mantê-las na escola o máximo de tempo possível”.

Dia de colher – No dia da apresentação final dos trabalhos desenvolvidos durante o ano, os alunos da Antônio Aggio estavam em festa. As salas de aula deram lugar a oficinas, garrafas PET foram transformadas em puffs, caixas e floreiras, e cascas de frutas viraram ingredientes de bolos e doces. No palco, apresentações de peças teatrais e musicais com mensagens ecológicas.

Para o professor de História Edmundo Souza, o fato de a escola estar situada numa região de mananciais facilita a abordagem do tema. O prédio escolar é circundado por inúmeras casas de ocupação predominantemente irregular. E em alguns locais é possível ler placas com a inscrição: “Não construa em áreas de mananciais”.

“A proibição existe, no entanto, as condições sociais acabam forçando a habitação nesses locais”, explica o professor, que observa em seus alunos grande interesse por melhorias ambientais na região. “O envolvimento dos jovens superou o esperado. Hoje é o dia de colher o que plantamos”, declara.

A professora Roberta dos Santos de Andrade impressiona-se com a motivação de seus alunos da segunda série. Conta que certa vez um grupo de crianças maiores explodiu uma bombinha no jardim, o que derrubou uma das dez árvores plantadas pelos pequenos. Rapidamente, os menores pegaram um cabo de vassoura e amarraram o caule, colocando-o novamente de pé. “Meus alunos têm oito anos e o que me surpreende é a forma como são receptivos e o quanto se preocupam com o futuro”, admira-se.

Práticas responsáveis – Na Escola Municipal Zilka Salaberry de Carvalho, a professora Roselaine Chanes, depois de receber treinamento, resolveu provocar em seus alunos uma reflexão a respeito do descarte correto do lixo e da reciclagem de materiais. Espalhou na escola embalagens vazias, penduradas num varal. O passo seguinte foi juntar o lixo durante vários dias em grandes sacos plásticos (etiquetados com data) e amarrados num poste dentro do prédio escolar. “Essa etapa foi produtiva porque puderam observar a quantidade de lixo que produzem durante um único dia”, explica a educadora. A fase seguinte foi substituir as torneiras velhas por outras com sensores, que controlam a saída da água, e a instalação de recipientes para coleta seletiva de lixo.

Durante todo o processo, Roselaine e seus colegas fixaram pela escola cartazes com as perguntas: “O que essa caixa vazia está fazendo aqui? O que significa esse saco enorme de lixo? Por que nossas torneiras foram trocadas?” As respostas às questões, segundo a professora, não demoraram a vir. Em poucos dias constataram que os alunos do período da manhã eram os que produziam mais lixo. Daí, passaram a cobrar dos colegas atitudes “mais corretas” e até organizaram um concurso de placas informativas para serem fixadas nos banheiros, bebedouros e no pátio.

Ecologicamente correto – Vitor Aquino dos Santos, aluno da quarta série, sabe de cor a lista de ações para evitar a degradação do meio ambiente: “Economizar energia elétrica, reciclar plástico, metal e vidro, não lavar a calçada…” Mas confessa: “Maneirar no banho é o mais difícil, mas estou tentando reduzir o tempo no chuveiro.” James Iopi Arantes completa: “É como no jogo de percurso: se você faz uma coisa boa para o ambiente, você avança várias casas”.

No dia da apresentação final, além das diversas oficinas de trabalhos manuais, os alunos da Zilka Salaberry organizaram criativo desfile de moda ecologicamente correto, com vestidos confeccionados com caixas de leite, jornais e pratinhos descartáveis. Ternos de sacos plásticos e chapéus de caixas de pizza. As fotos do evento e de todas as atividades apresentadas naquele dia têm destino certo: o blog sobre meio ambiente que Roselaine criou exclusivamente para eles. “Essa foi a maneira que encontrei para chegar mais perto deles e deu certo!”, comemora.

Roseane Barreiros – Da Agência Imprensa Oficial