Alunos de piano da USP ensaiam em sala especial

Uso de fones de ouvido especiais permite que a execução de um pianista não prejudique o desempenho dos outros

sex, 21/03/2008 - 17h50 | Do Portal do Governo

O Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP) ganhou, no mês de fevereiro, novo ambiente destinado ao estudo das práticas musicais: a Sala Roland, equipada com oito pianos digitais, que permite a vários alunos tocarem simultaneamente, durante as aulas, sem que a execução de um interfira no desempenho dos demais pianistas. Essa independência se dá graças ao uso de fones de ouvidos especiais, ligados diretamente aos instrumentos. Os ensaios podem ser acompanhados pelo professor, por meio de uma mesa de controle conectada aos aparelhos.

Resultado de parceria entre o Departamento de Música e a empresa japonesa de instrumentos musicais Roland, a sala vem sanar antiga carência dos alunos, especialmente quanto ao espaço físico e disponibilidade de pianos em condições adequadas. Segundo o coordenador do Departamento de Música de Câmara, um dos responsáveis pela criação da sala, Michael Alpert, as principais vantagens são a economia de salas e a possibilidade de vários alunos poderem estudar ao mesmo tempo. “Antes, tínhamos poucos pianos que funcionavam e, mesmo assim, não podiam ser transportados durante nossos concertos, que, a partir de agora, passam a contar com o som dos pianos digitais”.

 

Afinação e sensação tátil – Diferentemente dos acústicos, os digitais não utilizam cordas, são muito mais leves (pesam aproximadamente 70 quilos) e prescindem do trabalho do afinador, mesmo depois de serem deslocados. Apresentam diversos recursos, como metrônomo e ajuste de volume, o que dispensa o uso de microfones para a amplificação do som. Reproduzem sons de órgão, cordas e voz e possuem gravador que permite ao pianista escutar o que cada uma das mãos toca separadamente. Quando acoplados a um computador equipado com programa de música, podem gerar partituras diretamente no piano, e as execuções podem ser gravadas em CD.

Os instrumentos não têm molas, mas sim martelos, exatamente como o piano convencional. Os teclados oferecem a mesma sensação tátil ao serem tocados. Essa foi, segundo o coordenador de produtos da Roland, Amador Rubio, uma das exigências da comissão de professores da USP, cujos integrantes foram ao show room escolher o modelo. “Um pianista habituado com o equipamento acústico não vai sentir diferença ao tocar estes”, avalia Alpert.

 

Intimidade – Para Marcio Ocon, aluno de licenciatura do Departamento de Música, uma das principais vantagens do piano digital é a economia de espaço, já que uma escola de música, geralmente, precisa de uma área relativamente grande de ambientes com isolamento acústico.

Outro ponto a favor, segundo ele, é a possibilidade de utilizar um instrumento com a certeza de que ele estará afinado, condição fundamental para o estudo de percepção musical. “Você pode ir lá e tocar todos os dias, com a convicção de que vai soar a mesma nota sempre que você apertar determinada tecla”, justifica.

Para o desenvolvimento do aluno, no entanto, Ocon acredita que a principal vantagem da Sala Roland é a intimidade proporcionada pelos fones de ouvido. O fato de poder se exercitar sem que ninguém esteja ouvindo é, de acordo com ele, um recurso interessante, em caso de o pianista cometer algum erro. “O aprendizado de um músico, seu estudo, é algo íntimo, um momento em que ele está lá, lapidando o trabalho. A excelência só vem com o tempo”.

Mobilidade – A parceria entre a USP e a Roland surgiu da dificuldade de realizar apresentações fora das dependências do câmpus, em locais onde não há pianos. Com o aumento do número de eventos, a necessidade de um instrumento fácil de ser transportado tornou-se premente. O chefe do Departamento de Música, professor Gil Jardim, entrou, então, em contato com um ex-aluno, formado na década de 1980, o qual é presidente da Roland no Brasil, Takao Shirahata, e solicitou um instrumento digital. A resposta foi um modelo RD-700 SX, posteriormente doado ao departamento.

Para Rubio, a sociedade com a universidade rompe o paradigma de que o órgão digital não serve para uso profissional. “O mote é: se a USP usa para formar seus músicos, então o instrumento é bom.” O professor Alpert concorda ao afirmar que qualquer faculdade que ensine música pode desenvolver um espaço semelhante à Sala Roland. “A USP é digna da Roland, e é importante que isso seja divulgado”.

Roseane Barreiros

Da Agência Imprensa Oficial