Aluna do Ipen ganha prêmio Jovem Cientista pesquisando casca de banana

Projeto de mestrado de Milena Boniolo concorreu com outros 267 trabalhos

qui, 24/05/2007 - 9h30 | Do Portal do Governo

Uma pesquisa simples, realizada com pouco investimento, ganhou o primeiro lugar no 22º Prêmio Jovem Cientista (na categoria graduados), um dos mais importantes da área de ciência e tecnologia do País. A premiação foi entregue no dia 15, em Brasília. O trabalho, intitulado Uso da Casca de Banana para Tratamento de Efluentes Radioativos, faz parte do projeto de mestrado de Milena Rodrigues Boniolo. Seu desenvolvimento se deu no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), vinculado à Secretaria de Desenvolvimento do Estado, gerido pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), do governo federal.

Gestão Sustentável da Biodiversidade: Desafio do Milênio foi o tema deste ano da categoria graduados. A pesquisadora do Ipen concorreu com outros 267 trabalhos. O Prêmio Jovem Cientista também contempla as categorias Estudante de Ensino Superior, Mérito Institucional e Estudante do Ensino Médio. A premiação é uma iniciativa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Grupo Gerdau, Eletrobrás-Procel e Fundação Roberto Marinho.

O estudo desenvolvido por Milena integra a linha de pesquisa que utiliza biomassa residual para tratamento de efluentes contaminados. A idéia de utilizar a casca de banana para remover poluentes partiu da própria pesquisadora. As cascas são cortadas em pedaços pequenos e secas, sob ação do sol. O material é moído num processador de alimentos e separado utilizando-se peneiras granulométricas, de diferentes tamanhos. O pó obtido é colocado em soluções aquosas contendo íons de urânio.

Durante 40 minutos, a solução é submetida à agitação em temperatura ambiente, entre 23 e 27 graus Celsius. Com isso, o pó de banana com os metais vai para o fundo, deixando determinada quantidade de água limpa na parte superior do recipiente. A seguir, essa água é removida com o auxílio de uma seringa e analisada. Resultado: 65% dos íons contidos na solução aquosa agora estão aderidos às partículas da casca de banana. Essa atração se dá em razão das cargas opostas dos íons e partículas de casca de banana.

Para separar íons e partículas novamente, a pesquisadora utiliza um ácido. Com isso, os íons podem ser reaproveitados num processo industrial. Já as partículas de banana – que foram molhadas ao serem mergulhadas na solução – podem ser secas, sendo utilizadas como adubo (rico em potássio) ou incineradas. Milena explica que o gás carbônico (CO2) liberado na queima desse material não vai contribuir para o efeito estufa. “A quantidade de gás carbônico liberado é praticamente a mesma que a bananeira absorve quando realiza a fotossíntese, no seu desenvolvimento.”

Baixo custo – O processo apresenta baixo custo e utiliza matéria natural, abundante e biodegradável, explica a pesquisadora. A técnica pode ser repetida, inclusive, para porcentuais maiores de remoção dos íons. “Estamos reduzindo o impacto ambiental duplamente, porque o que seria desperdiçado passa a ser utilizado de forma nobre.”

O Brasil é um dos maiores produtores e consumidores mundiais de banana, com seis milhões de toneladas de produção anual. Além das perdas agrícolas, que comprometem de 20% a 40% da produção, ocorrem perdas igualmente nas etapas de transporte e comercialização, estimadas em cerca de 40%.

Na produção de fertilizantes, essenciais à agricultura, por exemplo, são gerados subprodutos contendo urânio e tório. Efluentes contendo outros metais pesados também podem ser tratados pelo processo. Para a orientadora do trabalho, Mitiko Yamaura, estudante de várias biomassas (fibras de coco e bagaço de cana-de-açúcar, entre outros) para tratamento de efluentes contaminados, o baixo custo do projeto e a sustentabilidade são os méritos da pesquisa.

Formada em química, em 2004, pelas Faculdades Oswaldo Cruz, em São Paulo, Milena ingressou no programa de pós-graduação em Tecnologia Nuclear do Ipen em março de 2005. Sua dissertação de mestrado deve ser defendida no primeiro semestre de 2008. Para o doutorado, pretende enveredar pela mesma linha de pesquisa em escala industrial. A idéia é, a partir da casca de banana, desenvolver um filtro para reter poluentes metálicos presentes em efluentes industriais.

Paulo Henrique Andrade

Da Agência Imprensa Oficial

(J.H.)